terça-feira, 1 de março de 2011

José Dirceu e seu velho espeto de pau

Que José Dirceu é cara de pau todo mundo sabe. O deputado cassado e ex-ministro de Lula é osso duro de roer mesmo numa área como a política onde óleo de peroba não é usado em móveis. É para a maquiagem.

Num seminário de economistas em São Paulo ele disse que "sem gestores altamente qualificados o país terá problemas para ser governado". Bem, que Dirceu seja levado à sério hoje em dia mesmo depois de tudo o que aprontou, é um sintoma da queda moral do país, queda que contou com um belo empurrão do governo que ele ajudou a montar e do qual participou publicamente por um breve período, até ser obrigado a pedir demissão com o escândalo do mensalão, a compra de votos de deputados feita pelo governo.

Mas fiquemos na grande dica desse político que a Procuradoria Geral da República define no inquérito do mensalão como "chefe de quadrilha": ele diz que não podem faltar "gestores altamente qualificados", senão o país terá problemas para ser governado.

Coisas assim deixam a gente em dúvida se ligamos a máquina de risadas ou a de espanto. Pode ser o caso de ligar as duas juntas. Eu imagino que só por uma sacada dessas já deve ter valido a pena assistir a palestra dessa sumidade em gestão. Mas, também, um grupo de economistas que aceita receber lições de alguém como o ex-capitão do Lula está mesmo querendo um espeto de pau num churrasco de ferreiros.

Dirceu fala da falta de gestores e não é uma autocrítica pela equipe de segunda categoria apresentada pela presidente eleita pelo seu partido, o PT. Tampouco é uma confissão de culpa pelo estado em que está o Brasil, onde faltam não só "gestores altamente qualificados". Faltam profissionais de todo o tipo em áreas essenciais. São constantes as notícias da falta de trabalhadores, qualificados ou não, nos mais diversos setores.

É claro que a revelação desse tipo de carência nunca vem pelo governo, que age só pela propaganda e prega um otimismo inconsequente quando deveria se pautar por um realismo bastante crítico até porque, além do Brasil estar bastante atrasado em muita coisa importante, hoje temos também problemas planetários graves que exige uma postura mais equilibrada de qualquer governante.

As informações vêm sempre pela imprensa e em todos os casos especialistas fazem diagnósticos altamente preocupantes sobre a falta de gente em setores fundamentais como a Educação, a Aviação Civil e também na área de tecnologia de informação, só para citar três casos de carência de mão de obra que puxam o país para trás. Mesmo em coisas propagandeadas pelo governo como a salvação da Pátria, como é o caso do Pré-Sal, as projeções futuras sempre batem em problemas graves de mão de obra qualificada e de infraestrutura.

O apagão de mão de obra especializada é geral, mas hoje em dia é difícil encontrar até profissionais de menor qualificação, como um trabalhador para consertar um muro, fazer uma calçada, consertar um encanamento ou para qualquer outro serviço residencial. Qualificado mesmo, não está fácil encontrar nem jornalista.

Na ponta do problema e como causa determinante desse apagão está a falta de bons gestores públicos, sejam os eleitos pelo voto ou mesmo o corpo técnico de funcionários que entram no serviço público por concurso.

A culpa desse desastre é do governo no qual José Dirceu foi servidor de primeira hora, primeiro publicamente e agora atuando nos bastidores da política. O próprio Dirceu não é exatamente uma pessoa qualificada para falar de gestão. A Casa Civil tem como atribuição a assistência e assessoramento direto e imediato ao Presidente da República no desempenho de suas atribuições, em especial nos assuntos relacionados com a coordenação e na integração das ações do Governo. É o que está descrito no próprio site do Governo Federal.

Em teoria pelo menos a Casa Civil é essencial para a gestão. Mas, ao contrário disso, enquanto esteve à frente do órgão federal, Dirceu só fez política e nem isso fez direito porque a razão de sua cassação por falta de decoro e da sua queda do ministério foi exatamente sua incompetência de gestão política. O trabalho de Dirceu foi tão ruim que, no final, Lula só não caiu porque a oposição também teve uma gestão incompetente.

Enquanto montava a quadrilha com vistas a perpetuar no poder o PT, conforme diz a Procuradoria Geral, Dirceu não levou o presidente a zelar pela infraestrutura, pela construção de um futuro bem planejado aonde chegássemos bem capacitados. Nada de gestão. Quer dizer, procurava garantir votos no Congresso, mas da gestão mesmo cuidava bem pouco, quase nada. Tudo quanto era projeto que chegava ao seu ministério lá ficava empacado.

Com este estilo, a Casa Civil seguiu para um destino que acabou dando na Dilma Rousseff e sua incapacidade ranzinza e na amiga do peito Erenice. Aos atropelos, o governo foi conduzindo a administração pública de forma marqueteira e aberta às obras contempladoras do interesse de banqueiros e de grandes empreiteiros, visando mais a ampliação de caixas particulares (inclusive o 2) do que a função desses empreendimentos na qualidade de vida da população.


O mau exemplo que veio de cima
No entremeio disso, o então presidente Lula foi atropelando regras morais básicas e até mesmo jurídicas, desfazendo do respeito ao meio ambiente e do planejamento, num discurso onde a ética e o respeito ao bem comum eram menosprezados, inclusive com ironias pesadas que desrespeitavam o saber técnico e as diferenças políticas.

Até regras já bem definidas foram desfeitas por Lula, como no caso da telefonia, quando um decreto do presidente facilitou uma negociação entre duas grandes empresas que acabou criando um grande monopólio no setor, um ato onde se suspeita até de favorecimento de sua família com um ganho de milhões de reais.

Outro grande problema é que esta afoiteza de Lula, seu respeito por regras simples de administração e o descaso por qualquer tipo de regulação, até de órgãos mais básicos, como o TCU, toda essa retórica de desrespeito acabou se espalhando pelo país afora. A administração pública no Brasil acabou sendo contaminada de cima pra baixo pelo discurso maroto que pregava o atropelo às leis e taxava como estorvo à governabilidade o controle de gastos e as exigências legais.

Da Presidência da República saiu o grito de liberou geral para o prefeitinho ladrão do interior, o vereador patife, as ONGs e para os governadores, deputados e, claro, também para os nossos senadores. Isso sem falar nos ministros, esses, é claro, bem-vindos mesmo quando são flagrados usando dinheiro público para pagar motel. Ou para comprar tapioca.

É claro que não é nada bom o estado atual da gestão em qualquer área no Brasil, inclusive na iniciativa privada, hoje com dependência excessiva do Estado, como bem sabe o lobista Dirceu. E o futuro é pior. E ninguém precisa de nenhum petista para vir falar desse assunto, muito menos um dirigente como Dirceu, totalmente envolvido nos mecanismos que levaram a esse caminho que parece seguir para o colapso.

Vivemos num país com problemas graves de infraestrutura, onde nem avião decola mais no horário certo e onde tampouco existe a certeza de que teremos pilotos para os próximos vôos. A infraestrutura em vários setores beira o desastre. E não sairemos dessa situação de forma alguma enquanto gente como José Dirceu for levada a sério.
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POR José Pires

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