sábado, 12 de março de 2011

Navegando pelo terremoto do Japão e de olho na internet

Se você busca imagens que revelem como ficou o Japão depois da catástrofe, não ficará satisfeito na internet brasileira. Em outros assuntos também é assim, mas num caso desses a ineficiência pesa mais. Nossos sites costumam trabalhar pouco com fotografia. E penso até que, quando são forçados a publicar mais imagens, este recurso não é aproveitado de forma eficiente.

E isso com a maioria desses sites sendo tocados por empresas com origem no jornalismo impresso. Ou talvez seja por isso mesmo. Os jornais brasileiros colocam na internet a culpa por seus dissabores econômicos, mas a verdade é que a decadência vem de antes da existência dessa nova tecnologia.

Vem de longe a queda em número de leitores, mas principalmente de qualidade e prestígio. E nisso influíram muito os interesses internos das empresas, que esqueceram ou até desprezaram o essencial investimento em recursos humanos para fazer bons jornais, revistas e, como ocorre agora, os sites. Para fazer qualquer coisa boa é preciso ousadia e criatividade, mas hoje se permite liberdade profissional nas redações brasileiras? Não parece.

Como eu disse, já era assim nas redações dos jornais impressos. E isso passou para a internet. Daí o panorama atual da internet brasileira, na qual falta profundidade, e onde raramente surge uma boa surpresa editorial. Raramente? Eu tenho a impressão de que nunca tem. Há quanto tempo você não se depara com algo realmente bom na internet brasileira?

Cuidado. Internet virou rotina. E, pior ainda, uma rotina de superficialidade, de coisas que parecem ter sido feitas na correria. Quando a revista Caras surgiu no Brasil, ela era uma publicação ridicularizada nas redações. Hoje, o estilo se impôs. A fofoca e a superficialidade dão o tom e o banal é apresentado como se fosse especial. O defeito virou prática.

Então, quando acontece algo como o terremoto do Japão, ai do internauta brasileiro se ele quiser ver fotos de qualidade feitas no local. E acontecimentos desse tipo exigem boas fotografias, um recurso de tal forma revelador que pode até liberar as redações para seguir caminhos editoriais mais criativos. Ah, mas tem que contratar fotógrafo, é isso? E teria de ser bons fotógrafos e não qualquer boboca com equipamento digital na mão atuando como paparazzo? É, parece complicado.


Com o papiro de volta
Mas voltando à superficialidade disseminada na internet brasileira, aqui temos também um problema de técnica editorial, uma concepção equivocada de que as pessoas querem ver algo parecido com televisão na tela do computador. Bem, posso até estar em minoria nessa discussão, mas para mim a internet tem mais a ver com a página impressa do que com imagens animadas.

E os tais dos "infográficos"? Esta é uma boa intenção que deveria estar no inferno. Teve uma vez que corri para um site para ver a lista dos réus do mensalão. Ora, é bem fácil. É só colocar um patife atrás do outro que o internauta pode ir descendo a página e se informando. Mas não fizeram isso. Bati a cara num infográfico onde deveria clicar em um réu de cada vez. E como os pilantras são quarenta... Nossos sites confundem ler com LER.

Costumo dizer até que a técnica de visualização da internet é pré-Gutenberg, porque o que temos à nossa frente é um papiro que vai se desenrolando. E não há nenhum mal nisso. Eu acho até bom. E é muito mais prático que ficar esperando fotos pequenininhas acenderem na tela. Ou clicar em quarenta vezes em meliantes disfarçados de políticos.

Os sites brasileiros um dia chegam lá. Mas é preciso antes reaprender com as técnicas do jornalismo impresso, todas prontas para botar na internet. O papiro é de um pouco antes.

Na apresentação de imagens, vários sites brasileiros optam pela apresentação de slides, com fotos pequeninas que muitas vezes exigem que o leitor clique uma por uma. Ora, temos aí algo que já era chato muito antes da internet, porque encher a paciência das pessoas com slides já é coisa antiga.

Mas, para não dizerem que só critico essa brava gente brasileira, temos aqui no Brasil o site do Estadão como uma boa exceção. Para imagens usam o velho papiro. Já a equipe novidadeira da Folha de S. Paulo vai de slide. Praticamente todos os sites brasileiros seguem esta forma.

Mas vamos ver imagens boas dos acontecimentos no Japão. Selecionei dois lugares estrangeiros muito bons para isso. O Denverpost, onde você entra por aqui. E o The Atlantic, para se vai por aqui. A imagem acima é de lá. Ah, e tem também o brasileiro Estadão, que é por aqui. Você vai desenrolando o papiro e se informando.

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POR José Pires

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