segunda-feira, 14 de março de 2011

Para que energia atômica? Vamos ficar só com os problemas que já temos

Não é preciso acontecer no Brasil nada parecido com a tragédia que abalou o Japão para que tenhamos a experiência de ver o atrapalho das nossas autoridades em qualquer situação de emergência. As explosões na central nuclear de Fukushima já está fazendo países ricos como a Suuição e Alemanha repensarem sua política nuclear. E nós, com as centrais de Angra e o histórico brasileiro de incapacidade de lidar com os problema que já temos? Bem, como já disse aqui, e nossas autoridades já são incompetentes no ordinário, que dirá no extraordinário...

Nem precisamos de problemas com usinas atômicas para saber o que é uma tragédia. Mas temos usinas atômicas também. Seria melhor tentarmos para os problemas que já são nossos e pensar seriamente em evitar novas complicações muito mais difíceis de resolver.

Basta uma chuva para o mundo cair por aqui. Agora mesmo, no Paraná, a cidade de Morretes está totalmente alagada, com oito mil pessoas expulsas de sua casa pela fúria da natureza. É mais da metade da população, hoje de 15 mil habitantes. É a natureza, mas com uma fúria que contou com a ajuda de políticos, de empreiteiros e do descaso com a prevenção. E Morretes fica praticamente ao lado da capital paranaense, que foi até alguns anos atrás um símbolo brasileiro de qualidade de vida.

Numa matéria do site G1 saiu uma interessante explicação do Capitão da Defesa Civil do Paraná sobre o que representa o estado de calamidade pública decretado em Morretes: “impossibilidade de o município reorganizar e administrar sozinho as estruturas” da cidade atingida por algum desastre. “É como um pedido de ajuda ao Estado”.

É claro que o Estado deveria ajudar antes, ou melhor, cumprir com suas obrigações para evitar o desastre, não é mesmo? Mas quem está a salvo hoje com os administradores públicos que temos? Até recentemente, o pessoal mais privilegiado, que observa as ruas de dentro de carros refrigerados e com vidro fumê, pensava que o drama não era com eles. Mas a tragédia recente no Rio não selecionou apenas os pobres que moram sempre mal. Condomínios e casas de alto luxo foram atingidos. Famílias muito ricas sofreram perdas terríveis.

Parece um recado dos céus, um grito até, avisando que somos todos iguais. Mas quem ouve uma coisa dessas no Brasil? Deveriamos ver também que não existe capacidade de se isolar dos problemas que afetam o bem comum. A tragédia no Rio ou em Morretes, ou qualquer outro lugar, pode ter sua causa fora das imediações. Um rio que avança sobre casas pode ter tido seu curso deformado muito longe. Em muitos casos o problema começa às margens do Lago Paranoá, em Brasília.

As cidades brasileiras podem até aparentar uma situação de anormalidade, se ficarmos apenas com a visão superficial das aparências, dos melhores lugares dos municípios, que pode ser até o nosso bairro. Que bacana a Avenida Paulista, em São Paulo, ou mesmo a Faria Lima, quanto poder e elegância, não é mesmo, ô meu? Porém, numa chuva dessas, numa passada em um bairro da periferia é que dá para ver a situação real das cidades brasileiras. Basta um chuvisco para a vida virar um inferno, a começar do transporte público.

As enchentes e deslizamentos ocorridos no Rio de Janeiro em fevereiro mostraram bem o que pode se esperar de governos do município, do estado ou do federal. A presidente Dilma Rousseff passou pela região atingida, onde morreram mais de mil pessoas, sem falar nos feridos, e depois foi de helicóptero para a capital posar sorrindo ao lado do governador segurando uma camisa do Fluminense.

É um símbolo da atuação casada dos nossos políticos. Mas como é que estão as pessoas atingidas hoje? Duvido que esteja havendo algum atendimento sério às suas dificuldades e duvido mais ainda que estejam sendo colocadas em prática para evitar adiante o mesmo problema. E nunca vamos saber como estão as coisas por lá, pelo menos até que outro desastre aconteça. Nossa imprensa também atua de forma circunstancial.

Mas os problemas vão pipocando, daqui pra lá, mudando apenas de lugar no conjunto desse grande drama das cidades brasileiras.
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POR José Pires

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