quarta-feira, 10 de junho de 2009

Dinheiro público saindo pelas cuias

Mas se o Maranhão é tomado como propriedade pelos Sarney, não é diferente o que eles fazem com o Brasil. É certo que em razão do maior conflito de interesses no plano nacional, cabe ao clã maranhense apenas parte do espólio que a classe política conquista na guerra permanente aos brasileiros.

Nem é uma porção tão grande assim. Sarney se contenta com privilégios de bastidores. Sabendo que sua liderança não tem alcance nacional, construiu uma rede obscura de pequenos e grandes proveitos pagos pelo dinheiro público.

O Congresso Nacional é onde essa rede tem a amarração mais forte, envolvendo depois todo o poder executivo, inclusive estatais. Em cada escândalo revelado no legislativo nota-se uma ligação com o modelo de administração imposto por Sarney desde que foi presidente da República e depois nas suas passagens pela presidência do Senado. É dali que sai sua força política. Nas costuras internas na Câmara e no Senado — sempre em conluio com o governo, qualquer um deles — ele obtém até serviços pessoais ou eleitorais, como foi descoberto recentemente, com a revelação da alta funcionária do Senado que trabalhava para ele também em campanhas eleitorais no Amapá.

Agora, com a descoberta dos mais de 300 atos secretos no Senado para criar cargos ou vantagens absurdas como a que estende assistência vitalícia odontológica e psicológica a marido ou mulher de ex-parlamentares, eis que surge mais um Sarney, desta vez um neto do senador.

João Fernando Michels Gonçalves Sarney tem apenas 22 anos e ainda nem se formou na universidade particular onde estuda e já tinha um alto cargo. Sua presença por quase dois anos nos quadros do Senado, com salário mensal de R$ 7,6 mil, só se tornou conhecida com a revelação dos atos secretos.

O tempo acabou dando uma irônica função simbólica para a arquitetura criada por Oscar Niemeyer para o Congresso Nacional. Quando olho aquelas duas cuias, vejo sempre naquela em pé o dinheiro público entrando e na cuia emborcada o mesmo dinheiro saindo para os bolsos dos políticos brasileiros e seus apaniguados.
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POR José Pires

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