sexta-feira, 26 de junho de 2009

Um país cercado

Estão chaveando tudo no Brasil. Parques, praças, instituições públicas, tudo está sendo cercado por grades. É uma política bem brasileira: quando julgam que algum local se torna inseguro, em vez da autoridade enfrentar o problema simplesmente passam grades em volta, chaveiam o portão, e está resolvido.

Dersse modo, no período noturno fica vedado o acesso da população — que o recurso dá a entender ser o problema. E durante o dia os passeios são feitos entre grades. Só falta a placa nas entradas: “Cuidado: Gente”.

Não é a melhor solução. Aliás, nem é solução, sendo apenas um arremedo próprio de um país que optou por conviver com seus problemas, muitos deles tão graves que trazem estampados a face do horror, como se fossem condição natural da raça humana.

Também não é nenhuma novidade. No início da década de 80 já comecei a notar as igrejas de São Paulo fechando suas entradas com altos portões de ferro e cercando todo o templo com grades também muito altas. Em algumas casas e prédios isso já vinha sendo feito, mas o fecho simbólico foi mesmo dado pelas igrejas.

Era uma variante do hábito de varrer a poeira para debaixo do tapete. Começavam então a cercar o problema. E o artifício tomou conta do país, de modo que já vi casas cercadas de grades até em cidades muito pequenas, dessas em que existem poucos crimes maiores que o roubo de galinha.

Aquelas cercas de ferro em volta das igrejas de São Paulo foram o começo. Ali, percebi que o Brasil havia tomado um rumo que nada tinha a ver com o bem comum.
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POR José Pires

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