terça-feira, 2 de junho de 2009

Lula lá no alto

Lula está nas alturas em pesquisas de popularidade. E leitores me telefonam perguntando sobre a minha opinião. Claro que antes de leitores são amigos meus, gente que me conhece razoavelmente bem para saber que não gosto da popularidade do Lula. Por isso mesmo, a pergunta também tem um pouco provocação, é claro.

Mas vamos lá. Não dou um peixe podre por pesquisa no Brasil. A da CNT/Census não tem valor algum para mim. Não serve nem para embrulhar o citado peixe podre. A CNT da sigla é a Confederação Nacional do Transporte, entidade corporativa muito poderosa e com laços fortes com o poder federal, qualquer que seja o partido que estiver no poder. O orçamento da CNT é impressionante. É maior que o orçamento de 16 dos 26 estados brasileiros.

Seu presidente há muitos anos é Clésio Andrade, um dos maiorais do PTB. Ele já foi deputado federal da base de Lula, mas, bem, seu PTB sempre está na base de qualquer governo. O presidente nacional da sigla, não devemos esquecer, é Roberto Jefferson, o que denunciou o mensalão e hoje parece já ter feito as pazes com o governo petista. Clésio Andrade foi vice-governador de Minas Gerais na primeira gestão de Aécio Neves, hoje senador e liderança nacional do PSDB. Bem, foi com o tucano Azeredo que o publicitário e homem de negócios Marcos Valério deu início ao mensalão.

O presidente da CNT foi denunciado pelo Ministério Público junto com mais 14 pessoas, todos acusados de participar de um esquema de desvio de recursos públicos do estado de Minas Gerais, no caso que ficou conhecido como "Mensalão mineiro". O mensalão começou, em 1998, na campanha eleitoral do governador tucano Eduardo Azeredo. A lembrança de Azeredo aqui, aliás, dá substância ao que penso sobre a real popularidade de Lula. De forma negativa, claro, na construção de uma situação sem valores comparativos na oposição, o que acaba dando um suporte importante a esta popularidade.

Ali, segundo a ação da Procuradoria-Geral da República, é que foi montado primeiramente o esquema ligado à agência de publicidade de Marcos Valério, então chamada de SMP&B Comunicação e que depois passaria a se chamar DNA Propaganda, como ficou conhecida no mensalão do governo Lula. Na ação o procurador-geral da República define a atuação de Clésio Andrade assim: "Em outras palavras, Clésio Andrade ofereceu os serviços delituosos de sua estrutura empresarial para a prática dos crimes de peculato, bem como de lavagem de capitais".

A denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, junta, entre outros, Clésio Andrade, o senador Azeredo e Walfrido dos Mares Guia, que foi vice-governador na chapa de Azeredo. Hoje Mares Guia é ministro das Relações Institucionais. Está com Lula desde o primeiro mandato.

Vejam a ciranda de nomes que vão dar em Lula e seus esquemas de manutenção de poder. Ministros, o ex-governador do PSDB e atual senador e também seu vice, todos em um sólido círculo de cumplicidade. Assim, Lula só pode subir nas pesquisas. Azeredo era, inclusive, o presidente nacional do PSDB quando foi descoberto o esquema do mensalão. Dá para entender que os tucanos não tenham ido a fundo na denúncia.

Andrade é também citado na ação da Procuradoria-Geral da República sobre o mensalão que está em andamento no STF. No documento ele é citado como “padrinho” (aspas do procurador) e mentor de Marcos Valério, de quem foi sócio na famosa DNA Propaganda.

Mas mesmo tirando todas as implicações políticas do presidente da CNT, Clésio Andrade, não confiaria em uma pesquisa que tem por detrás uma entidade corporativa.

Você confiaria numa pesquisa de popularidade de Lula ou de qualquer presidente patrocinada pela CUT ou pela Força Sindical? Eu não. Então, pesquisa da CNT, nem pensar.
......................
POR José Pires

Nenhum comentário: