Não sei se é por influência do Senado, instituição de tal peso que é bem capaz de mexer com coisas que a gente nem espera, mas esta semana o Festival de Cinema de Gramado também resolveu dar um espetáculo lamentável.
A apresentadora Xuxa foi homenageada, com placa e tudo. É bem estranho, pois Xuxa não é atriz, tampouco diretora. A razão da homenagem até poderia ser pelo fato de ela ter ganho muito dinheiro com cinema , mas indo por aí logo mais dono de rede exibidora também poderá ser fotografado abraçado ao Kikito, o troféu do festival.
Porém, além de sua notória falta de mérito, outra questão torna ainda mais imprópria a homenagem à Xuxa. Sua história traz uma mancha que deveria envergonhar quem teve a idéia dessa estranha homenagem. É um caso de censura ao cinema brasileiro. Por meio de uma ação judicial ela conseguiu impedir a circulação de "Amor, Estranho Amor", de Walter Hugo Khouri, morto em 2003. O filme é de 1983. Nele, Xuxa seduz uma criança, um garoto que mora na casa onde ela é oferecida nua em festa de marmanjos. Ela interpreta uma garota de programa e nesta festa sua virgindade é leiloada entre os presentes.
Qualquer atriz em começo de carreira serviria para o papel. E dificilmente faria pior que Xuxa, que é ruim de doer. Vá saber o que deu na cabeça de Walter Hugo Khouri para ele escolher logo Xuxa para o papel. Ninguém sabe como o diretor se convenceu disso, mas o tempo provou que foi uma besteira. Primeiro, porque foi bem ruim sua, na falta de outra palavra, atuação. E depois pelo imprevisto dela tornar-se famosa e muito rica.
Preocupada com o efeito que o papel que interpretou no filmr poderia ter em sua carreira de apresentadora de programas infantis, ela impediu sua cirulação. Mas ele pode ser comprado pela internet em sites do exterior. É que a produtora norte-americana não aceitou vender os direitos para a apresentadora. Xuxa entrou com uma ação judicial também nos Estados Unidos, mas perdeu.
O curioso é que o implicância de Xuxa acabou atraindo uma atenção despropositada para "Amor, Estranho Amor". Existe até os que acham — e não são poucos — que é um filme pornô. Esses, vão quebrar a cara. A obra de Khouri apenas insinua situações. O cineasta é tido como um autor na linha de Ingmar Bergman e não foi, de modo algum, um fazedor de pornochanchadas. Além disso, Xuxa faz praticamente uma figuração. Seu papel não é de destaque, a não ser como chamariz no cartaz que anunciava o filme antes dele ser retirado de circulação com sua ação judicial.
Como é que alguém pode achar que merece homenagem em um festival de cinema uma pessoa que usa seu poder financeiro para proibir um filme? Os responsáveis pelo Festival de Gramado acham.
Isso pode ser tomado como mais um sintoma do nivelamento por baixo que tomou conta do país. Um equivalente a isso na política seria gente como Fernando Collor, Renan Calheiros ou o próprio Sarney ter poder de decisão sobre um Conselho de Ética. E não é que eles têm?
Mas decisão da impressionante homenagem pode também ter sido tomada levando em conta aquela singular definição da situação do senador José Sarney feita por seu amigo Lula. A de que ele, Sarney, não é uma pessoa comum. Talvez o pessoal de Gramado ache que Xuxa não é uma pessoa comum. Neste caso, até um ato de censura passsa a ser algo irrelevante. Se for assim, que no ano que vem não façam em Gramado o festival de cinema. O Show da Xuxa é bem mais apropriado para este modo de pensar.
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POR José Pires
A apresentadora Xuxa foi homenageada, com placa e tudo. É bem estranho, pois Xuxa não é atriz, tampouco diretora. A razão da homenagem até poderia ser pelo fato de ela ter ganho muito dinheiro com cinema , mas indo por aí logo mais dono de rede exibidora também poderá ser fotografado abraçado ao Kikito, o troféu do festival.
Porém, além de sua notória falta de mérito, outra questão torna ainda mais imprópria a homenagem à Xuxa. Sua história traz uma mancha que deveria envergonhar quem teve a idéia dessa estranha homenagem. É um caso de censura ao cinema brasileiro. Por meio de uma ação judicial ela conseguiu impedir a circulação de "Amor, Estranho Amor", de Walter Hugo Khouri, morto em 2003. O filme é de 1983. Nele, Xuxa seduz uma criança, um garoto que mora na casa onde ela é oferecida nua em festa de marmanjos. Ela interpreta uma garota de programa e nesta festa sua virgindade é leiloada entre os presentes.
Qualquer atriz em começo de carreira serviria para o papel. E dificilmente faria pior que Xuxa, que é ruim de doer. Vá saber o que deu na cabeça de Walter Hugo Khouri para ele escolher logo Xuxa para o papel. Ninguém sabe como o diretor se convenceu disso, mas o tempo provou que foi uma besteira. Primeiro, porque foi bem ruim sua, na falta de outra palavra, atuação. E depois pelo imprevisto dela tornar-se famosa e muito rica.
Preocupada com o efeito que o papel que interpretou no filmr poderia ter em sua carreira de apresentadora de programas infantis, ela impediu sua cirulação. Mas ele pode ser comprado pela internet em sites do exterior. É que a produtora norte-americana não aceitou vender os direitos para a apresentadora. Xuxa entrou com uma ação judicial também nos Estados Unidos, mas perdeu.
O curioso é que o implicância de Xuxa acabou atraindo uma atenção despropositada para "Amor, Estranho Amor". Existe até os que acham — e não são poucos — que é um filme pornô. Esses, vão quebrar a cara. A obra de Khouri apenas insinua situações. O cineasta é tido como um autor na linha de Ingmar Bergman e não foi, de modo algum, um fazedor de pornochanchadas. Além disso, Xuxa faz praticamente uma figuração. Seu papel não é de destaque, a não ser como chamariz no cartaz que anunciava o filme antes dele ser retirado de circulação com sua ação judicial.
Como é que alguém pode achar que merece homenagem em um festival de cinema uma pessoa que usa seu poder financeiro para proibir um filme? Os responsáveis pelo Festival de Gramado acham.
Isso pode ser tomado como mais um sintoma do nivelamento por baixo que tomou conta do país. Um equivalente a isso na política seria gente como Fernando Collor, Renan Calheiros ou o próprio Sarney ter poder de decisão sobre um Conselho de Ética. E não é que eles têm?
Mas decisão da impressionante homenagem pode também ter sido tomada levando em conta aquela singular definição da situação do senador José Sarney feita por seu amigo Lula. A de que ele, Sarney, não é uma pessoa comum. Talvez o pessoal de Gramado ache que Xuxa não é uma pessoa comum. Neste caso, até um ato de censura passsa a ser algo irrelevante. Se for assim, que no ano que vem não façam em Gramado o festival de cinema. O Show da Xuxa é bem mais apropriado para este modo de pensar.
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POR José Pires
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