sábado, 29 de agosto de 2009

Os bigodes da hora

Bomba! Bomba! Acabou de surgir uma foto provando que o presidente do Senado, José Sarney, e o cantor Belchior estiveram juntos em fevereiro deste ano. O rapaz latinoamericano sem dinheiro no banco e sem parentes importantes e o senador maranhense eleito pelo Amapá, com bastante dinheiro no banco e muitos parentes em cargos importantes se encontraram em um evento na OAB de Brasília. A foto foi tirada por Eugenio Moraes.

Veja o flagrante dos dois bigodes. À esquerda, também aparece na imagem o presidente da Câmara Federal, Michel Temer. Como sempre, Temer tenta aparentar que nada tem a ver com o que está acontecendo. Belchior parece constrangido, mas nada prova que este tenha sido o motivo de seu desaparecimento.

E como o Brasil é azarado, o bigode errado é que acabou sumindo de cena.
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POR José Pires

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Bate-boca em inglês

Os ingleses devem estar espantados. A revista The Economist critica novamente o presidente Lula na sua edição desta semana e sua página na internet já está carregada de comentários de brasileiros fazendo o acirrado debate a que já estamos acostumados por aqui. O esquema lulo-petista está funcionando bem. Vários comentários são evidentemente da militância grudada no poder.

Na edição anterior, em um editorial bastante crítico à política externa brasileira, a The Economist perguntava:“De que lado está o Brasil?” Esta semana, a revista afirma que o PT foi transformado em uma força política com a única função de manter o Lula no poder.

E é claro que os defensores de Lula já correram para defender o chefão. A argumentação, os números e até a cantilena de ataque aos tucanos ─ um governo que já acabou há quase oito anos! ─, a técnica é a mesma usada por aqui. Certos textos sequer conseguem esconder o profissional que finge ser apenas mais uma figura da opinião pública.

É o que eles fazem nos blogs e sites brasileiros. Basta ter algum assunto da pauta política do interesse petista que eles aparecem. Em alguns blogs governistas a coisa chega a ser engraçada. Alguém publica um post bem chapa-branca e embaixo publica-se muitos comentários ─ em alguns casos até mais de uma centena ─, sempre em apoio ao governo e, é claro, com críticas ao governo anterior. Aquele de quase oito anos atrás.

Eu sempre me pergunto quem, a não ser os próprios comentaristas, que vai mais de cem comentários em apenas uma nota, mas o fato é que as seções de comentários dos sites e blogs brasileiros são a seção mais movimentada da nossa internet. Agora, pelo jeito, estamos exportando este modelo.

É o que começa a acontecer na The Economist. É interessante entrar na página para ver como funciona a máquina de comunicação lulo-petista em inglês. E também para apreciar a nossa oposição. Comentaristas críticos a Lula e ao PT não estão deixando a militância governista usar com exclusividade o espaço: já postaram seus textos por lá.

Entre por aqui, mas vá logo, pois agora no início da noite já tinha 35 comentários. E o debate promete esquentar.

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POR José Pires

Volta, Belchior

O Belchior não pegou o espírito da coisa. O bigode que o Brasil quer que suma é o outro, o do Senado.
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POR José Pires

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Um colar de irresponsabilidades


Pena que o presidente Lula não goste de ler. É também mentiroso, pois disse que prefere uma esteira. Esteira? O barrigão prova que ele também não é chegado nisso. Mas deixa a esteira pra lá. Lula deveria ler a autobiografia de Eric Clapton. É uma história cheia de lances interessantes, a trajetória de um artista que conseguiu fazer música popular de grande qualidade ultrapassando os limites da indústria cultural dos Estados Unidos. Clapton é inglês, mas é como se ninguém estivesse interessado nisso. Está mais vinculado aos Estados Unidos, onde descobriu a riqueza da música popular, especialmente o blues, matéria-prima que usou para criar uma das obras musicais mais marcantes no mundo.

É claro que alguém como Clapton tem muita história para contar e, neste livro, ele narra com sinceridade o que viu. A autobiografia é também um interessante relato do desvio ocasionado pela droga, desvio que acaba em um inferno, mas do qual, no final, ele acabou escapando.

As drogas quase acabaram com a sua vida. Somando tudo o que ele aspirou, injetou ou jogou boca abaixo em seu corpo, é até uma surpresa que ele tenha sobrevivido. Do amontoado de viagens trágicas saiu até uma música, "Cocaine". É como se fosse um anti-jingle e ele vai no ponto certo, tocando na força sedutora da droga, na sua função como fuga eficaz da complexidade da vida e até dos problemas. A miséria, é claro, vem depois.

Mas milhões de pessoas não tem a felicidade de escapar do pior. Em vários países do mundo a droga destrói cedo a vida dos jovens. Famílias inteiras se destroem quando a droga se faz presente. A cocaína é uma das mais poderosas, tanto no efeito sedutor, quanto na força que ela acabou conferindo ao crime no mundo todo. Hoje bandos terroristas dominam comunidades inteiras, onde os bandidos têm poder de vida e morte sobre as pessoas. Os criminosos chantageiam, subornam, torturam e matam. Estão entrelaçados com setores da polícia e também já entraram com peso na política partidária.

Claro que Lula poderia ter a informação sobre o problema terrível que é a cocaína recebendo informações até na cidade onde tem sua casa, ou melhor, seu apartamento de cobertura no ABC paulista. Não precisa do livro de Clapton, nem precisa ler nada. O porteiro de seu prédio poderia informá-lo o que as drogas significam em São Bernardo do Campo e em todo o Brasil.

Não é o porteiro que vai lhe dizer isso, mas talvez sua consciência, se ainda houver um pouco de responsabilidade lá por dentro, bem fundo, onde a política ainda não implantou o cinismo, então pode até acontecer de ele perceber que não é correto sair em fotos com um colar de folhas de coca no pescoço.
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POR José Pires

Evo Morales e seu Bolsa Coca

Mas a foto é ótima. O momento até parece arquitetado. Pelo governo da Bolívia, com certeza foi. Mas as providências posteriores da assessoria do presidente Lula, como o fato da própria Secretaria de Comunicação distribuir a imagem e disponibilizá-la no site da Presidência da República, tudo isso dá a impressão de um esforço também do governo brasileiro para ligar a imagem de Lula às folhas de coca. Ou foi uma distração?

De qualquer modo, é mais uma forte simbologia do que temos hoje no governo. Falta de senso, irresponsabilidade e uma extrema confusão entre o respeito às verdadeiras tradições e o que é pura empulhação ideológica.

Se para Evo Morales é bacana pendurar folhas de coca no pescoço, para Lula é um desastre. Cada demagogo tem seu Bolsa Família e a coca é o Bolsa Família do presidente boliviano. No caso, um Bolsa Coca. Com a promessa de aumentar o plantio e estimulando sua importância para a Bolívia é que ele conquistou o poder. Essa conversa também o ajuda a manter-se popular, sem precisar agir efetivamente pelo bem-estar de seu povo, mas apoiando-se nesta simbologia que é apenas uma demagogia para fortalecer sua imagem.

Já Lula só tem a perder com um colar desses no pescoço. Claro que isso nem sequer vai chegar ao eleitor nordestino que recebe Bolsa Família, mas tem um peso negativo para sua imagem internacional. A fotografia deve ter tido um efeito forte em dirigentes e formadores de opinião de várias partes do mundo.

Para o presidente Barack Obama com certeza não caiu bem. Pois é, este é o cara com um colar estranho. A foto deve ter ido parar na tela de seu computador logo depois de batida por Ricardo Stuckert, fotógrafo do presidente brasileiro.

Nos Estados Unidos eles dão importância à informação, um fator, aliás, muito significativo para que tenham alcançado o patamar poderoso em que estão. Não é só com poder militar que se obtêm hegemonia. Lá, por exemplo, eles não apagam nenhuma informação do controle das visitas à Casa Branca. E aqui, passado um mês já não se sabe quem entrou e saiu no Palácio do Planalto.

Mas, voltando à coca. Nós estamos em um mundo melhor simplesmente porque Obama não é o Bush. Sua presença na Casa Branca é um empecilho para aquelas velhas justificativas cujo único suporte era a retórica ideológica de ser contra o demônio ianque.

Os Estados Unidos mantêm a Bolívia fora da ATPDEA, sigla em inglês para Lei de Preferências Tarifárias Andinas e Erradicação de Drogas, um programa que oferece benefícios tarifários que poderiam ser de muita utilidade para o país mais pobre da América do Sul. Foi o presidente Bush quem determinou no ano passado a retirada da Bolívia, com a alegação de que o país não combatia as drogas.

Acontece que Obama manteve a decisão, afirmando que o “alto escalão do governo” incentiva a produção de coca, de onde se extrai a cocaína.

Durante a visita de Lula, Evo Morales foi claro sobre a ajuda financeira que espera do presidente brasileiro. “É um APTDEA sem nenhum condicionamento”, ele disse. E saíram os dois na foto com os colares de folhas de coca no pescoço. E Morales ainda gritou em outra língua desconhecida por Lula, o quéchua: "Viva a coca, morte aos ianques”. Mais um problema: o presidente ianque agora é outro cara. Ianque é o Obama, que Lula gostaria de ter como aliado.

Mas para Evo Morales tudo bem, ele só tem a ganhar com isso. E Lula? No seu caso, tudo isso não cheira bem. Aí o colar de coca pesa.

O Afeganistão produz quase todo o ópio do mundo e hoje é de extrema importância estratégica para a política externa de Obama. Mas o presidente norte-americano não colocaria no pescoço um colar de papoulas, de onde se extrai a droga, nem que a flor fizesse parte de tradições milenares dos afegãos. E olha que um colar de papoulas ficaria infinitamente mais bonito que aquela coisa de folhas de coca.

Evo Morales é cocaleiro e fez da atividade a mola impulsionadora da sua carreira política. Já disse: é sua Bolsa Família. Para tornar legítimo o apego simbólico às folhas da planta alega tradições populares e a utilidade da planta no cotidiano dos bolivianos.

E lá vem aquela história de que o boliviano masca coca para escapar aos rigores da vida. Não dos rigores naturais, mas de condições opressivas externas: a imposição do trabalho injusto e mal pago, a falta de alimento e de condições básicas de vida.

A coca é o estímulo do boliviano faminto do altiplano, do mineiro explorado secularmente, vivendo uma vida miserável e empurrado para ir catar todo dia a riqueza imensa do subsolo daquele país.

Esta coca que serve de combustível para subnutridos não é a do Chapare, onde Evo Morales fez sua base eleitoral e começou seu socialismo de araque. A folha de coca do Chapare não serve para mastigar. Tem efeito mais fraco e provoca lesões nas gengivas. Tanto que os habitantes de Chapare preferem a coca da região dos Yungas, no departamento de La Paz, bem longe dali, cerca 250 km.

Então para que serve a coca de Chapare se a folha não é boa para mastigar? Bem, para fabricar cocaína ele serve muito bem. Como escreveu na Folha de S. Paulo o jornalista Fabio Maisonnave, em uma excelente matéria sobre a visita de Lula ao colega boliviano, “a ausência da coca do Chapare no comércio local talvez seja a principal evidência de que o berço político do ex-cocaleiro Evo Morales é atualmente o epicentro da produção de cocaína da Bolívia”.

Mas fiquemos com o hábito de mastigação. Ora, se a folha da coca tem a função de enganar a fome, fazer o boliviano suportar o trabalho extenuante, enfim, de manter o pobre do boliviano sob o tacão de maus patrões e imerso numa miséria secular, então este vegetal é uma maldição que um governo decente teria a obrigação de fazer tudo para apagar da vida do país. Motivo de orgulho é que essa folha não pode ser.

Morales pensa o contrário. Recentemente ele até propôs que a coca fosse usada em uma campanha internacional simbolizando dignidade. Mas como é que algo usado para mitigar a fome e trabalhar sem se queixar em condições sub-humanas pode significar dignidade? Se for para pensar assim, talvez fosse o caso de usar então como símbolo o chicote. Pelo menos é uma imagem mais universal.

Mas se os bolivianos assim desejarem, o que fazer? Lá na casa deles, tudo bem. É óbvio que ninguém é contra o uso “tradicional” da planta. Que masquem a folha e façam seus chás na Bolívia. Não há problema algum, a não ser os decorrentes de seu uso por lá, entre eles o fato de que o hábito de mascar pode fazer com que a pessoa passe a se alimentar mal.

Mas a ONU afirma que a Bolívia aumentou a área de cultivo e da produção de cocaína. Não está ocorrendo, portanto, o prometido por Morales no início de seu governo, de tolerar o plantio da coca apenas para o uso "tradicional". A não ser que que esteja havendo um aumento vertiginoso do hábito de mascar folha na Bolívia.

Morales também pretende também exportar a folha, com o argumento calcado no uso tradicional na Bolívia. Mas existe uma diferença muito grande entre mascar coca no altiplano boliviano e um garoto fazendo o mesmo em uma cidade brasileira. Há o componente simbólico: este hábito pode acabar com a prevenção psicológica que todos temos contra a cocaína. Mascar a folha favorece o vício das drogas. Além disso, sendo exportada para outros países, quem garante que será apenas para fazer chá ou mascar?

Mas caso Morales consiga realmente dar um peso à exportação da folha de coca na balança comercial de seu país, até que o produto pode ter um bom uso na política assistencialista e eleitoral do governo Lula. Pode até fazer sentido adicionar no Bolsa Família uma folha que faz esquecer o cansaço e a fome.
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POR José Pires

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Dando nome e identificando os bois

A Folha de S. Paulo fez algo meritório neste domingo em um artigo de José Dirceu. Calma, não foi o artigo em si, mas na identificação do autor, aquele texto em letras miúdas que vai logo abaixo. Finalmente uma publicação identifica José Dirceu como deputado cassado, afinal o título mais marcante que ele adquiriu recentemente.

Em seu artigo Dirceu aponta incoerências na trajetória do Partido Verde, o PV, que tem o plano de ter Marina Silva como candidata à presidência da República. É claro que o fato de Dirceu, logo ele, apontar incoerência em outros só convence quem não o conhece bem. Porém, deixemos de lado a óbvia hipocrisia e elogiemos outros talentos do político cassado: Dirceu é um petista que detectou rápido o estrago que a saída de Marina Silva provoca no PT e também sabe o problema que sua candidatura deverá ser para a candidatura oficial e ungida pelo lulo-petismo. A questão é menos o que a ex-ministra pode tirar de votos, mas pelos conceitos novos que ela traz à disputa, a começar pelo fator de dissidência, fatalmente nocivos para Dilma Rousseff — ou outra pessoa que ocupar seu lugar na chapa oficial, já que a candidatura da ministra-chefe da Casa Civil não deslancha com a tranquilidade pretendida por Lula.

Daí ele ter logo publicado um artigo sobre o fato. O destinatário não é o leitor da Folha, como muitos podem pensar. O que se pretende atingir com rapidez é a militância lulo-petista, buscando dar ao assunto uma condução política do interesse do partido.

Dirceu é o tubarão da globosfera petista, oficiosa ou financiada, e esta é a linha que os peixes-pilotos petistas dos blogs devem seguir. Podem anotar: Marina Silva não terá descanso na blogosfera. Já na semana passada, Luís Nassif publicava que o marido dela está sendo acusado de improbidade administrativa pelo Ministério Público em um mesmo processo em que consta o nome de Roseana Sarney.

Não há comprovação alguma do fato e Nassif sabe bem disso, tanto que inventou uma identificação para este tipo de nota: “Em Observação”. Com esta identificação acima dos textos ele vai levando o assunto durante dias, de forma bastante ambígua mas alcançando no mínimo o resultado de colocar sob suspeição a pessoa citada.

Na explicação que deu à invenção — estampada pela primeira vez exatamente na nota que fala sobre a acusação ao marido de Marina Silva — ele diz que “Em Observação” é quando a informação ainda carece de confirmação.

Ah, “Em Observação”... Para mim isso tem outro nome: boato.

Mas, voltando à identificação de Dirceu, esse é um problema antigo em nossa imprensa e não ocorre só com ele. São muitos os políticos cujo passado não fica claro nas apresentações escritas por jornais.

Não existe aquela frase popular que fala em "dar o nome aos bois"? Pois é, tem que identificar também. Bois, gatos, raposas, abutres, com todos bem identificados aumenta a qualidade da informação.

A Folha acertou neste domingo colocando abaixo do artigo a identificação: “José Dirceu de Oliveira, 63, é advogado. Foi ministro-chefe da Casa Civil (governo Lula) e presidente do PT. Teve seu mandato de deputado federal pelo PT-SP cassado em 2005”.

O nome completo é uma das esquisitices da Folha, jornal moderninho, mas que, de vez em quando, veste um smoking. É capaz de colocarem até o nome completo do Paulinho da Viola embaixo de um artigo. Não era preciso: o cara é o José Dirceu e ponto. Mas a identificação dele como deputado-cassado aponta para um caminho correto. Poderia até constar que a cassação foi por falta de decoro, mas acho que considerando que nem a cassação sai em outras publicações, creio que já está razoável.

O Blog do Noblat, uma das páginas mais lidas da internet brasileira, é um dos que cometem este tipo de erro que, a meu ver, é até um desrespeito ao leitor. E desinforma também. Noblat publicou na semana passada um artigo de José Dirceu e colocou embaixo o seguinte: “José Dirceu - advogado e ex-ministro da Casa Civil”.

Bem, esse José Dirceu eu não conhecia. Acho que aí até é dar pouco valor à carreira política do homem.

No seu currículo político, além de deputado cassado consta até a condição de réu no Supremo Tribunal Federal pelos crimes de corrupção ativa e formação de quadrilha. Isso não é pouco. Mas, até por questões técnicas, acho dispensável que conste embaixo dos artigos. É um texto que exige certa concisão.

Mas o fato de ele ter sido cassado por falta de decoro é indispensável. Serve para cientificar o leitor da qualidade do articulista. E além do mais é até um reforço para a melhor compreensão da análise política. Neste artigo da Folha, por exemplo, Dirceu se propõe a distribuir conselhos políticos à variadas personalidades, entre elas Marina Silva, e até julga com rigor condutas alheias.

Bem, se embaixo do texto constar a indispensável informação de que o autor de tais observações morais é um deputado cassado por falta de decoro, no mínimo isso vai evitar que o leitor perca tempo analisando com respeito o palavrório.
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POR José Pires

sábado, 22 de agosto de 2009

Isso é que é

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Filosofia lulo-petista

Aloizio Mercadante não é um filósofo. É economista, ainda que não com a completude de que gostaria — o almejado título de doutor que portou em eleições passadas sem ter o direito de fato. Mas é um economista e não filósofo.

No entanto, para a filosofia não tem peso algum o título que os petistas valorizam de tal modo que até usam sem tê-lo conquistado. Para filsofar, basta uma toga e a verve, que pode inclusive ser apenas falada. E se o sujeito quiser ir além do estilo socrático de fazer filosofia no gogó, não precisa mais que lápis e papel. Mas aí já é o Platão. Mas seria absurdo alguém pensar que, enquanto o filósofo soltava pérolas pela boca, algum grego se preocupasse se ele tinha ou não o título de doutor. No Brasil, país bacharelesco, até tivemos um doutor Sócrates, mas este era outro. E além de jogar bola era médico. Temos também o Tostão, que filosofa melhor que o Sócrates, mas aí já é outro jogo. 

Mas vamos à frase do Mercadante: “Mais uma vez na minha vida, o presidente Lula me deixa numa situação que não tenho como dizer não”. Foi o que ele disse a propósito da sua renúncia da renúncia. Ele colocou o cargo de líder da bancada à disposição, ameaçou renunciar, mas agora está tudo bem. Vai ficar. E com a frase emblemática pretende explicar sua posição.

E ela explica bem mais que a sua falta de palavra. Como é o sempre suspeito presidente do Senado, José Sarney, o objeto da discórdia que deu origem à ameaça que não se consumou, não há como não desconfiar de que Lula pode ter feito ou suborno ou chantagem para convencer o seu líder renunciante a desistir de pedir o boné.

E como sua atitude pressupõe uma prática político-administrativa e até um modelo de governo, fica claro que temos a frente uma filosofia política que rege a vida partidária e o governo. E é filosofia bem antiga. A frase define isso com perfeição já de início, quando afirma “Mais uma vez na minha vida”.

O primeiro argumento pode ter sido o oferecimento de um cargo em um suposto governo de Dilma Rousseff. Como é ele, Lula, que deve mandar num governo deste, se houver, ele pode prometer o que quiser para Mercadante ou para qualquer outro. Mas é Mercadante quem precisa muito de algo para depois de 2010. Seu mandato de senador termina agora, numa situação que dá pouquíssimas esperanças de ele renová-lo junto ao eleitorado paulista.

Isso até ajuda a entender o carinho que sua ex-correligionária, Marina Silva, diz sentir por ele. A senadora, como todo ambientalista, não poderia deixar de se comover com um senador cujo mandato se extingue no ano que vem e, pelo jeito, para nunca mais.

Mas prossigamos o raciocínio filosófico. A outra questão, a hipótese da chantagem, trata da possibilidade de Lula saber algo de Mercadante que está bem longe do nosso conhecimento. Doutorado falso não é, porque isso já corre na internet.

Mas e o emblema que envolve de forma perfeita o lulo-petismo? É esta prática de resolver questões da política e da vida com conversinhas ao pé do ouvido, sem encarar de frente as responsabilidades, longe de delimitar limites e alheias, bem alheias a qualquer princípio ético. Se o lulo-petismo tiver uma cartilha secreta determinando o que nós vemos hoje na prática do partido e do governo, com certeza esta é uma cláusula pétrea.

E foi muito bem definida pelo senador em extinção Aloizio Mercadante. Ah, a frase, que frase, vou escrevê-la novamente: “Mais uma vez na minha vida, o presidente Lula me deixa numa situação que não tenho como dizer não”.

E depois ainda dizem que só dá para filosofar em alemão.
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POR José Pires

O "doutor" Mercadante pego na mentira

Ontem eu falei aqui sobre a besteira que foi o senador Aloizio Mercadante tornar a lembrar o caso do doutorado que Dilma Roussef nunca teve, mas que ostentava. Besteira dupla, pois ligou o doutorado falso da ministra-chefa da Casa Civil a um ataque ao governador José Serra. Mercadante desencavou uma mentira da colega e criou outra: a de que Serra dizia ser doutor em engenharia. E isso o tucano nunca fez.

Até notei que era provável que o marqueteiro de Dilma tivesse passado um dia muito ruím, talvez até uma madrugada também nada boa, depois de ver o líder da bancada do PT no Senado trazer de volta a mentira de Dilma, um caso que eles querem ver bem enterrado.

Pois até o senador já deve ter percebido que fez bobagem. Acontece que Serra, na resposta a Mercadante, lembrou que o petista é que havia mentido na campanha de 2006, quando disse que havia feito doutorado na Unicamp.

Agora roda na internet um vídeo com o senador mentindo sobre o título que nunca teve. Tinha uma época em que em boca aberta entrava mosca. Depois da invenção da internet, mosca é o menor problema para engolir. Veja aqui o "doutor" apresentando seu currículo.
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POR José Pires

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Mais um cai fora

Mais um senador sai do PT batendo a porta. Flávio Arns disse que vai deixar o partido. E deu suas razões para isso.

"O PT tem de buscar outra bandeira, porque a ética deixou de existir, foi jogada no lixo. Eu me envergonho de estar no PT, com esse direcionamento que o partido está fazendo. Hoje demos as costas às bandeiras, e me sinto envergonhado e pedindo desculpas às pessoas, porque não era o que elas queriam que acontecesse", ele disse.

Bem, essa bandeira de que Arns fala, a da ética, já está rota desde o primeiro mandato. O senador não havia visto nem os rasgos do mensalão? Ou a questão foi a conveniência ou é cumplicidade mesmo.

O partido perdeu dois senadores no mesmo dia, pois Marina Silva também saiu ontem. É certo que os dois demoraram para tomar uma atitude digna. Marina Silva ainda mais, pois chegou a ser humilhada publicamente pelo presidente Lula — e não foi uma vez só.

Mas, enfim, tomaram vergonha na cara e talvez ainda haja tempo dos dois compensarem o tempo perdido. Sim, porque até para assumir atitude digna existe um prazo limite. O do senador Aloizio Mercadante, por exemplo, já esgotou faz tempo.
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POR José Pires

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Dando o fora

A ex-ministra do Meio Ambiente e atual senadora Marina Silva saiu do PT, partido no qual militou por mais de 30 anos. Em carta ao presidente do partido, deputado Ricardo Berzoini, ela justificou a saída com um palavrório típico de militante de esquerda, mas o que dá pra entender é que ela sai por falta de ambiente no PT.
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POR José Pires

Sobre currículos... e currículos

Ontem, no final da noite, publiquei a nota sobre o destempero de Aloizio Mercadante falando sobre o currículo do governador José Serra. Sua intenção é óbvia. O senador petista é um dos intelectuais do governo Lula. Supõe-se que tem um papel destacado na elaboração da singular ética lulo-petista que afirma que algo feito também pelo adversário político, mesmo que seja um crime político grave, absolve um petista pego no flagra cometendo o mesmo ato. É a ética do somos todos iguais na sarjeta.

Não é novidade na política brasileira. Mas o lulo-petismo levou a coisa ao extremo. Lula é o porta-voz mais importante desta ética singular, mas o comportamento permeia todo PT, servindo de pretexto até para a dita “ala progressista”, se acomodar aos interesses do chefão ( se a gente não fizer isso, sabe como é, não?, os tucanos...). No governo, nem precisava dizer, é praticamente uma regra de conduta.

Mercadante quer trazer um tucano com carreira ilustre no meio acadêmico, Serra, para a lambança curricular da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Então vejamos: supondo que o petista estivesse certo e que Serra realmente tivesse falseado o próprio currículo, o que isso provaria? Ora, aí a lógica diz que os dois, Dilma e Serra, seriam culpados. Mas não é assim na lógica própria dos petistas. Neste caso, para eles, todos estariam absolvidos e liberados para as maracutaias.

Bem, Mercadante petista citou um suposto livro de biografias do Senado. Diz que lá está escrito que Serra é engenheiro, quando todos sabem que El não terminou o curso. O senador não apresentou a obra, mas, supondo que ela exista mesmo, Serra terminou o mandato de senador em 2003. Faz tempo, hein? Em que um livro produzido nos bastidores do Senado pode afetar a carreira de qualquer um ali dentro. Só se algum senador tivesse roubado na produção da peça ou na sua impressão, uma suspeita que sempre pesa sobre os colegas da base aliada de Mercadante.

Mas já há alguns anos que coisas escritas e impressas no Senado não têm significado algum. Nem para cima para baixo. Publicação daquela Casa, cá pra nós, não afeta a carreira nem de um Collor.

Bem, o que Mercadante fez é quase uma comparação de currículo. Serra foi dormir bem ontem. O marqueteiro da Dilma bebeu até de madrugada e vai passar esta quarta-feira de ressaca. Tenho certeza que o caso do currículo falso é um assunto que ele quer que todos esqueçam. E vem o Mercadante fazer o que chamamos em propaganda de “contraste”. Deu negativo não só para a candidatura como também para a carreira pessoal da ministra que até alguns dias era doutora.

Dilma mentiu sobre o próprio currículo. Seu título inexistente de doutora foi publicado não só na biografia da página da Casa Civil. Foi publicado no Curriculo Lattes, na internet, página cujo conteúdo é de responsabilidade direta do autor. Dilma também ouviu o título ser creditado a ela na sua frente no programa Roda Viva e ficou caladinha. Não fez a ressalva. E confirmou a um grupo colegas — inclusive com um professor petista da USP presente — que era doutora. O professor escreveu uma mensagem eletrônica sobre o assunto. Vazou e publicamos aqui.

Esta é a história verdadeira do currículo de Dilma Roussef. A de Serra é que ele foi impedido pela ditadura militar de terminar o curso de engenharia. Fez o mestrado e doutorado em economia. Mas a engenharia ficou no último ano, porém sem finalizar.

Esta é a história verdadeira do currículo de Dilma Roussef. A de Serra é que ele foi impedido pela ditadura militar de terminar o curso de engenharia. Fez o mestrado e doutorado em economia. Mas a engenharia ficou no último ano, porém sem finalizar.

Mas vamos a uma verificação abaixo, onde falo de uns livros que tenho aqui em minha biblioteca.
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POR José Pires

Em livros, a prova de que Mercadante está com lorota

Tenho aqui em mãos dois livros importantes de Serra — “Ampliando o Impossível” e “O Sonhador que faz”. Foram lançados na época de sua candidatura à presidência da República, quando perdeu no segundo turno para Lula.

O primeiro reúne textos seus sobre sua elogiada passagem pelo ministério da Saúde. E antes que me acusem de tucano ou de “serrista”, digo que é o médico Drauzio Varela que afirma no prefácio do segundo, “O Sonhador Que Faz”, que “a maioria dos médicos e de outros profissionais da párea considera que nenhum ministro implantou tantas medidas de impacto na saúde brasileira”.

Em “Ampliando o Impossível” há uma biografia resumida de Serra. Consta que ele estudou na Escola Politécnica da USP de 1960 a 1964, um fato de que nem o petista mais anti-serrista pode duvidar.

O outro livro é uma entrevista feita pelo jornalista Teodomiro Braga sobre a trajetória e o pensamento político de Serra. Foi lançando pouco antes de sua campanha para presidente da República. Será que o Mercadante tem este? Pois deveria ter.

É um trabalho de respeito de Teodomiro Braga, profissional de importância na imprensa de oposição ao regime militar, como o semanário Opinião e outros de feliz memória. Teodomiro conseguiu construir um relato claro da vida política de Serra, com incursões bem colocadas em sua vida pessoal, mostrando nesse conjunto a estruturação do caráter político e pessoal do governador.

O depoimento é de uma importância histórica substancial para compor uma compreensão sobre uma geração que viveu a imposição da ditadura militar em 1964 e a construção democrática depois do final do regime em 1985.

São cinematográficos os relatos do perigo que Serra passou no Chile nos dias imediatamente posteriores ao golpe de Pinochet e de como provavelmente escapou da morte em razão de fatos casuais.

Em um trecho, falando de antes de ele ir para o Chile, quando vivia na clandestinidade por aqui, Teodomiro pergunta: “Queria recomeçar os estudos no Brasil?” Serra responde: “Era minha idéia inicial, mas logo percebi que não tinha a menor possibilidade de permanecer e retomar uma vida normal”.

Em outra parte, fica bem claro que não foi possível concluir o curso de engenharia. Leia o diálogo completo:

Por que decidiu cursar economia no exterior, em vez de retomar o curso de engenharia, que havia sido interrompido pelo golpe militar em 1964?
Serra - Na medida que ia fazendo o curso, eu percebi que não tinha interesse em me dedicar profissionalmente à engenharia. Além disso, era muito difícil compelatr o curso no exterior; havia problemas de currículo, impossibilidade de conversão de matérias de um país para outro. Isso tanto na frança quanto no Chile.

Creio que são informações que mostram que é Mercadante mente em relação ao currículo de Serra. É o que colhi numa olhada rápida no livro. “O Sonhador Que Faz” é muito bem feito, porém com uma falha editorial infelizmente normal no Brasil: não tem índice onomástico, o que torna difícil buscar informação localizada.

É um livro muito bom para ser lido por quem se interessa por política, inclusive pela qualidade técnica e o conteúdo com credibilidade que Teodomiro Braga conseguiu atingir numa obra sobre um político brasileiro. Geralmente livros do tipo são uma puxação de saco sobre a personagem-título. Não é o caso deste.

Como eu disse, uma boa leitura. Inclusive para o senador Aloizio Mercadante.
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POR José Pires

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Mercadante, o embaralhador de currículos

O senador Aloizio Mercadante resolveu atacar o governador José Serra neste final de tarde durante a audiência com a ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira. Vamos aproveitar estes últimos minutos do dia para tratar do caso, pois deu coisa boa.

Serra respondeu na bucha: em um evento no Palácio dos Bandeirantes disse que o petista é um mitômano, ou seja, uma pessoa que mente muito, de forma doentia. “Eu acho que é um caso de psicanálise, não de política”, disse Serra sobre o comportamento de Mercadante.

Durante a audiência no Senado, o petista disse que, assim como a ministra-chefe da Casa Civil, Serra também cometeu erros em seu currículo. Mercadante acusou o governador de se dizer formado em Engenharia e Economia sem ser graduado na área ou ter concluído um mestrado.

É fácil entender o jogo. Querem estender para a área acadêmica o conceito partidário e de governo de que “todos são iguais”. Assim, o nivelamento pela sarjeta promovido pelos petistas na política se estenderia aos currículos acadêmicos. Como o lulo-petismo faz disso um pretexto para se safar de responsabilidades quando são flagrados em ilegalidades, lá vem o Mercadante tentar criar uma saída para as mentiras da ministra Dilma Roussef.

O petista, que era o chefe dos aloprados na eleição em São Paulo, parece que chamou para si a função.

Mas o jogo não deu certo. Serra foi rápido e respondeu com uma verve até inesperada, já que tem um perfil mais sisudo. Ainda sobre currículos, o tucano lembrou que na campanha para governador de São Paulo, eleição em que Mercadante foi derrotado, o petista veiculou um currículo falso.

“Ele afirmou que era doutor pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e não era. Foi meu aluno na Unicamp. Ele, de alguma maneira, é um precursor nessa matéria de mexer em currículos”, disse Serra.

Em sua resposta, o governador de São Paulo disse também que é bem conhecido o fato de ele não ter se formado em engenharia devido ao golpe militar e que em discursos até já manifestou sua frustração por ter sido impedido de terminar o curso.

Pelo jeito, a tática malandra de Mercadante foi aplastrada de modo rápido. Mas este é um assunto que ainda merece umas considerações. Amanhã trago umas informações.
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POR José Pires

Com Sarney, escândalo é coisa corriqueira

Para acompanhar os malfeitos do clã do senador José Sarney a blogagem tem que ser no esquema de plantão de 24 horas. É ficar um dia sem postar e se acumulam as denúncias, com algumas inclusive passando sobre as outras, como os desmentidos de Sarney que se revelam mentirosos em questão de poucas horas.

O que aconteceu entre o final de semana e esta terça-feira é exemplar de como funcionam as coisas com o senador maranhense eleito pelo Amapá. No domingo, o jornal O Estado de S Paulo informou que dois apartamentos da família Sarney em São Paulo foram pagos por uma empreiteira.

Ontem, Sarney fez um discurso no Senado atacando o jornal. Mostrando os exemplares do Estadão de domingo e de ontem, o senador disse que o jornal tornou-se “um tablóide londrino, daqueles que buscam escândalos para vender”.

Fico aqui imaginando a desgraça financeira de um jornal que resolvesse vender mais com os escândalos de Sarney. Ora, o leitor só corre atrás de um jornal se este trouxer novidades. E maracutaia dos Sarney lá é coisa nova? Ele fez do escândalo um fato ordinário. Vindo de Sarney, novidade jornalística para atrair a atenção só se ele praticar algum gesto honesto. Aí acho que é caso até de imprimir edição extra.

Mas voltemos. Sarney sentou o pau no Estadão dizendo que a reportagem era “irresponsável e “sem provas” e quatro horas depois do discurso a empresa Holdenn Construções Assessoria e Consultoria divulgou uma nota admitindo que de fato comprou os apartamentos.

Vamos ao que o Estadão publica: “Na nota, assinada pelo empresário e amigo da família Rogério Frota de Araújo, a empreiteira admite que comprou o apartamento nº 22 do edifício Solar de Vila América, na Alameda Franca, 1.581, nos Jardins. Diz que depois da compra, o imóvel “foi vendido ao senhor José Sarney Filho, mediante instrumento Particular de Promessa de Compra e Venda e outras Avenças”. O apartamento 22 foi comprado pela empreiteira depois de um contato inicial de José Adriano, neto de Sarney, com o proprietário do imóvel, o economista Felipe Jacques Gauer”.

Até senador José Sarney já se hospedou em um dos apartamentos, mas é possível que ele tenha se esquecido. Afinal, isso não é nada para quem nem percebia que o Senado depositava todo mês em sua conta R$ 3.800 a título de moradia. Esta, por sinal, foi outra situação de que o senador tentou se safar atacando a imprensa. O problema é que ele recebia auxílio-moradia mesmo tendo imóvel em Brasília. Primeiro ele afirmou que não recebia o auxílio-moradia e depois pediu desculpas dizendo que não “percebia” que o dinheiro caía todo mês em sua conta.

Sobre os apartamentos em São Paulo, o jornal também destaca na reportagem publicada hoje que “chama atenção, na relação entre a Holdenn e os Sarney, o fato de que nem a empresa nem a família esclarecem as condições da suposta venda do apartamento 22 para Zequinha Sarney”.

Agora vamos esperar. Pode ser que em poucas horas apareçam novidades sobre este caso ou até safardagens novas do nobre senador. Com o Sarney, só ficando de plantão.
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POR José Pires

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Homenagem, estranha homenagem

Não sei se é por influência do Senado, instituição de tal peso que é bem capaz de mexer com coisas que a gente nem espera, mas esta semana o Festival de Cinema de Gramado também resolveu dar um espetáculo lamentável.

A apresentadora Xuxa foi homenageada, com placa e tudo. É bem estranho, pois Xuxa não é atriz, tampouco diretora. A razão da homenagem até poderia ser pelo fato de ela ter ganho muito dinheiro com cinema , mas indo por aí logo mais dono de rede exibidora também poderá ser fotografado abraçado ao Kikito, o troféu do festival.

Porém, além de sua notória falta de mérito, outra questão torna ainda mais imprópria a homenagem à Xuxa. Sua história traz uma mancha que deveria envergonhar quem teve a idéia dessa estranha homenagem. É um caso de censura ao cinema brasileiro. Por meio de uma ação judicial ela conseguiu impedir a circulação de "Amor, Estranho Amor", de Walter Hugo Khouri, morto em 2003. O filme é de 1983. Nele, Xuxa seduz uma criança, um garoto que mora na casa onde ela é oferecida nua em festa de marmanjos. Ela interpreta uma garota de programa e nesta festa sua virgindade é leiloada entre os presentes.

Qualquer atriz em começo de carreira serviria para o papel. E dificilmente faria pior que Xuxa, que é ruim de doer. Vá saber o que deu na cabeça de Walter Hugo Khouri para ele escolher logo Xuxa para o papel. Ninguém sabe como o diretor se convenceu disso, mas o tempo provou que foi uma besteira. Primeiro, porque foi bem ruim sua, na falta de outra palavra, atuação. E depois pelo imprevisto dela tornar-se famosa e muito rica.

Preocupada com o efeito que o papel que interpretou no filmr poderia ter em sua carreira de apresentadora de programas infantis, ela impediu sua cirulação. Mas ele pode ser comprado pela internet em sites do exterior. É que a produtora norte-americana não aceitou vender os direitos para a apresentadora. Xuxa entrou com uma ação judicial também nos Estados Unidos, mas perdeu.

O curioso é que o implicância de Xuxa acabou atraindo uma atenção despropositada para "Amor, Estranho Amor". Existe até os que acham — e não são poucos — que é um filme pornô. Esses, vão quebrar a cara. A obra de Khouri apenas insinua situações. O cineasta é tido como um autor na linha de Ingmar Bergman e não foi, de modo algum, um fazedor de pornochanchadas. Além disso, Xuxa faz praticamente uma figuração. Seu papel não é de destaque, a não ser como chamariz no cartaz que anunciava o filme antes dele ser retirado de circulação com sua ação judicial.

Como é que alguém pode achar que merece homenagem em um festival de cinema uma pessoa que usa seu poder financeiro para proibir um filme? Os responsáveis pelo Festival de Gramado acham.

Isso pode ser tomado como mais um sintoma do nivelamento por baixo que tomou conta do país. Um equivalente a isso na política seria gente como Fernando Collor, Renan Calheiros ou o próprio Sarney ter poder de decisão sobre um Conselho de Ética. E não é que eles têm?

Mas decisão da impressionante homenagem pode também ter sido tomada levando em conta aquela singular definição da situação do senador José Sarney feita por seu amigo Lula. A de que ele, Sarney, não é uma pessoa comum. Talvez o pessoal de Gramado ache que Xuxa não é uma pessoa comum. Neste caso, até um ato de censura passsa a ser algo irrelevante. Se for assim, que no ano que vem não façam em Gramado o festival de cinema. O Show da Xuxa é bem mais apropriado para este modo de pensar.
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POR José Pires

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A vida imita a charge

Não posso ser acusado de incentivador de crime, mas o fato é que antecipei em mais de três meses o que aconteceu ontem em Porto Alegre. Ladrões usando máscaras para proteção contra a Gripe A assaltaram a sede do Sindicato dos Taxistas de Porto Alegre. Veja a prova aqui. E vejam a charge abaixo: foi publicada no dia 4 de maio (a prova está aqui). Dizem que a vida imita a arte, pois no Brasil com mais frequência ela imita mesmo é a piada.



Com Dilma, tem que ser igual o Juruna fazia

O índio Juruna é que estava certo. Para quem não sabe, Mário Juruna era um cacique Xavante que tinha o hábito de levar um gravador para registrar as conversas que tinha com os brancos. Branco não tinha palavra, dizia ele. Daí passou a gravar os compromissos firmados em nome de sua tribo. Não adiantou muito, pois mesmo assim as autoridades continuaram não cumprindo a palavra, mas a história ficou como marca desta civilização cheia de falsidades.

Mas a história de Juruna não para aí. Ele se elegeu deputado pelo PDT em 1983 e até participou do Colégio Eleitoral que elegeu Tancredo Neves em 1984. Naquele ano, inclusive, denunciou o empresário Calim Eid por tentar suborná-lo para votar em Paulo Maluf, candidato dos militares. Ele votou em Tancredo. Juruna pagou caro pela entrada no mundo dos brancos. Teve um triste fim. Abandonado pela tribo, morreu na miséria em Brasília.

Mas eu dizia que ele estava certo é nesse negócio de gravar tudo que o branco fala. Com a ministra Dilma Roussef tem que ser assim. Ô mulher enrolada. Com ela, só gravando a conversa, pois depois de alguns encontros seus acaba sendo criado um clima de extrema desconfiança.

E o chato para ela é que aos poucos vão surgindo fatos que estão consagrando-a como mentirosa. No caso do título de doutor, ostentado por ela sem ter o direito, já que nunca fez doutorado algum, ficou comprovado de várias maneiras sua mentira. Falo disso abaixo, no outro post.

Agora aparecem novas evidências de que ela pode ter mentido também no caso do encontro com a ex-secretária da Receita Federal Lina Maria Vieira, quando teria pedido para acelerar a auditoria nas empresas da família do senador José Sarney. O "acelerar" aí pode ser visto como algo mais que dar pressa na condução da auditoria. Pareceu à ex-secretária que o pedido era para não mexer com o senador maranhense eleito por Amapá, mesmo porque é bem estranho a Casa Civil interferindo na Receita Federal para agilizar trabalhos.

Dilma afirmou que jamais esteve a sós com Lina e desafiou a ex-secretária a provar que houve o encontro. E aí ficou a palavra de uma contra a de outra. Pois a chefe de gabinete do secretário da Receita Federal, Iraneth Dias Weiler, funcionária de carreira, confirmou à Folha de S. Paulo que Erenice Guerra, secretária-executiva da Casa Civil, foi ao gabinete de Lina no final do ano passado.

Parênteses. Erenice Guerra, que é a principal assessora de Dilma, teve o nome envolvido no caso do dossiê com gastos do governo Fernando Henrique Cardoso, uma evidente chantagem feita no ano passado, já que então o governo Lula estava encalacrado no caso dos gastos com cartões corporativos. Este é outro caso que Dilma negou e ficou provado que ela mentia. Em depoimento à CPI dos Cartões Corporativos um petista afirmou que foi Erenice quem confeccionou o dossiê a mando de Dilma Rousseff.

Mas voltemos. "Ela [Erenice} entrou pela porta do corredor, não passou pelas secretárias. Não foi uma coisa que constava da agenda", disse Iraneth, afirmando ainda que Lina disse à ela que iria ao Palácio do Planalto.

Então o encontro já está praticamente provado que ocorreu. Resta agora comprovar o outro fato, bem mais grave que uma inocente reunião, mesmo que fora da agenda, entre dois funcionários do governo. Segundo Lina, Dilma teria intercedido por Sarney. A ministra nega. Até aí, tudo bem. Em relação ao Sarney até dizer bom dia acarreta suspeitas. Mas por que negar uma reunião que realmente ocorreu?

Segundo a Folha de S. Paulo um dos motivos para a queda da ex-secretária da Receita é ela não atender pedidos de políticos. Resta agora saber se Dilma Rousseff pediu mesmo para que fosse “agilizado” o assunto do interesse de José Sarney.

Não falta motivo para suspeitar que isso de fato aconteceu. O encontro, segundo a ex-secretária Lina, foi no final do ano passado. Exatamente nesta época Sarney estava articulando, principalmente com Lula, sua candidatura à presidência do Senado.
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POR José Pires

Dilma se apresentava pessoalmente como doutora

Agora mais uma história sobre as mentiras de Dilma Rousseff, esta sobre seu currículo falso que permaneceu por longo tempo publicado no site da Casa Civil e no sistema Lattes na internet. Ela nunca foi doutora e constava como se fosse. Só retiraram a informação errada depois da denúncia na imprensa.

Acontece que Dilma também se apresentava pessoalmente como doutora. Em um vídeo do programa Roda Viva, por exemplo, o apresentandor leu um resumo de sua biografia na sua frente constando seu grau de doutora e ela não fez ressalva alguma.

Mas não é sobre este caso que vou falar. É algo bem pior. Há alguns meses rodava pela internet um e-mail trocado entre colegas da USP no qual o remetente contava um episódio que confirma que Dilma mente sobre o título de doutora já há algum tempo.

O e-mail foi enviado a um grupo de colegas por Ildo Sauer, ex-diretor de gás e petróleo da Petrobrás, em um desabafo pessoal sobre a revelação da história do doutorado da ministra. A mensagem evidentemente vazou. Não há dúvida sobre sua veracidade, pois Gravataí Merengue, do blog Imprensa Marrom, confirmou com o professor Sauer.

O e-mail é o seguinte:

"Em fins de 2002, todos os membros do grupo de energia (dirigido pelo Lula) do Instituto Cidadania, foram solicitados a entregar o currículo. No dela (Dilma) constava o título de Doutor. Como ela tinha manifestado interesse em estudar os assuntos de regulação, perguntei:
- Você tem o Doutorado?
- Sim.
- Então vou te convidar para participar da banca de doutorado da Sonia Seger Pereira Mercedes, que analisa comparativamente, desde o Império até 2002, a estrutura e regulação das industrias de energia elétrica e saneamento, discutindo os impactos dos ajustes liberais dos anos 90. Você vai ter a chance de se atualizar e contribuir... Resposta:
- NÃO TENHO TEMPO PARA ESTAS COISAS....
Me senti constrangido. Afinal "estas coisas" para as quais ela não tinha sequer tempo, eram o foco principal da vida profissional e vocação de muitos de nós, e, com certo sentimento de orgulho....
HOJE COMPREENDO...
O DESPREZO E O DESDÉM ERAM FERRAMENTAS PARA ENCOBRIR A IMPOSTURA...
HÁ OUTRAS.....
Abraço
Ildo"

Aí está. Sobre esta história Dilma Roussef não deu nenhuma explicação. Também ninguém foi atrás dela para verificar sua opinião sobre a história contada pelo professor Ildo Sauer. E nem precisava. No caso do doutorado, está claro que Dilma Rousseff mentiu. E o pior é que durante muito tempo usou o título de mentira para se favorecer.
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POR José Pires

Os índios estão sumindo

Ontem em Gramado foi exibido o documentário Corumbiara, de Vincent Carelli. É um longa-metragem sobre o massacre de índios da Gleba de Corumbiara, acontecido há duas décadas no sul de Rondônia. O descaso das autoridades e por extensão, digo eu, de todos os brasileiros, com o massacre deve ser um dos focos do filme.

E os massacres ainda continuam hoje, diz o diretor. É coisa que vemos no cotidiano. Segundo Vincent Carelli, “fazendeiros os matam por envenenamento, contratam pistoleiros e nada é feito. Ninguém é preso ou denunciado”.

Noutro documentário, mais antigo, de 2007, feito por Washington Novaes também aparece esta destruição, neste caso como uma ameaça sobre uma reserva que já foi um exemplo de preservação da cultura indígena. A do Xingu, no sul da Amazônia. Ele já havia feito um famoso documentário para a antiga TV Manchete sobre a maravilha que era aquela reserva. Chamava-se "Xingú, A Terra Mágica". Este documentário mais recente tem o nome de "Xingu, A Terra Ameaçada".

Novaes conta que hoje na região, de preservado sobrou apenas o parque do Xingu, como se fosse uma ilha cercada pelo desmatamento, a soja, os bois, as hidrelétricas. O dinheiro entrou nas aldeias e com ele a desigualdade.

Os jovens já não querem ser pajés. O encanto agora é pelos DVDs, câmeras, a antena parabólica. A cultura tradicional já está ameaçada.

Os assassinatos narrados por Vincent Carelli se ligam à morte da tradição denunciada por Washington Novaes. Tudo indica que os nossos índios não devem durar muito. Com eles se vai uma imensa cultura.

Eles já sofrem as consequências até dos desatinos dos brancos. Em um texto publicado na semana passada no Estadão, Novaes conta que o jornal The New York Times publicou que os índios camaiurás, do Xingu, estão sofrendo com as mudanças climáticas, que tornam escassa sua alimentação.

Os índios do Xingu ainda são os menos sofridos. Eles tem sua reserva, mesmo que já estejam cercados pela ameaça. Outros sofrem muito mais. No Mato Grosso, a vida miserável só termina quando os pobres se matam. Sem suas terras e sua cultura, o índio perde a identidade e se suicida.

Essas mortes de vez em quando aparecem nas notícias. Ninguém faz nada, como diz Carelli. E tem também os índios que morrem silenciosamente nas ruas. No Paraná pedem esmolas nas ruas. E é impressionante como são invisíveis. Ninguém os vê.

Passam mulheres com crianças, homens vendendo orquídeas rústicas — as últimas, imagino —, que colhem nas matas que sobraram perto de sua aldeia. Passam famílias inteiras vendendo palmito ou balaios sem graça. São kaigangs e produzem um artesanato bem pobre. Passam e ninguém os vê.

Eu até os vejo, mas confesso que tenho um medo que acredito que é o mesmo dos meus semelhantes. O de que eles me peçam socorro. Essa é a única consciência coletiva que nos sobrou: de que vivemos em um país no qual não podemos nada, nem sequer ajudar um índio miserável.

As pessoas não os enxergam. Deve ser por isso também. É até engraçado: eles estavam aqui antes do primeiro branco chegar e hoje ninguém os vê. Talvez seja também o medo de se olhar em um espelho. Esses índios jogados na miséria são bem um espelho da nossa civilização. Da nossa brutalidade, da vergonha, da impotência. Como é que não vemos isso?
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Por José Pires

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

José Dirceu quer o mandato de Marina Silva

Os tubarões estão sempre à espreita. Estava demorando para o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu atacar a senadora Marina Silva, que pode abandonar o PT para candidatar-se à presidência da República pelo Partido Verde, o PV.

Dirceu chegou com o velho espírito que cultivava quando foi ministro todo-poderoso de Lula. Era o “capitão” do time, lembram que Lula falava assim dele? Era a época em que ameaçava professores universitários dizendo que a reforma das universidades públicas iria sair nem que fosse na porrada. Quem saiu foi ele. Pelas portas dos fundos e cassado.

O capitão do Lula perdeu o mandato por falta de decoro e agora veio dar pitaco no mandato de Marina Silva. Conforme ele diz, o mandado da senadora é do PT.

Até aí tudo bem, o mandato da ex-ministra do Meio Ambiente acabaria no ano que vem. Se tomarem agora ela perde o quê? Pouco mais de um ano. E o que ela ganha saindo é todo um futuro, coisa cada vez mais difícil no PT.

O problema é que Dirceu partiu para o que é de seu repertório histórico: a desqualificação do outro. Ele insinua que Marina Silva tinha muita rejeição no Acre e jamais se elegeria senadora sem a estratégia do partido. A senadora, segundo ele, era vista "como uma militante e liderança que ao lutar pela floresta, contrariava o progresso do Acre".

Parece conversa de branco ganhando dinheiro na África com a miséria nativa essa conversa de militante pela floresta que contraria o progresso. Mas para desconstruir a carreira de Marina Silva o capitão do Lula vai ter que se esforçar um pouco mais.

Bem, ainda nem é definitiva a decisão sobre sua saída, apesar de que contam que no Acre ela já está até avisando aos companheiros que não precisa sair todo mundo agora do PT. Mas o que conta, na verdade — e poucos estão falando disso — é que, além do imprevisível, mas certamente arriscado panorama criado por uma candidatura sua, nada bom para a candidatura governista, a saída de Marina Silva do partido será um golpe forte para o PT. O estrago vai ser bem grande, pois toca em um aspecto simbólico muito forte.

Hoje a senadora é certamente a figura petista com o maior prestígio internacional depois de Lula. Sempre contando com o fato de que parte imensa da fama de Lula é por conta dele ser presidente do Brasil. Marina Silva tem luz própria.

Outro problema para o lulo-petismo é que, apesar do chefão não acreditar nisso, teremos pela frente péssimos tempos para o ambiente do planeta. Com a crise ecológica que vem por aí, a gestão de Lula no meio ambiente que, mais que um desastre, está sendo criminosa, virá à tona. Seu prestígio vai virar pó de traque.

Já a imagem de Marina Silva só vai crescer daqui por diante. Não acho que sua passagem no Ministério do Meio Ambiente tenha sido grande coisa e nem poderia ter alguma qualidade com Lula como chefe. Ele não acredita em ecologia. Mas ela saiu no tempo certo e de um modo que revigorou sua história anterior. Saiu-se bem.

O PT é que não vai ficar bem perdendo uma senadora com prestígio internacional na área do meio ambiente justamente quando este é o assunto de maior importância no mundo.

A repercussão de um simples anúncio da possível candidatura pelo PV foi bem além do que poderiam esperar os caciques petistas. Todos mundo então se alvoroçou e apareceu até Dirceu fazendo pouco caso da história da senadora e reclamando o mandato dela. Bem, ele deve estar precisando, já que perdeu o seu por falta de decoro. José Dirceu está sendo engolindo por seu próprio egoísmo. Só isso explica ele estar achando que a saída de Marina Silva do PT é uma questão de mandato.
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POR José Pires

O Ministério da Saúde informa...

Quanta honra. O próprio Ministério da Saúde responde a um texto meu, o do segundo post abaixo, onde afirmo que estão lavando as mãos sobre o controle da Gripe A ao repassar a responsabilidade deste mesmo controle para estados e municípios.

Ou o Ministério da Saúde está atendendo no domícilio, no caso, um blog, ou é monitoramento político. Procurei o perfil de quem deixou o comentário, que está até com e-mail supostamente do ministério, mas nunca se sabe. E a coisa está bem mal feita. No perfil do Blogger escreveram Saúde com inicial minúscula. Se for mesmo do ministério devem estar precisando de gente lá... para monitorar comentaristas de blog.

Portanto, sou mais pela segunda hipótese. Sabia que tinha leitores em Brasília, conforme o controle do blog mostra, mas seria novidade para mim que alguns estivessem no Ministério do doutor Temporão. Meu foco é outro, mais para o lado da doutora, ou melhor, ex-doutora, já que sabemos agora que ela mentiu, Dilma Rousseff.

Mas vamos lá. A “assessoria” responde o seguinte:

“A descentralização da administração pública é o modelo de gestão adotado no país. O que o Ministério da Saúde faz é orientar a população e as Secretarias Estaduais quanto aos melhores procedimentos de contenção da pandemia e disponibilizar os recursos necessários para que cada unidade da federação (com suas particularidades geográficas, climáticas e partidárias) tome as decisões cabíveis para conter os avanços da Influenza A (H1N1) no Brasil.”

Bem, ninguém estava falando de “modelo de gestão”. É óbvio que não podemos passar a saúde pública dos municípios para as mãos do Ministério da Saúde. Já imaginaram o ministro Temporão atendendo no Posto de Saúde? Não iria dar certo. Mas uma comunicação integrada podiam ter feito. Mais informação, melhor treinamento. Isso iria inclusive impedir que fossem tomadas medidas nos municípios que o próprio ministro critica depois pela imprensa.

Além disso, sabemos bem como é a “descentralização” do governo Lula. Descentraliza apenas quando pode ser favorecido. No mais, até dinheiro dos municípios este governo segura com mãos fortes, para depois distribuir o que é de direito como se fossem benesses. Que governo bom.

Mas voltemos à Gripe A. Já somos o terceiro país com maior número de mortes. Nos 15 países com maior número de mortos o Brasil tem o segundo menor índice. É o velho cálculo feito por 100 mil habitantes. Na verdade, o único resultado é que, neste último caso, estamos bem... entre os 15 piores.

Cabe notar, porém, que a doença chegou aqui algum tempo depois de ter passado por estes outros países, o que significa que o contágio no Brasil está sendo rápido. Calma, não estou criticando ninguém. É só constatação.

Na resposta ao post, a “assessoria” diz que o Ministério da Saúde “disponibiliza os recursos necessários para que cada unidade da federação (com suas particularidades geográficas, climáticas e partidárias) tome as decisões cabíveis”.

À parte as “particularidades geográficas, climáticas e partidárias”, que tomo como mais uma ironia boboca (devem estar pensando, como sempre acham, que o crítico é tucano), a “disponibilização” não tem sido feita com mesma rapidez de comentários em blogs.

Segundo o infectologista Edmílson Migowisky, a forma como o Ministério da Saúde vem ministrando o Tamiflu está errada e por isso é que tem havido mais mortes no Brasil do que em outros países, como a Inglaterra e o Chile. Para ele, esta é a causa de boa parte das mortes que ocorreram no país.

É interessante que no caso do Tamiflu tenha havido a centralização e no controle da doença pelo país afora tenham optado por deixar por conta de quem aparecer. Ah, é modelo de gestão. Bem, sorte nossa que a doença, ao menos por enquanto, não atingiu um estado maior de letalidade. Iria ser uma tremenda responsabilidade para a diretora da escola, o lojista, o dono de teatro, e tantos outros que estão definindo o que pode e o que não pode no controle da massa para não haver maior contágio.

Os desencontros, os bate-cabeças, estão acontecendo em todo o país. E se isso não é por falta de ação do Ministério da Saúde, então culpemos a Organização Mundial de Saúde, a ONU, OMC, por aí. Como falei abaixo, até câmaras de vereadores agora legislam sobre a Gripe A. Este "modelo de gestão" ainda vai acabar levando a gente pro buraco. Espero que não seja um de sete palmos.
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POR José Pires

Mão de político brasileiro

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Bancada ágrafa

A bancada do PT no Senado encaminhou hoje à tarde uma carta aberta à senadora Marina Silva, do PT do Acre, pedindo que ela fique no partido. A senadora, que foi ministra do Meio Ambiente e saiu quase chutada por Lula do cargo, teve convite do PV para se candidatar à presidência da República.

Deve estar bem animada, pois a idéia pegou. Já teve até comparação dela com Barack Obama e isso foi feito sem o tom de piada, apesar de ser bem engraçado. Mas eu queria falar da carta dos senadores do PT. Li a peça agora no início da noite.

Deve ter sido mesmo escrita pelos senadores petistas. É provável que assessor não tenha botado a mão. Parece coisa de estudante do segundo grau. Mas se a escola for melhorzinha, no primeiro grau é capaz de ter aluno que faz igual.
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POR José Pires

Contra a gripe, o remédio de sempre

A medida mais eficiente até agora sobre a gripe suína foi a mudança de nome. Como agora é chamada Gripe A, foi-se a gripe suína. Mas a bagunça é geral com a gripe A.

O ministério da Saúde deixou a cargo dos estados e municípios medidas importantes como o fechamento de escolas e outros estabelecimentos onde junta público. O resultado é que até câmaras de vereadores já estão legislando sobre o assunto. E vereadores, bem, não é preciso falar sobre o nível dos nossos políticos municipais.

Em várias cidades escolas já estão fechadas há semanas. Universidades também deixaram de funcionar. Já tem gente falando em fechar o comércio, impedindo o funcionamento de shopping-centers.

É um comportamento estranho, quando o próprio ministro da Saúde diz que não há necessidade desse tipo de medida e de que são totalmente ineficazes. Mas então porque o ministério da Saúde não manteve a centralização no controle da doença?

Aqui temos um dignóstico antigo. Como ninguém sabe o que vai ser desta doença, já pensam em se eximir de possíveis danos. É o de sempre, o velho hábito de lavar as mãos e não como a medida profilática indicada para tantas doenças, mas para evitar os riscos políticos caso haja um agravamento, com um número elevado de mortes pelo país afora. É um remédio que não evita problemas na saúde, mas dá para o responsável se safar.

Fazendo o de sempre, Lula no início da epidemia veio com a conhecida bravata do Brasil como um país blindado contra tudo. Porém, o avanço do contágio parece estar causando o medo entrarmos em 2010 com a gripe contaminando seu palanque eleitoral.

Nem era preciso um problema como este para desmentir sua conversa de que temos um sistema de saúde pública eficiente. Mas o pânico criado em torno da gripe prova que caso haja alguma epidemia realmente grave no Brasil, estaremos todos nas mãos de Deus. E Deus, bem, basta ver o estado da África para ver que nesta área ele nada resolve.

O bate-cabeças de dirigentes e profissionais da saúde com a gripe A é geral. Mas evidentemente pesa bastante a tal lavagem de mãos que começou no ministério da Saúde de Lula. Qual é o diretor ou proprietário de escola que não teme que alguma criança adoeça gravemente, com a possível acusação de a escola não ter tomado medidas preventivas adequadas? Todos temem, é caro. Assim como prefeitos, governadores e até vereadores, ninguém quer correr tal risco.

Parece que o temor não é apenas de que aconteça uma mortandade como a da Gripe Espanhola. Os mortos não são a questão essencial. O que aflige nossos dirigentes é a responsabilidade sobre uma questão que até o momento ainda é uma incógnita.

A verdade é que a Gripe A acabou sendo politizada. Acontece isso com praticamente tudo neste país. É como uma doença contagiosa. Portanto, não é nenhuma surpresa que isso tenha acontecido também com essa epidemia.

A epidemia de gripe é nacional. Com isso, não acho que faça sentido que seu controle não esteja centralizado no ministério da Saúde. Isso evitaria o clima de pânico que se alastra e até de medidas que parecem ir na contramão de um controle real da situação. Como o fechamento de escolas, por exemplo.

Ora, para mim parece evidente que, apenas para falar deste caso, as crianças estariam bem melhor protegidas nas escolas, observadas por professores bem informados e até treinados no controle da doença. Seria inclusive um um modo mais eficaz para o tratamento e o isolamento dos doentes. A criança aparentar ter a gripe? Aí sim ele segue para tratamento, vai para casa e lá fica isolada, até melhorar e voltar ao convívio com os colegas.

Fechar as escolas e mandar a criançada para casa chega a ser uma estupidez se considerarmos a baixa condição cultural e material de muitas famílias brasileiras, em cujas casa chega até a faltar comida.

Entretanto, num país de prevaricadores como o nosso tem acontecido coisas que até parece piada. Em várias cidades a secretaria de saúde local distribui cartazes alertando que as pessoas evitem ônibus com superlotação. Espera aí! Tranpsorte público com superlotação é algo fora da lei e é o próprio município que tem a responsabilidade de evitar isso. Haja ou não gripe A.

É que é tamanha a pressa em se eximir de responsabilidades, que se esquece das obrigações básicas que jamais são cumpridas. Quanto ao pânico geral, bem, quanto ao pânico geral, caso isso também fique mais grave, já devem estar pensando em algum remédio. Dos municípios ao governo federal, passando pelos estados e até instituições privadas, todos já devem estar elaborando um meio de lavar as mãos.
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POR José Pires

sábado, 8 de agosto de 2009

Collor mente, diz jornalista da Veja

Mais uma boa informação sobre mentiras da tropa de choque de defesa de José Sarney é publicada nesta semana pela revista Veja. Em sem artigo semanal, sempre muito bom, publicado na última página da revista, Roberto Pompeu de Toledo desmente o senador alagoano Fernando Collor.

Na triste sessão do Senado em que praticamente ameaçou o senador Pedro Simon, Collor acusou o jornalista de ter oferecido uma entrevista nas famosas páginas amarelas de Veja ao ministro Ilmar Galvão, com a condição de que este declarasse a culpa de Fernando Collor, no processo que corria contra o ex-presidente no STF, processo do qual Galvão era o relator.

Durante sua fala, Collor também desafiou o jornalista a desmentir a história. Pois Pompeu de Toledo fez isso de um modo que não admite dúvidas. “É mentira. Mais uma vez: MENTIRA. E uma terceira: MEN-TI-RA”, ele escreve.

Transcrevemos o artigo na íntegra em nosso arquivo. Para ler, clique aqui.
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POR José Pires

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Sarney mente em discurso

O jornal O Estado de S. Paulo pegou o discurso do presidente do Senado, José Sarney, proferido ontem para se defender da sucessão de escândalos que trazem seu nome à frente, e analisou ponto por ponto.

O jornal encontrou várias manipulações feitas em proveito próprio pelo senador — que o Estadão chama, sei lá por quê, de “deslizes”, quando são, na verdade, mentiras que tem por trás todo um planejamento de equipe. Algumas são de uma desfaçatez abusada, mesmo para um Sarney, como quando diz que não conhece Rodrigo Cruz, nomeado para um cargo no Senado. “Rodrigo Cruz, também não sei quem é”, ele diz. “Incluíram como se fosse nomeado por mim”. Rodrigo Cruz casou com a filha de Agaciel Maya, Mayanna. Sarney foi padrinho do casamento há poucos dias.

Abaixo estão algumas pérolas da manipulação feita por Sarney e desmentidas com fatos pelo jornal. Os trechos da fala de Sarney vão aspadas. As observações do Estadão estão em azul.


"Aguentei 12 mil greves, sem que nunca tivesse pedido um dia de prontidão militar, e crescemos, àquele tempo, a números que até hoje não se repetiram. Criamos uma sociedade democrática que, num sistema de capilaridade, penetrava em todas as camadas."
Em 1988, quando os metalúrgicos de Volta Redonda (RJ) entraram em greve e ocuparam a Companhia Siderúrgica Nacional, o então presidente Sarney enviou o Exército para reprimi-los. No conflito, três jovens operários foram mortos e 31 saíram feridos.

"Eu acho que ninguém aqui nesta Casa sabia ou podia pensar que existisse ato secreto. Acho que é necessário esclarecer primeiro ao povo brasileiro o que se chama ato secreto."
Sarney anulou os atos secretos num primeiro momento

"Assim, esses atos, a meu ver, tinham uma nulidade essencial. Por isso, eu, pelo Ato 294, de 14 de julho de 2009, anulei todos eles,"
Esta semana, o Senado anunciou que abrirá um processo para cada funcionário nomeado por ato secreto. Enquanto isso, esses funcionários seguirão trabalhando.

"não se nomeia para o gabinete quem não for requisitado para nomear pelo Senador; e ele foi feito. Está aqui a requisição ao Diretor-Geral, do Senador Epitácio Cafeteira, que já teve a oportunidade de confessar que não me disse que tinha nomeado."
Cafeteira confessou que nomeou João Fernando a pedido de Fernando Sarney, filho do senador.

"Eu requisitei do Ministério da Agricultura para a Presidência e pedi ao Senador Delcídio que a colocasse no gabinete em Mato Grosso, porque ela tinha se casado, e assim ela continuava trabalhando, não me julgando que nisso houvesse qualquer falha ou qualquer..."
Nomeada em 2003, Vera Macieira já vivia em Mato Grosso naquele ano. Ela não se mudou para o Estado na época da nomeação.

"Isabella Murad Cabral Alves dos Santos - Também não é minha parenta. Foi nomeada pelo Senador Cafeteira, que, segundo me afirmou, foi a pedido do Sr. Eduardo Lago, que é primo do Governador do Maranhão, que era meu adversário, e não por mim." Sarney não disse, mas Isabella Murad é sobrinha de seu genro, Jorge Murad. Ele apontou o parentesco do empresário Eduardo Lago com adversários seus na política maranhense. Lago, entretanto, é ligado à família Sarney. A Polícia Federal investiga depósitos feitos por ele, às vésperas da campanha eleitoral de 2006, em contas controladas pelo filho de Sarney, Fernando.

"Luiz Cantuária, também não sei quem é Luiz Cantuária."
É político do Amapá, ligado a Sarney. Foi nomeado para vaga no Conselho Editorial, que Sarney preside.

"Rodrigo Cruz, também não sei quem é. Incluíram como se fosse nomeado por mim."
Sarney foi padrinho de casamento de Rodrigo Cruz no dia 10 de junho. Rodrigo se casou com a filha de Agaciel Maia, Mayanna. Ele trabalhou dois anos no Senado por meio de ato secreto.

"Perdão, eu pulei Ivan Sarney. Ivan Sarney trabalhou aqui dois anos - em 2003 ou 2004, não me lembro, 2005 -, no gabinete do Senador João Alberto, que não é mais nem um gabinete, e é incluído aqui como se estivesse na lista entre a minha maneira de fazer nepotismo dentro da Casa."
Ivan Sarney é irmão de José Sarney. E o ex-senador João Alberto é aliado de primeira hora dos Sarney na política maranhense. Hoje, é o vice de Roseana.

"Outra denúncia que fizeram é que meu neto tinha sido privilegiado com agenciamento de créditos consignados de forma fraudulenta. Meu neto nunca teve nenhuma relação com o Senado."
O próprio neto de Sarney, José Adriano, admitiu ao 'Estado' que operava no Senado, que era, nas palavras dele, o 'carro-chefe' de sua empresa. A Sarcris representava o banco HSBC.

"Tratou-se também da Fundação Sarney, acusando-me de nela ter funções administrativas e ter negado isto desta tribuna."
Como presidente vitalício, posto que lhe é conferido pelo estatuto da fundação, Sarney tem responsabilidades sobre a entidade. A Fundação José Sarney desviou dinheiro recebido da Petrobrás para empresas fantasmas e para empresas da família Sarney.

"Não há nelas qualquer palavra minha, mesmo nessa gravação, em relação à nomeação por ato secreto. É claro que não existe o pedido de uma neta; se pudermos ajudar legalmente, qualquer um de nós não deixa de ajudar."
O senador não usa o termo ato secreto. Mas foi por ato secreto que, depois de seu empenho pessoal, o namorado da neta foi nomeado.

"Agora, quero mostrar aos senhores os métodos que foram adotados. Não encontrando nada contra mim, então faltando - acho - notícia, querendo generalizar - os senhores vão ficar pasmados - fraudaram a fita que distribuíram aos jornais e incluíram o meu nome com a voz de uma outra pessoa,"
Sarney se referia, especificamente, a gravação feita durante a Operação Navalha, que investigou o empreiteiro Zuleiro Veras, dono da construtora Gautama. No discurso, tentou generalizar a suspeita. Não há nenhum questionamento sobre as gravações em que ele se refere à contratação do namorado da neta, feitas em outra operação.
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POR José Pires

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Sarney, o presidente do golpe

O bafafá no Senado está rendendo elementos importantes para a História, além do lamaçal que junta Lula, Sarney, Renan Calheiros e Collor, garantindo para o petista um bom lugar no lixo da história.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo logo depois do incidente em que praticamente foi ameaçado por Fernando Collor, o senador Pedro Simon trouxe novidades sobre a subida de Sarney ao poder com a morte de Tancredo Neves em abril de 1985. Leiam na íntegra:

Onde começou sua desavença com o presidente Sarney?
Quando fui contra a candidatura dele à Vice-Presidência da República. O Tancredo Neves estava no quarto do hospital de Base, em 14 de março de 1985 (um dia antes da posse), perguntamos o que fazer ao dr. Ulysses Guimarães. E chegou o general Leônidas (ministro do Exército, levado por Sarney). O general disse que Sarney deveria assumir. Eu comecei a falar e dr. Ulysses não deixou eu falar e confirmou o Sarney. Aí foram embora Sarney e o general. Nós ficamos no quarto, e dr. Ulysses disse que estava tudo preparado há meses e que o general Leônidas estava comandando tudo. E o Sarney assumiu.

O senhor disse que foi um golpe.
Sim, um golpe, claro que foi. Deu golpe e virou presidente. E nós calamos a boca. O Tancredo não tinha assumido, não era presidente. Quem tinha de assumir era o presidente Congresso.”


A omissão com Sarney, portanto vem de longe, da véspera da posse. Depois, gente como Ulysses Guimarães e até mesmo Pedro Simon foram lenientes com a estruturação da corrupção naquele pós-ditadura. Com Collor, no início, não foi diferente. Depois, para finalizar, foram vagarosos e desta vez cúmplices com a montagem do esquema lulo-petista. Se Lula tivesse sido apeado do poder com o mensalão, é provável que o país fosse bem menos corrupto.

Mas o que fizeram então? Pouca coisa. Se não fosse a imprensa, é possível que a roubalheira nem tivesse chegado ao STF. Na classe política os corruptos dominam e os honestos são passivos. Só podia dar no que deu.
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POR José Pires

Collor vai ter que se explicar

Após a discussão de ontem no plenário do Senado, no mesmo dia o senador Pedro Simon (PMDB-RS) encaminhou pedido para que a Corregedoria do Senado interpele o senador Fernando Collor (PTB-AL) sobre as acusações feitas a ele.

Na ocasião, Collor prometeu “relembrar momentos bastante incômodos” para Simon. No pedido, o senador gaúcho pede que Collor “explicite os fatos de que fez ilação".

Os jornalistas foram imediatamente atrás de Collor para saber sua opinião sobre a decisão de Simon e o senador alagoano não fugiu ao estilo. "Manda ele [Simon] para...", e não completou a frase.

No pedido, Pedro Simon diz que “a interpelação é fundamental para o esclarecimento dos fatos, resguardo de minha honra e de minha biografia pessoal e política".

No agressivo aparte que fez ontem, o senador alagoano havia dito a Simon para “engolir as palavras”. Pelo visto, Collor é que não devia sequer ter expelido palavra alguma.
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POR José Pires

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Lula sempre está na foto


Hoje os jornais trazem, é claro, o bafafá ocorrido no Senado, quando o senador Pedro Simon foi atacado de modo agressivo por Renan Calheiros e Fernando Collor. O assunto foi para a capa. O Estadão traz a melhor foto — à frente aparece José Sarney e logo atrás, desfocado na imagem de modo perfeito, está Collor.

A boa foto é de Celso Júnior. Pode ser um retrato atual da República. Nela não falta nem o presidente Lula, pois sua presença em espírito é garantida pelos dois ex-presidentes. Que país é este em que um político de baixa categoria moral como Fernando Collor fala daquele jeito com alguém respeitável como Pedro Simon e não sai dali preso só pelo desrespeito? Aliás, o estado em que se encontra país já é discutível pelo fato de Collor poder ter sido eleito senador.

O senador Pedro Simon, é verdade, é um dos que pecam pela honestidade passiva e que se mostrou omissa nos últimos tempos. Não fosse assim, o Senado não estaria enlameado como está. Precisamos de uma honestidade mais ativa, com ação crítica mais objetiva sobre os males brasileiros, e não só do Senado. Mas é fato que Pedro Simon é um homem de bem, tem a estatura moral exigida, ao menos em teoria, de um Senador e Collor não.

No momento em que sofria os ataques de Collor e Renan Calheiros, talvez pudesse ter passado pela cabeça de Simon o quanto o país perdeu com a falta de rigor de políticos como ele neste período histórico do final da ditadura militar para cá.

José Sarney, Fernando Collor e Lula — esta não é uma cara boa para a nossa República, mas infelizmente é o que somos hoje. Não sou dos que acham que esta é uma característica nacional. Tampouco vejo verdade no refrão que diz que este Congresso Nacional representa o estado em que o país está. Não é bem assim. Devido ao formato político de nossas eleições, estes políticos não são nada representativos. Boa parte desses mandatos se encaixa praticamente na categoria de cargos comprados.

Mas, de fato, a política tornou-se isso que aí está e dificilmente vai se auto-regenerar. A limpeza terá que ser externa. Não há outro jeito.

Mas, enfim, esta é a nossa vida atualmente. Tempos tristes e que me lembram de "A Marcha da Insensatez", o magnífico livro de Barbara W. Tchman, especialmente em um trecho no qual ela escreve sobre a queda moral da Igreja Católica durante a Renascença. Na época vendia-se até vaga no Céu. A Igreja tornara-se uma máquina de fazer dinheiro e os papas viviam entre crimes. No Brasil da atualidade a política é a máquina de fazer dinheiro.

Escrevendo sobre a Igreja na época, Maquiavel afirmava que “quanto mais se aproximam da Igreja de Roma, cabeça de nossa religião, menos religiosas as pessoas ficam”. Troque Igreja pelo lulo-petismo e fica parecido. Quanto mais próximas do partido ou de seu líder máximo, menos éticas as pessoas ficam.

Mas, voltando à Barbara W. Tuchman, sua sabedoria pode ajudar-nos a entender esta corrupção impressionante na política. O nome do livro se encaixa com perfeição no momento. Estamos em uma marcha da insensatez. Enquanto o país ruma para o abismo em questões como meio ambiente, infraestrutura e tantos assuntos mais, os governantes se preocupam em se perpetuar no poder e afanar cada vez mais.

Então, sente-se nas pessoas um desalento, uma sensação coletiva de que o país não tem conserto. Surge até a idéia de que todos estamos tomados por esta falta de ética, vem aquele discurso de que é a mesma coisa estacionar na calçada e assaltar os cofres públicos. E não é a mesma coisa e nem somos todos corruptos. Aí, é até uma questão técnica: a corrupção se tornaria inviável. Só é possível roubar os cofres públicos se houver uma maioria colocando dinheiro neles.

Falando sobre o descalabro ético que tomou conta da Igreja na Renascença, Tuchman diz que nenhuma característica isolada jamais engolfa toda uma sociedade. Enquanto o alto clero era envolvido pela ganância e se dedicava a toda espécie de crime, diz ela, inúmeras pessoas de todas as categrias ainda adoravam a Deus, confiavam nos santos, desejavam apoio espiritual e viviam vidas dignas. É parecido com o Brasil. Enquanto vivemos com dignidade, o alto clero da política rouba.

A maioria das pessoas evidentemente não vive conforme os padrões desses governantes. Lula vai ficar na história como o maior estimulador dessa dissolução moral. E está cercado de suspeita de ser o chefe da roubalheira. É uma homem muito rico, condição estranha para um ex-metalúrgico. À esta altura deve ser um milionário, pois em 2006, quando se elegeu para o segundo mandato, apresentou ao TSE um patrimônio de R$ 839.033,52. Havia dobrado sua fortuna desde o início do primeiro mandato, em 2002, quando dizia ter R$ 422.949,32.

Não à toa, temos aí homens que enriqueceram com a política unidos para evitar que haja sequer a discussão sobre delitos morais terríveis. Lula, como sempre está na melhor companhia: Collor, Sarney, Renan Calheiros. A crise que aí está serve pelo menos para revelar de vez a cara de seu governo. Ele próprio percebeu isso, tanto que já busca descartar Sarney, ou pelo menos desligar sua imagem dos escândalos do senador maranhense eleito pelo Amapá.

Mas parece que já é tarde para isso. A foto na capa do Estadão mostra bem isso. Nela só estão Sarney e Collor, mas é impossível não perceber a presença de Lula.
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POR José Pires

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Vidas ilustres

Para ninguém dizer que é perseguição ao senador José Sarney, fiz uma reciclagem na charge publicada na última quarta-feira. Sou um ecologista do humor: com a reciclada ela ficou perfeita também para o Lula.  É que tudo está tão misturado que, no final, o cheiro é o mesmo.



Maluf acionado para devolver dinheiro público

O Ministério Público quer que a família do deputado Paulo Maluf devolva R$ 303 milhões aos cofres públicos. O dinheiro teria sido roubado de grandes obras em São Paulo, quando Maluf foi prefeito da capital. O Túnel Ayrton Senna e a Avenida Água Espraiada seriam algumas das obras onde ocorreram desvios de verbas.

Além de Maluf, são alvo da ação seus quatro filhos e também sua ex-nora. Segundo o Ministério Público, o dinheiro teria sido desviado para o exterior e depois voltou ao país por meio de compra de ações da Eucatex, empresa da família Maluf.

Mas com o Maluf pode? Lula ainda não se manifestou sobre o assunto, mas seria interessante saber se na sua opinião Maluf é uma “pessoa comum”. Biografia ele tem. E muita. E é da base de apoio do governo. Aliás, um dos apoiadores mais entusiasmados da era lulo-petista.

Bem, se não se pode mexer com o Sarney, então não se deve fazer também com Maluf esta injustiça, não é mesmo? Com a palavra os petistas.
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POR José Pires

sábado, 1 de agosto de 2009

Sem palavras


É uma ironia da história que a censura à imprensa volte ao Brasil com José Sarney. O presidente do Senado, que já está bem próximo da renúncia, foi um dos políticos brasileiros que cresceu à sombra da ditadura militar. Fez fortuna sob a guarida do arbítrio. Com a classe política sob pressão e com os melhores quadros da política, do empresariado e da universidade impedidos ou destruídos pelo regime, gente como Sarney só podia lucrar. E como lucrou. Hoje é um dos poderosos da era lulo-petista e em números oficiais quase um bilionário.

A censura voltou com um ato do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), que proibiu o jornal O Estado de S. Paulo de publicar reportagens que contenham informações da chamada Operação Boi Barrica, que flagrou vários ilícitos da família Sarney. Fernando Sarney, filho do senador, foi quem entrou com o pedido de censura. E tinha vários motivos para isso, entre eles o de que foi flagrado em grampo da Polícia Federal autorizado pela Justiça dando um cargo no Senado para o namorado da filha e, claro, neta de Sarney.

A decisão determina que o Estadão não publique mais informações sobre a investigação da Polícia Federal. A censura prévia da ditadura militar funcionava assim. Na época, Sarney era um dos mais importantes caciques da Arena (que depois mudou de nome para PDS), o partido da ditadura. O ato também institui a censura em toda a imprensa brasileira, já que proíbe os demais veículos de comunicação de utilizarem ou citarem material publicado pelo Estadão.

Em caso de descumprimento da decisão a multa é de R$ 150 mil para cada reportagem publicada. A família Sarney, como sempre, queria mais. O pedido feito pelo filho do presidente do Senado, pedia a aplicação de multa de R$ 300 mil.
Não faltam argumentos sobre este ato e tampouco elementos que demonstram quanto é suspeita esta decisão. A imagem acima, porém, dá a melhor visão de como anda a Justiça neste país. Lembra aquelas piadas antigas que traziam abaixo a frase “sem palavras”.

Ela já está sendo publicada em vários pontos da internet. O desembargador Dácio Vieira, que concedeu a liminar à família Sarney, é o primeiro à esquerda; ele está acompanhado da mulher, Ângela; ao lado dela está Sânzia, mulher de Agaciel Maia, ex-diretor geral da Casa; Agaciel está à esquerda, ao lado do senador Renan Calheiros; no meio está Sarney.

A foi tirada no casamento da filha de Agaciel Maia. Sarney foi padrinho da noiva. Lembre-se que ao fundo, durante o casório, tocavam a música-tema de O Poderoso Chefão.
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POR José Pires