quinta-feira, 2 de abril de 2009

Lulices para o mundo inteiro

Costumo escrever aqui no blog sobre como é preocupante para a imagem do Brasil no exterior ter o nosso presidente inzoneiro falando bobagens mundo afora. É claro que penso apenas nos círculos restritos, entre personalidades políticas e formadores de opinião. Os outros povos se importam com o Brasil muito menos do que imaginam os brasileiros.

O que alguém como Barack Obama deve pensar depois de receber Lula? Nosso presidente (é... o que se há de fazer?) ficou por lá cerca de uma hora, fazendo piadinhas o tempo todo. Deve ter sido uma experiência pitoresca, algo como confabular com um político republicano daqueles bem retrógrados.

E o pior é que Lula quer fazer o papel do boa-praça com todos os dirigentes de outros países. Ele parece ter dificuldade de diferenciar entre uma reunião com meia dúzia de prefeitos de pequenas cidades e o encontro com um alto dirigente de um país estrangeiro. Tudo se mantém no mesmo nível de uma conversa de churrasco de domingão.

Agora, na visita do primeiro-ministro Gordon Bown ao Brasil, acabou soltando aquela frase sobre a culpa da crise ser dos brancos de olhos azuis. Esse é o resultado da condescendência de todos com seu estilo. Ele acaba passando do limite. Cercou-se de áulicos que veêm luzes quando ele fala e por isso perdeu o senso de medida. Não vê que aquilo que internamente até pode ser visto como a atitude de um governante boa-praça tem um efeito bem diferente no plano internacional. Aí, pode até ser desastroso.

O que ele fez foi uma afirmação racista. É inaceitável que o presidente da República faça distinções absurdas como esta, de que gente branca é responsável pelos males do mundo. Quando olho para o meu pequeno filho, branco e de olhos claros, mais para o verde, mas que sempre pode ser identificado como da "raça" dos causadores da crise, me dá um pesar e um alívio: primeiro, o pesar de que o futuro dele esteja sob a responsabilidade de um bestalhão desses, e depois o meu alívio por não vivermos [ainda] um clima de tensão racial. Com um presidente como Lula estaríamos guerreando nas esquinas.

Com essa conversa, aliás, Lula poderia ter feito o maior sucesso na sua rodada pela África, quando fez graça para ditadores de alguns países por onde passou. É a mesma auto-vitimização feita por ditadores como o africano Robert Mugabe quando são acusados por instituições internacionais por crimes em seus países. Mugabe culpa sempre os estrangeiros e por uma razão simples, talvez parecida com a de Lula: isto o exime de assumir suas próprias responsabilidades.

Também é bastante contraproducente levar para o plano racial uma discussão até justa sobre os graus de responsabilidade de cada país em relação à crise. Algum petista pode até dizer que é isso que ele quis dizer. Mas aí já temos outro problema, o de alguém que precisa de tradutor até para o que fala em português.

Mas, de qualquer modo, ele acabou culpando as pessoas brancas e de olhos azuis. O primeiro-ministro Brown ouviu a barbaridade e se calou, pelo menos aqui no Brasil. Mas ouviu outras coisas também. E agora saiu falando para o mundo todo.

Até parece uma desforra do inglês. Ontem durante entrevista coletiva ao lado de Obama na reunião do G-20, ele revelou para mundo inteiro o que Lula falou durante aquela reunião. É algo tão absurdo que até deixou em segundo plano a frase sobre a raça branca.

Vejam o que disse Brown: "Estive no Brasil na semana passada e acho que o presidente Lula me perdoará por dizer isso. Ele me disse: Quando eu era líder do sindicato, eu culpava o governo. Quando me tornei líder da oposição, eu culpava o governo. Quando me tornei governo, passei a culpar a Europa e a América."
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POR José Pires

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