quinta-feira, 9 de abril de 2009

Protógenes fala e fala e nada diz

O delegado Protógenes Queiroz havia prometido “dar o nome aos bois” em seu depoimento na CPI dos Grampos. Pois foi um dos depoimentos mais chochos que já se viu. Nenhum boi, nem bezerro. Nem sequer um peixe pequeno foi nominado pelo delegado.

A trajetória de Protógenes parece seguir o rumo de sempre. Já é candidato, só falta escolher o cargo e o partido. E como é um excelente chamariz de holofotes, tem em torno dele um grupo de políticos tentando grudar-se à sua imagem construída de obstinado justiceiro. É um jogo arriscado. Uma breve passada no blog do delegado permite ver que ele não bate bem da bola.

Parece um daqueles blogs amalucados de gente com uma missão no mundo. Os textos de Protógenes começam sempre assim: “ao povo brasileiro e aos internautas”. Quem não ver que tem algo errado, então tem mesmo que seguir o delegado.

O site Consultor Jurídico fez uma boa cobertura do depoimento e conta que deputados que nunca deram as caras na CPI dos Grampos apareceram por lá para tirar sua casquinha. A lista é interessante: Chico Alencar (PSOL-RJ), Ivan Valente (PSOL-SP), Paulinho da Força (PDT-SP), ACM Neto (DEM-BA), Mendonça Prado (DEM-SE) e Paulo Lima (PMDB-SP). Até senadores sem ligação com o caso foram dar uma bisbilhotada e, claro, marcar presença perante a mídia. O petista Eduardo Suplicy, o peemedebista Pedro Simon e José Nery, do PSOL, estavam entre os que deram as caras.

Tanto o PDT quanto o PSOL cobiçam a candidatura de Protógenes, o que dá uma boa visão do que ele pode desenvolver na política. Os políticos do PSOL elegeram Protógenes como ídolo. Mas aí dá para entender. Um partido guiado no plano teório e político por Heloísa Helena tem mesmo que ver Protógenes como o suprasumo da lucidez.

Durante o depoimento os deputados Luciana Genro e Chico Alencar, ambos do PSOL, agiram como advogados de defesa. Mas Paulinho da Força, deputado e dirigente do PDT também estava lá apoiando o delegado. É que Paulinho quer tê-lo figurando em seu partido como candidato.

Coincidentemente ou não, saiu hoje o relatório final da Corregedoria da Polícia Federal que investigou a atuação do delegado na Operação Satiagraha. E a investigação prejudica bastante a imagem de Protógenes.

Uma das conclusões do relatório é que Protógenes tem como objetivo seguir carreira política, o que só vem oficializar o que já é bem evidente desde que foi montado todo aquele aparato para prender Daniel Dantas e outros.

Quanto à espetacular prisão feita pela Operação Satiagraha, o relatório da Corregedoria afirma também que o próprio Protógenes telefonou para a reportagem da TV Globo para acertar a filmagem das ações de julho do ano passado, quando foram presos o ex-prefeito Celso Pitta, Naji Nahas e o banqueiro Daniel Dantas.

O relatório também oficializa algo que todos desconfiavam. A TV Globo infringiu gravemente a ética no episódio da suposta tentativa de suborno de um agente da operação. Uma equipe da Globo de São Paulo filmou a pedido do delegado o flagrante no restaurante El Tranvia, em junho, quando emissários de Dantas teriam tentado corromper um delegado federal.

Teve um bandido famoso, o Lúcio Flávio, numa época em que os papéis não estavam tão misturados no Brasil, que disse que "bandido é bandido e polícia é polícia". Já passou da hora da mídia agir tendo em vista que "bandido é bandido, polícia é polícia e jornalista é jornalista".

Mas Protógenes nada falou sobre esses fatos e outra grande variedade de acontecimentos que cercam sua carreira desde que ele surgiu do anonimato para uma espantosa celebridade. Até agora não apresentou nada de substancial no âmbito de seu papel como investigador policial. A pergunta óbvia já antecipa qualquer resultado jurídico: onde estão as provas?

A cada nova divulgação do material colhido na operação chefiada por ele, percebe-se que havia um ensaísta (bem ruim, por sinal) onde era exigido um policial investigativo. Não há provas dos delitos. E o resultado pode ser até inverso ao pretendido, dando um atestado de inocente para gente sobre as quais pairam suspeitas imensas. Eu disse "pairam suspeitas"? Com policiais menos estouvados, mesmo com advogados caros e lobistas influentes seria bem mais difícil se safar da cadeia.

Mas, como sempre, o famoso delegado frustrou as expectativas sobre o seu depoimento, se é que ainda existe alguém que não percebeu que até o momento o que há neste assunto é só a manipulação eleitoral para uso efetivo no ano que vem. Parece uma pré-campanha.

E pelo que tem aconteceu durante na CPI dos Grampos, dá pra dizer que a campanha já tem até o slogan. Na entrada para o depoimento, Protógenes foi aplaudido por pessoas vestidas com camisetas amarelas com a frase “Protógenes contra a corrupção” em letras verdes.
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POR José Pires

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