quarta-feira, 1 de abril de 2009

Obrigatoriedade de difícil aplicação

Outra mentira corporativista, esta bem cínica, é colocar a obrigatoriedade no campo da melhoria da qualidade crítica da nossa imprensa. Não é verdade nem na essência. Se fosse assim, os sindicatos de jornalistas e as federações produziriam o melhor material da mídia brasileira. E a verdade é que produzem pouco. E o que sai do meio sindical jornalístico é muito, mas muito ruim mesmo. É basicamente ideológico e sem qualidade jornalística.

Outro fato é que a obrigatoriedade nem está mais afeita aos jornalistas, mas sim aos assessores de imprensa, que com a crise no mercado jornalístico acabaram se tornando mais numerosos que os jornalistas que trabalham nas redações. Estes, com todo o respeito às suas atividades, não praticam jornalismo. Faço a ressalva porque sei que alguns tentarão me indispor com os assessores. Para desviar do que é substancial na discussão, vale tudo. Mas um bom assessor de imprensa sabe que um requisito jornalístico obrigaria que ele ouvisse o outro lado. Bem, em sua atividade o outro lado muitas vezes é o próprio produto concorrente.

Trata-se de outra atividade, cada vez mais influente e que, aliás, ocupa espaços também cada vez maiores e sem a necessidade da intermediação profissional do jornalista. Nestes tempos de internet o que deve acontecer cada vez mais é a comunicação direta com o público que interessa às empresas. Daí entra o assessor de imprensa e não mais o jornalista.

A internet traz também uma questão importante caso o STF cometa o erro de validar a obrigatoriedade. Para mim, é o mais significativo nesta discussão. O que os interesses corporativistas irão fazer com a numerosa quantidade de pessoas de todas as profissões que escrevem na internet?

É muita gente sem o diploma. E muitas delas escrevendo e informando melhor que qualquer jornalista saído dessas arapucas chamadas faculdades de jornalismo — inclusive algumas universidade públicas que também praticam algo bem parecido com o estelionato. Na área dos blogs de música, por exemplo, a maioria está sob o comando de pessoas que jamais trabalharam em jornais, sem diploma ou com diploma. E esses blogueiros fizeram em pouco tempo uma revolução no acesso ao conhecimento musical e às própria músicas. A Federação dos Jornalistas vai mandar fechar estes blogs como as grande corporações fonográficas tentam fazem?

Se houvesse alguma obrigatoriedade do tipo na internet eu penso que hoje em dia este meio nem teria se desenvolvido. Na minha opinião, a obrigatoriedade do diploma é uma das causas maiores da derrocada da mídia impressa que, no Brasil, teve uma queda de qualidade enorme nos últimos tempos. Antes do início da internet nossos jornais já caíram bastante em qualidade, em parte pelo descompasso no mercado de trabalho criado pela proliferação de péssimos cursos jornalísticos.

Então irão proibir de escrever na internet sem o diploma? A Polícia Federal atacará, sem algemas ou com algemas, os escritórios e cantos de sala onde são produzidos blogs que estão produzindo conteúdos que apontam para o que de melhor se pode fazer na comunicação global? Será que pelo menos e-mail poderá ser escrito sem o diploma?

Pode ser uma boa idéia para aumentar o mercado de trabalho e a conseqüente renda dos sindicatos. Impor a obrigatoriedade de que todo todo e-mail seja escrito por um jornalista com diploma.

Tomara que hoje no STF seja extinta definitivamente a obrigatoriedade do diploma de jornalista. Pelo menos para ficarmos livres desse debate retrógrado e podermos nos concentrar naquilo que realmente importa.
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POR José Pires

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