domingo, 6 de março de 2011

Brasil ignora a luta pela democracia em Angola

A imprensa brasileira sempre teve uma relação distanciada dos países da língua portuguesa. Na recente reforma ortográfica (ou remendo ortográfico, uma melhor definição) deitou-se falação aqui no Brasil sobre a aproximação dessas antes lusitanas que até hoje falam praticamente a mesma língua.

Se estamos longe da antiga matriz colônia, Portugal, mais distanciados ainda ficamos dos países da África que falam o português. O desinteresse pelos recentes acontecimentos muito importantes na política de Angola mostra bem a falta de uma política editorial com sentido mais profundo dos nossos jornais, sites e também das revistas.

A ex-colônia portuguesa vive um descontentamento com o governo de José Eduardo dos Santos, que à frente do MPLA (Movimento para a Libertação de Angola), controla o país há 32 anos. A oposição ao regime angolano convocou para esta segunda-feira, dia 7, uma manifestação pedindo liberdade no país, mo entanto não houve no Brasil nenhuma atenção a um fato tão importante.

Nossos jornalistas não tocam no assunto, mesmo com a manifestação dos angolanos vindo no contexto das revoltas que começaram na Tunísia e avançaram para o Egito e a Líbia, além de países árabes. O que acontece em Angola não serve nem para box em matérias sobre o confronto com o ditador Kadhafi.

O curioso é que também a oposição evita o assunto. Evidentemente não se espera que o governo do PT se envolva de forma alguma na luta dos angolanos por liberdade e democracia. Este governo tem uma relação de amizade com o regime do MPLA, com laços fortalecidos até por um interesse particular por Angola que existe entre alguns petistas. Mas é lamentável que nem a oposição compreenda a importância de revelar e debater o que anda ocorrendo em Angola.

Bem, mas nossa oposição só acorda para certos temas quando enfrenta uma eleição em que entra enfraquecida. Por enquanto, só dá para acompanhar os acontecimento em Angola por meio de jornais como o Público e do blog Página Um. E aqui neste blog, pois, pois...

Enquanto isso, em Angola a ditadura do MPLA pressiona a oposição. Neste sábado o regime organizou uma passeata de apoio a José Eduardo dos Santos. Os organizadores da manifestação chapa-branca anunciaram que milhões iriam às ruas aclamar o regime durante a marcha que eles definiram como "a favor das políticas de paz e desenvolvimento do Presidente". Porém, segundo o jornal português Público, a Rádio Nacional de Angola estimou em meio milhão de pessoas a multidão que integrou a marcha. Foram distribuídos gratuitamente bonés brancos e camisetas.

Já ocorrem confrontos no país entre a oposição e manifestantes favoráveis ao governo do MPLA. Segundo o jornal Público, em Dundo, na Lunda Norte, segundo informação do site Club-K, Club dos Angolanos no Exterior, ocorreram confrontos que provocaram ferimentos em, pelo menos, 28 jovens, cinco dos quais terão ficado em estado grave.

A conversa do regime sobre a reivindicação de democracia pela oposição é a mesma de qualquer ditadura ou de partidos que querem se perpetuar no poder. Durante a marcha chapa-branca, o vice-presidente o vice-presidente do MPLA, Roberto Victor de Almeida, denunciou a existência de forças que procuram travar o desenvolvimento do país e o bem-estar dos cidadãos. "Muita gente quer interromper a nossa caminhada. Querem que paremos o nosso trabalho, o que é inaceitável". Já ouvimos essas conversa por aqui em eleições, não é mesmo?

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POR José Pires

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