sexta-feira, 11 de março de 2011

A ética fora da normalidade

O Brasil é um país de espantar. Mas cada vez me espanto mais é com o espanto dos outros. Não deixa de ser correto se indignar com fatos como a recente nomeação do ex-deputado Genoníno Neto para assessor do ministro da Defesa, Nelson Jobim. Mas na situação em que chegou o Brasil, convém ter um certo cuidado para não causar estranhamento.

Não é em qualquer país que um réu em processo no Supremo Tribunal Federal, acusado em um caso grave como o do mensalão petista, acaba ficando na sala ao lado do ministro de uma pasta de tanta importância. É preciso que uma nação tenha descido bastante na escala ética para acontecer algo assim.

Porém, uma decisão como esta tem que ser vista também dentro do contexto de um país que tem José Sarney na presidência do Senado, o PT presidindo a Câmara, e também com a presença de ilustres mensaleiros como o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) na presidência da Comissão de Constituição de Justiça.

Genoíno no ministério da Defesa é também o desenvolvimento lógico da presença na comissão da reforma política de Paulo Maluf (PP-SP), que nem pode viajar para fora do país porque é procurado pela Interpol, Valdemar da Costa Neto (PR-SP), também réu no mensalão, e Eduardo Azeredo (PSDB-MG), o criador do mensalão mineiro.

É preciso ter cuidado. Num quadro desses, qualquer indignação ética pode muito bem ser vista como uma manifestação de grave anormalidade.
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POR José Pires

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