Hoje pode haver uma decisão que deve ser vista como a única boa notícia sobre o Programa Nuclear Brasileiro desde que aconteceu o acidente nuclear no Japão. É a demissão do presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Odair Dias Gonçalves. Ele está à frente da CNEN desde o início do primeiro mandato do governo Lula. Com ele deve rodar toda a direção do órgão. É a primeira boa notícia em anos de programa nuclear. Na semana passada o jornal Correio Braziliense trouxe a descoberta de uma porção de trapalhadas cometida na CNEN, que contrastam bastante com a firme defesa da segurança do programa brasileiro feita por Gonçalves logo após o desastre nuclear japonês.
Logo depois do acidente nuclear em Fukushima, no Japão, escrevi aqui sobre a ágil movimentação feita no Brasil pelo lobby nuclear. O interesse dessa indústria é grande em nosso país. Para se ter uma idéia do volume de dinheiro que pode girar no Programa Nuclear Brasileiro, só na reativação de Angra 3 a previsão de gasto é de R$ 7 bilhões de reais.
Isso explica em boa parte a onda de otimismo que a tragédia no Japão trouxe para o Brasil. Dá até para entender que políticos como o ministro Edison Lobão tragam seu discurso demagógico para essa área de riscos, afinal, nesse assunto o que interessa a eles não é exatamente o enriquecimento do urânio. Porém, é duro ter que agüentar argumentos criados para confundir, quando esse tipo de tática diversionista vem da área acadêmica, de especialistas que devem respeito ao livre debate ou de instituições com a responsabilidade de zelar pelo aprofundamento da discussão de um assunto tão grave.
O Brasil não precisa de energia nuclear. Esse pessoal sabe que bons programas de uso dos sistemas hidrelétricos, eólicos e térmicos resolvem nossas necessidades de energia. Seria preciso também um bom planejamento para tirar o país fora desse modelo falido de civilização em que tudo é plugado numa tomada de energia, mas deixa esse assunto pra depois.
O que estranha é que autoridades da área tenham vindo de imediato abafar a necessária discussão sobre o plano nuclear do governo brasileiro. O ministro Lobão disse que "o programa brasileiro não vai mudar". E Aluizio Mercadante, da Ciência e Tecnologia, afirmou que seria mantido o ritmo de construção de Angra 3 e os planos de expansão nuclear.
Outra voz plena de otimismo quanto à perfeita condição do Programa Nuclear Brasileiro foi a do presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Odair Dias Gonçalves. Ele dizia que "as usinas de Angra estão preparadas para enchentes e longe de áreas vulneráveis a desabamentos. Situadas 6 metros acima do nível do mar, estariam imunes a inundações". Deve ser o estudo das marés pelos próximos mil anos (sic) de que falou o ministro Edison Lobão.
Segundo Gonçalves, as usinas “são projetadas para resistir a tornados e furacões e suportar terremotos de até 6,5 graus na escala Richter e ondas de até 7 metros". Esse tipo de conversa sempre me deixa desconfiado. Se até para atravessar uma rua é preciso tomar bastante cuidado, não dá mesmo para acreditar em tamanha segurança quanto aos riscos de um acidente nuclear, a não ser que o até agora presidente da CNEN seja o tipo de pessoa que atravessa a rua sem olhar para os dois lados. Talvez ele trouxesse mais confiança falando dos riscos das ondas de 7 metros e meio.
Mas a realidade trazida pelo Correio Braziliense é bem diferente da exposta por Gonçalves. O jornal da capital brasileira denunciou graves problemas que ocorrem na própria CNEN. Angra 2 funciona há dez anos sem autorização definitiva. Quatro reatores nucleares utilizados para pesquisa funcionam sem licença em três campi universitários. E o Brasil tem grandes reservas de urânio, mas foi obrigado a comprar 220 toneladas no exterior, ao custo de R$ 4o milhões. A causa é falta de licença para a extração do minério, de responsabilidade da CNEN.
Tem também a denúncia de outras tretas, como o excesso de viagens internacionais e a nomeação de amigos para cargos de chefia, mas fiquemos apenas com o que toca diretamente a segurança do programa nuclear. Não faz parte das denúncias do Correio Braziliense, mas recentemente falei aqui sobre o tratamento de resíduos nucleares nas Usinas de Angra. Sempre é bom saber como nossas autoridades estão lidando com este, que é o grande problema do uso de energia nuclear. Pois nesse momento o lixo atômico de Angra está depositado em prateleiras de um galpão, como se fosse num supermercado.
A denúncia foi feita em seu Ex-blog pelo ex-prefeito do Rio, Cesar Maia. Contatada pelo jornal O Globo, a Eletronuclear confirmou a versão de Maia de como é feita a acomodação do lixo atômico no Brasil, mas garantiu que isso é provisório. Um funcionário informou que já existe um projeto de construção de um depósito subterrâneo para... (é sério mesmo, foi o que eles disseram!) ... 2018. Bem, que até lá não venha nenhuma onda de 7 metros.
A demissão do presidente da CNEN já é dada como certa. Mas vamos esperar para ver, afinal a decisão depende do ministro Mercadante, o político brasileiro que criou o conceito da revogação do irrevogável. E mesmo sendo de forte peso simbólico neste assunto arriscado que é o uso da energia nuclear, a demissão de Odair Dias Gonçalves está bem longe de trazer qualquer confiança no Programa Nuclear Brasileiro. Bem, tomara que essa experiência ajude o governo a tomar mais juízo, ao menos quando estiver lidando com projetos de maior risco para os brasileiros.
O ideal seria o Brasil iniciar o desligamento das usinas em funcionamento e nem pensar em construir outras, como é o projeto do governo do PT. Mas aí seria esperar equilíbrio, bom senso e respeito ao bem comum de gente que já mostrou que se guia por outros interesses.
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POR José Pires
Logo depois do acidente nuclear em Fukushima, no Japão, escrevi aqui sobre a ágil movimentação feita no Brasil pelo lobby nuclear. O interesse dessa indústria é grande em nosso país. Para se ter uma idéia do volume de dinheiro que pode girar no Programa Nuclear Brasileiro, só na reativação de Angra 3 a previsão de gasto é de R$ 7 bilhões de reais.
Isso explica em boa parte a onda de otimismo que a tragédia no Japão trouxe para o Brasil. Dá até para entender que políticos como o ministro Edison Lobão tragam seu discurso demagógico para essa área de riscos, afinal, nesse assunto o que interessa a eles não é exatamente o enriquecimento do urânio. Porém, é duro ter que agüentar argumentos criados para confundir, quando esse tipo de tática diversionista vem da área acadêmica, de especialistas que devem respeito ao livre debate ou de instituições com a responsabilidade de zelar pelo aprofundamento da discussão de um assunto tão grave.
O Brasil não precisa de energia nuclear. Esse pessoal sabe que bons programas de uso dos sistemas hidrelétricos, eólicos e térmicos resolvem nossas necessidades de energia. Seria preciso também um bom planejamento para tirar o país fora desse modelo falido de civilização em que tudo é plugado numa tomada de energia, mas deixa esse assunto pra depois.
O que estranha é que autoridades da área tenham vindo de imediato abafar a necessária discussão sobre o plano nuclear do governo brasileiro. O ministro Lobão disse que "o programa brasileiro não vai mudar". E Aluizio Mercadante, da Ciência e Tecnologia, afirmou que seria mantido o ritmo de construção de Angra 3 e os planos de expansão nuclear.
Outra voz plena de otimismo quanto à perfeita condição do Programa Nuclear Brasileiro foi a do presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Odair Dias Gonçalves. Ele dizia que "as usinas de Angra estão preparadas para enchentes e longe de áreas vulneráveis a desabamentos. Situadas 6 metros acima do nível do mar, estariam imunes a inundações". Deve ser o estudo das marés pelos próximos mil anos (sic) de que falou o ministro Edison Lobão.
Segundo Gonçalves, as usinas “são projetadas para resistir a tornados e furacões e suportar terremotos de até 6,5 graus na escala Richter e ondas de até 7 metros". Esse tipo de conversa sempre me deixa desconfiado. Se até para atravessar uma rua é preciso tomar bastante cuidado, não dá mesmo para acreditar em tamanha segurança quanto aos riscos de um acidente nuclear, a não ser que o até agora presidente da CNEN seja o tipo de pessoa que atravessa a rua sem olhar para os dois lados. Talvez ele trouxesse mais confiança falando dos riscos das ondas de 7 metros e meio.
Mas a realidade trazida pelo Correio Braziliense é bem diferente da exposta por Gonçalves. O jornal da capital brasileira denunciou graves problemas que ocorrem na própria CNEN. Angra 2 funciona há dez anos sem autorização definitiva. Quatro reatores nucleares utilizados para pesquisa funcionam sem licença em três campi universitários. E o Brasil tem grandes reservas de urânio, mas foi obrigado a comprar 220 toneladas no exterior, ao custo de R$ 4o milhões. A causa é falta de licença para a extração do minério, de responsabilidade da CNEN.
Tem também a denúncia de outras tretas, como o excesso de viagens internacionais e a nomeação de amigos para cargos de chefia, mas fiquemos apenas com o que toca diretamente a segurança do programa nuclear. Não faz parte das denúncias do Correio Braziliense, mas recentemente falei aqui sobre o tratamento de resíduos nucleares nas Usinas de Angra. Sempre é bom saber como nossas autoridades estão lidando com este, que é o grande problema do uso de energia nuclear. Pois nesse momento o lixo atômico de Angra está depositado em prateleiras de um galpão, como se fosse num supermercado.
A denúncia foi feita em seu Ex-blog pelo ex-prefeito do Rio, Cesar Maia. Contatada pelo jornal O Globo, a Eletronuclear confirmou a versão de Maia de como é feita a acomodação do lixo atômico no Brasil, mas garantiu que isso é provisório. Um funcionário informou que já existe um projeto de construção de um depósito subterrâneo para... (é sério mesmo, foi o que eles disseram!) ... 2018. Bem, que até lá não venha nenhuma onda de 7 metros.
A demissão do presidente da CNEN já é dada como certa. Mas vamos esperar para ver, afinal a decisão depende do ministro Mercadante, o político brasileiro que criou o conceito da revogação do irrevogável. E mesmo sendo de forte peso simbólico neste assunto arriscado que é o uso da energia nuclear, a demissão de Odair Dias Gonçalves está bem longe de trazer qualquer confiança no Programa Nuclear Brasileiro. Bem, tomara que essa experiência ajude o governo a tomar mais juízo, ao menos quando estiver lidando com projetos de maior risco para os brasileiros.
O ideal seria o Brasil iniciar o desligamento das usinas em funcionamento e nem pensar em construir outras, como é o projeto do governo do PT. Mas aí seria esperar equilíbrio, bom senso e respeito ao bem comum de gente que já mostrou que se guia por outros interesses.
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POR José Pires
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