terça-feira, 17 de julho de 2007

Um dia muito simbólico no Senado

Hoje, último dia de atividades do Congresso Nacional, que entra em recesso amanhã, foi uma data simbolicamente reveladora da situação ética daquela instituição.

No início da tarde a Mesa Diretora do Senado aprovou por unanimidade o aprofundamento da perícia nos documentos da defesa do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado e integrante da base de sustentação política do governo Lula. Os dados serão investigados pela Polícia Federal.

Calheiros é acusado de quebra do decoro parlamentar. Suas contas pessoais teriam sido pagas por um lobista da empreiteira Mendes Júnior. Os documentos que serão investigados foram anexados pela defesa do senador para a comprovação de renda, com a venda de gado, para pagar pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha.

No final da tarde, tomou posse como senador Gil Argello, vice-presidente nacional do PTB, outro partido da base política do governo. Argello substituiu o ex-senador Joaquim Roriz (PMDB), que renunciou após ser flagrado em escutas telefônicas negociando R$ 2,2 milhões com o ex-presidente do Banco de Brasília, Tarcísio Franklin.

Na conversa telefônica, Roriz combina a divisão de R$ 2,2 milhões, recebidos de Nenê Constantino, dono da Gol e de empresas de ônibus urbanos. Roriz renunciou ao mandato para escapar da cassação.

Argello corre o risco de ser investigado pelo Conselho de Ética do Senado por suspeitas de envolvimento na partilha do mesmo cheque que comprometeu Roriz.

No Senado, Gim Argello, leu os documentos que oficializaram a posse. “Prometo resguardar a Constituição Federal e as leis do meu país”, ele disse.

Ainda no dia de hoje, o senador Artgur Virgílio (PSDB-AM) leu em plenário as acusações contra o mais novo senador da República. Veja abaixo a lista.

* Em 2002, foi acusado de ter recebido 300 lotes para facilitar a regularização de um condomínio irregular. A denúncia foi feita pelo então secretário de Assuntos Fundiários e deputado distrital licenciado Odilon Aires, que se queixava do fato de ter ficado com apenas 50 lotes.

* A gravação foi obra do empresário Márcio Passos, que se encarregou depois de divulgar o vídeo. Márcio é irmão do deputado distrital Pedro Passos, preso em maio pela Operação Navalha e apontado como grileiro de terras públicas no Distrito Federal. O caso gerou uma ação popular que ainda hoje aguarda julgamento.

* Ex-presidente da Câmara Legislativa, Argello é réu em um total de cinco ações judiciais. Seus problemas incluem um processo de execução fiscal por dívidas com a Receita Federal, outro de crime contra o sistema financeiro e a denúncia de ter provocado um prejuízo de R$ 1,7 milhão à Câmara Legislativa por conta de contratos firmados na área de informática.

* Seu nome também veio à tona durante a crise do mensalão, em 2005. Conforme registros contábeis da empresa de publicidade de Marcos Valério, a agência arcou com as despesas de Argello e seu sucessor na presidência da Câmara Legislativa, Benício Tavares (PMDB), durante viagem deles a Belo Horizonte. De 2003 a 2005 essa mesma agência de publicidade recebeu mais de R$ 10 milhões em contratos com a Câmara Legislativa. Gim foi quem iniciou o contrato com a agência (publicou o edital de licitação) e Benício que finalizou o processo (que assinou o contrato).

* O novo senador também carrega no currículo uma condenação. Em 2003, pagou multa de R$ 20 mil por propaganda eleitoral irregular.

* A operação imobiliária que resultou na renúncia de Roriz teve a participação de seu suplente como corretor. Trata-se da venda de um terreno público de propriedade do Governo do Distrito Federal. Jornais revelam que Roriz ficou com R$ 300 mil da venda e Gim com R$ 500 mil.

* Foi notificado que Argello ficou encarregado de levantar recursos para subornar dois juízes do TRE-DF.
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POR José Pires

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