quinta-feira, 5 de março de 2009

E não sabem mesmo o que fazem

Eu falei do atraso brasileiro lá em cima, mas além da carência técnica que vivemos, tem notícias que deixam nos deixam com a sensação desconfortável de viver na Idade Média. Pelo que revelam de carência filosófica e intolerância, tais fatos trazem ares nada bons para a vida brasileira. E para este desconcerto espiritual e filosófico, certos setores da Igreja Católica, assim como as demais seitas que se autodenominam de “Igrejas”, ajudam bastante.

Vejam essa. O arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, excomungou ontem a mãe, os médicos e outros envolvidos no aborto da menina de 9 anos, que foi feito anteontem. Excluiu a menina da pena, o que não deixa de ser um gesto bem bacana da parte dele.

A menina — uma criança de 9 anos — havia sido abusada sexualmente pelo padrasto e ficou grávida de gêmeos. A situação é muito simples: a criança corria o risco até de morrer durante a gestação. A gravidez foi interrompida dentro da lei, claro, já que em caso de estupro ou risco de vida para a mãe o aborto é permitido.

O arcebispo, que já havia se manifestado contra o aborto, agora excomungou todos os envolvidos no aborto. A prepotência e falta de equilíbrio impressiona mesmo em um país como o nosso. A intolerância não é exatamente uma singularidade na Igreja Católica, principalmente no reinado de Bento XVI (que já mandava na igreja quando João Paulo II estava vivo), apelidado de "o pastor alemão" pelo excelente Janer Cristaldo, mas tem vezes que até mesmo eles exageram.

Dá pra sentir o bafio podre da Idade Média. Já vejo dom José Cardoso Sobrinho catando lenha para queimar os infiéis. Calma, gente, um poucio mais de Giordano Bruno e menos, bem menos de Torquemada, por favor.

Não sei como é que é regida essa questão da excomunhão na Igreja Católica, mas nesse caso aí, se quiser, o arcebispo de Olinda e Recife pode me incluir. Mas que fique claro que da fogueira estou fora.
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POR José Pires

Um comentário:

Anônimo disse...

Jota:
Esta história (que mais parece uma estória) é de doer mesmo.
Então você não sabe como funciona esse negócio de excomunhão?
Não creio que esteja muito preocupado com isto. Bem eu sei.
Contudo, o a pouco lembrado por você, Janer Cristaldo, num texto escrito logo depois do teu procurou esclarecer, e parece, ao menos em parte, que sabe como as coisas acontecem nos porões da igreja católica. Veja o que Janer diz:
"Mas não se preocupem os excomungados. Seus nomes não irão para a Serasa, nem serão privados de direitos de cidadão. As penas que atingem o excomungado são de outra natureza. A excomunhão é uma censura pela qual se exclui a alguém da comunhão dos fiéis e não pode consistir mais que na privação dos bens de que dispõe a Igreja, isto é, os bens espirituais ou anexos aos espirituais, mediante os quais a Igreja ajuda os fiéis, em nome de Deus, a conseguir a salvação. Por isso, a exclusão da comunhão dos fiéis representa um significado eminentemente canônico, isto é, a privação de todos os meios de que dispõe a Igreja e a comunidade dos fiéis para a salvação. A excomunhão proíbe receber os sacramentos, exceto a penitência e a unção dos enfermos, e celebrar ou administrar os sacramentos e sacramentais."
Faço força e me apresso em trazer a resposta, pois bem sei que a lembrada questão do Serasa pelo Janer Cristaldo é de suma importância para alguns católicos, que podem ou não saber como funciona ao certo o rito da excomunhão. Daí porque convém esclarecer.
Aliás, uma outra questão ronda e intriga o espírito do Janer, que a considero muito procedente, pois desde o primeiro momento que ouvi esta história da excomunhão também fiquei um tanto atormentado. Observa o nobre jornalista: "Além do mais, em seu ímpeto de proferir aiatolices, Dom José sequer se preocupou em saber se os responsáveis pelo aborto da menina pertenciam à Igreja Católica. Pois só pode ser excomungado quem a ela pertence."
Se são ou não católicos eu também não sei, mas aos católicos reafirmo o que está acima: para o Serasa é certo que não ficarão cadastrados.
Newton Moratto