sábado, 18 de abril de 2009

Monteiro Lobato, um brasileiro que viu o futuro

Hoje é o dia do aniversário do nascimento do escritor Monteiro Lobato. Não é data redonda − são 127 anos. Mas é desnecessário esse tipo formalidade para lembrar alguém tão especial. Passei toda a semana ocupado em discutir o trabalho dele e por um ótimo motivo: meu filho mais novo, de pouco mais de seis anos, teve como tema de escola a obra e a vida do autor do Sítio do Pica Pau Amarelo. Foi uma tarefa fácil. Além do meu menino ser muito ligado em leitura, a obra de Lobato faz parte de sua vida desde sempre. Ele ouve as músicas desde o berço e vê os filmes e sabe das histórias todas. E como é de uma precocidade maravilhosa na leitura, antes dos cinco anos já se arriscava nas histórias escritas de Dona Benta, Narizinho, Pedrinho e toda a turma. De forma vívida, Monteiro Lobato é parte do seu imaginário e também de suas atividades práticas, pois habilidosamente o escritor insere sua obra em tudo quanto é canto da vida da criança.

Lobato é de casa. Sempre foi uma figura próxima, até porque suas histórias também eram adoradas na infância por meu filho maior, hoje com 25 anos. É um escritor que passa, lteralmente, de pai para filho, já que em meus tempos de criança ele também era um sucesso.

A dobradinha que fizemos, eu e minha criança, na discussão dos livros de Lobato, me encantou por duas razões. Deixemos de lado a mais óbvia, sobre o sentimento de amor e orgulho de partilhar com um filho pequeno este tipo de coisa, mesmo porque este é um dado natural. Mas é bastante gratificante sentir a permanência de um escritor brasileiro de uma forma prática. A obra de Lobato está vivíssima. E também é de uma satisfação imensa reler seus escritos onde a qualidade literária convive tão bem com a sedução às cabecinhas sempre ligadas em tantas coisas, ainda mais hoje com tevês de tantos canais, e a porção de atrativos em volta das nossas crianças.

Como encaixar um Saci,uma Cuca, nestas vidinhas agitadas? Monteiro Lobato ainda consegue. Percebo que a ligação com sua obra tem a mesma intensidade numa criança de hoje que é o centro de uma porção de instrumentos e atividades (meu filho pequeno já usa inclusive a internet) quanto acontecia comigo há tantos anos em casa, onde não tínhamos sequer televisão, na época transmitida apenas em branco e preto.

Para Lobato vale o chavão de dizer que foi um homem extraordinário. Em poucos brasileiros do século xx o elogio cabe tão bem. Bem, o século XX já encontrou o escritor entrando em idade madura. Ele é de 1822. Naquela época isso acontecia mais cedo.

Foi um intelectual participante, buscando influir em várias áreas. É bem conhecida sua teimosia na crença de que existia petróleo no Brasil, fazendo campanha para que nosso país começasse a busca e exploração deste recurso natural. Hoje em dia, quando o petróleo já se encaminha para o fim, isso parece algo óbvio. Até político ignorante fala com suposto conhecimento de pré-sal e combustíveis alternativos. Mas Lobato desencavou o assunto na primeira metade do século passado, quando a existência do petróleo por aqui era desdenhada pelos ignorantes ou por entreguistas, estes com a intenção de que não prosperasse o esforço de homens como o escritor, para que o combustível ficasse nas mãos das grandes empresas multinacionais, que já lançavam pelo mundo todo seus poderosos tentáculos.

E como o Brasil precisa hoje do exemplo de alguém como Lobato. Muito, muito. É um homem que no início do século passado antevia o que o Brasil precisava para tornar-se de fato uma Nação e já dava então sua grande contribuição em várias setores. E suas lições ainda estão vivas. Numa época como esta nossa, em que o conhecimento adquiriu um valor tremendo, figuras como ele devem ter seu valor histórico bem destacado. As novas tecnologias chamam ainda mais à participação dos nossos intelectuais, até porque instrumentos poderosos como a internet, por exemplo, estão ainda em estágio de construção. Além disso, vivemos duas crises vitais, a econômica e a ambiental, que exigem uma reformulação global de hábitos e no uso do conhecimento.

Atualmente no Brasil infelizmente os escritores são uns bananas. Com a exceção de um ou outro, como João Ubaldo Ribeiro, por exemplo, ou o Ferreira Gullar, estão todos calados enquanto um presidente inzoneiro ataca a cultura e o conhecimento, encabeçando ä frente dos nossos políticos o que parece uma campanha contra a ética, a cultura, o meio ambiente, em um ataque sem precedentes contra tudo quanto é qualidade que acumulamos com tanta dificuldade anos todos.

Se estivesse vivo, Monteiro Lobato estaria com certeza no ataque a esta gente. Mas poderia estar vivendo também uma grande decepção. Lobato fez o Jeca Tatu como uma simbologia da necessidade de espalhar o conhecimento e construir uma nação grandiosa. O que ele acharia do fato de o Jeca Tatu além de não ter se aprimorado estar dominando hoje nossas mais importantes instituições e influindo decisivamente nos rumos (ou na falta de rumo) da Nação?
.......................
Por José Pires

Nenhum comentário: