quinta-feira, 29 de abril de 2010

Chávez em su casa


Hugo Chávez esteve ontem no Brasil e — como já informei de madrugada aqui no blog — se meteu nas eleições brasileiras. É Dilma de coração e não poderia ser outra coisa. Dilma viveu praticamente toda sua vida adulta no Rio Grande do Sul e lá tem um ditado muito bom, talvez ela conheça: os gambás se cheiram. É isso.

Chávez tem experiência em eleições. Mesmo com o poder imenso que acumulou, em seu país ele tem que fazer um esforço para se manter no poder, disputando eleições que exigem muito cuidado estratégico.

Daí a gente se pergunta porque ele se intromete dessa forma numa eleição onde sabe muito bem que sua presença prejudica a candidata de Lula. Até o político de menor influência ou capacidade sabe que na ajuda a um aliado existem situações em que a melhor política é a ausência.

É óbvio que é uma questão de respeito que um chefe de estado de um país estrangeiro não toque em questões políticas internas do país que está visitando. Mas, o que Chávez fez é contrário à estratéga política mais básica. A candidata petista tem problemas de sobra para amenizar junto à opinião pública a imagem do próprio perfil autoritário. O que ela não precisa de forma alguma neste momento é estar no coração de Chávez.

Tanto é que, mesmo com sua campanha sendo tocada em estilo amadorístico, ela não mandou publicar o efusivo apoio em seu site na internet.

Mas entre Chávez e Lula é sempre assim. O venezuelano tem a postura de chefe. Lembro que ele botou até o José Dirceu pra correr, quando o então o então chefe da Casa Civil que o Lula dizia ser seu “capitão” foi até a Venezuela em visita oficial interceder junto ao presidente venezuelano numa questão diplomática. Dirceu voltou com o rabo entre as pernas. Chávez botou o "capitão" pra fora do campo, algo que o Lula nunca conseguiu fazer, mesmo sendo o chefão do time.

Porque é desse jeito, com Chávez agindo como se fosse ele quem determina a relação com o presidente brasileiro, é um daqueles mistérios que o lulo-petismo trouxe às nossas relações internacionais. Na relação com o Irã também paira esta dúvida.

O tempo ainda vai esclarecer o que é que Lula deve à esta gente, porque o nível em que a relação se estabelece (com o Brasil entrando até em situações claramente contraproducentes, como na defesa do Irã) nada tem a ver com balança comercial. País nenhum vai comprar produtos baseado neste ou naquele apoio em foros internacionais. O que rege o comércio internacional é a necessidade.

Mas enquanto não vem à luz os reais motivos desse papel subalterno de Lula e seus companheiros, vamos todos passando vergonha. Porque agüentar Chávez no Brasil agindo como se a casa fosse sua é algo que faz mal para a dignidade de qualquer um que não tenha rabo preso com ele.
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POR José Pires

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