sábado, 3 de abril de 2010

O perigo é leve como uma pluma

As pessoas envolvidas com política costumam temer os colunistas políticos ou jornalistas e articulistas da área. Dependendo das circunstâncias ou do lado político (que por muitas vezes é também circunstancial), podem ficar atentas a um Janio de Freitas, o Josias de Souza, Elio Gaspari, Míriam Leitão, Reinaldo Azevedo, ou até mesmo quem não escreve especificamente sobre o assunto, mas que também é de se temer, como o Demétrio Magnoli, o Diogo Mainardi ou Janer Cristaldo.

Um político faria diversas vezes a lição de casa antes de sentar à frente de uma dessas figuras para responder à algumas perguntas. Tem que decorar as frases, estudar bem os conceitos e até retocar a tintura do cabelo e do bigode.

Pois aí é que está o erro. O perigo não está aí. Ele mora em outro caderno. Pois se tem alguma coisa muito perigosa em política é a desatenção. E o alerta que se acende com esses nomes citados é proporcional ao relaxamento em relação a jornalistas que se dedicam a assuntos supostamente de menor rigor crítico.

Na imprensa brasileira o risco mesmo é com gente como a Mônica Bergamo, da Folha. Que nenhum esquerdista me acuse de racismo, mas ô raça!

A jornalista chega e fica ciscando em volta do entrevistados, anotando atitudes, sapeando o local de trabalho ou a casa da pessoa, observando a roupa e adereços, fazendo umas perguntas songamongas e depois o que é publicado no jornal é mais revelador do que se a pessoa fosse espremida por todos os caras que citei acima.

Muitas vezes o estilo é leve feito uma pluma, quase doce até, mas atinge mais que um editorial feito para servir de tijolaço.

Foi o que aconteceu hoje na coluna da Mônica Bergamo com a militante Bebel,ou Maria Izabel Noronha, a presidente da Apeoesp que botou suas tropas na rua para combater a candidatura de José Serra e, é claro, ajudar a companheira candidata do Lula.

A colunista da Folha mexe com a vaidade das pessoas. É a possibilidade da foto colorida, o suposto momento sentimental, um tipo de revelação ao estilo da revista Caras que, sabe-se lá por quê, esse pessoal gosta muito.

E aí quebram a cara, como aconteceu com a militante Bebel. Os 100 votos obtidos na disputa de uma vaga na Câmara Municipal de Águas de São Pedro é uma novidade no currículo da braba combatente da Apeoesp, mas é um desastre para suas pretensões políticas. Disso, ela devia guardar segredo.

Os 15 anos fora das salas de aulas não no novidade no meio sindical. No geral, sindicalista não trabalha e aí está o Lula para comprovar. Sindicalismo no Brasil é uma profissão à parte, com privilégios impressionantes e nenhuma responsabilidade quanto aos gastos e resultados da atividade, que de corporativa hoje em dia não tem nada. É política e partidária e sempre com a bússola apontada para interesses que nunca são especificamente os da profissão que deviam representar.

Na área da educação, são poucos, quase nada, os que se dedicaram de fato ao trabalho profissional. E o interessante é que sempre se lê que eles estão voltando às salas de aulas, como aconteceu recentemente com uma militante do governo Lula que saiu de um ministério afirmando que voltaria à dar aulas na universidade. A verdade é que nos últimos quinze anos esta militante foi de tudo — vereadora, secretária municipal —, menos professora. Mas também desta vez a vontade de voltar à universidade passou rápido. Ela já está de volta ao governo Lula, desta vez como ministra alçada por um ítem de peso no currículo: é irmã do chefe de gabinete do Lula.

Mas voltemos à militante Bebel. Leia abaixo o texto de Mônica Bergamo. Vai para o currículo da presidente da Apeoesp, com foto e tudo. É um interessante réquiem à sua credibilidade.
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POR José Pires

Bebel bota pra quebrar
Coluna de Mônica Bergamo

“Menina, errei no tempo, né? Tá frio, não tá?”, pergunta Maria Izabel Noronha, a célebre Bebel, a mulher que, na presidência da Apeoesp, lidera greve de professores, diz que vai “quebrar a espinha dorsal” de José Serra (PSDB-SP) e para a cidade com passeatas por aumento salarial.

De vestido florido e sandália plataforma, ela entra em um bar na avenida Paulista meia hora antes da passeata de quarta-feira, para almoçar. “Fritas, não! Vou querer um contrafilé grelhado com salada e arroz. E um suco de mamão com água.” Bebel tira um saquinho de adoçante da bolsa. “Hoje, precisamos ter energia!”

“Muito vaidosa”, Bebel diz que, por conta da greve, não está conseguindo se cuidar. “Estou irritada porque tô com a perna peluda, acredita?”, diz ela, mostrando as unhas, também por fazer.

Já os cabelos estão em ordem, graças à escova que ela mesma fez antes de sair do apartamento em que fica quando está na cidade. “Acordo cedinho, seco o cabelo, me maquio.” E sobe nas plataformas -ela não vê problema em caminhar de salto alto na passeata, que naquele dia iria do Masp até a praça da República. Brincos dourados, colar de pérolas, três anéis na mão esquerda, pulseira e relógio, a professora usa sombra verde, lápis azul nos olhos e batom rosa-choque.

“Precisa mesmo?”, responde ela quando a coluna pergunta a sua idade: 48 anos, revela, 24 deles como professora de Português e Literatura do ensino médio da rede pública estadual.

Bebel nasceu em Piracicaba e, aos seis anos, se mudou para Águas de São Pedro, onde vive até hoje, na casa da mãe. Nunca se casou. “Meus namoros não deram certo.” Em breve, será mãe. Ela deu entrada em um processo de adoção de uma menina de três meses, a quem deu o nome de Maria Manoela em homenagem a seu pai, Manoel, morto no ano passado. “Ele era a paixão da minha vida.”

Outra paixão, ou “uma opção de vida”, é o movimento sindical. Bebel está longe das salas de aula há 15 anos, desde 1995, quando se afastou para fazer uma dissertação de mestrado e depois assumiu o cargo de vice-presidente na Apeoesp. Recebe R$ 1.800 por mês, salário de professora, e “nada a mais por presidir a Apeoesp”.

Depois do almoço, Bebel caminha até o Masp. Saca batom e espelho da bolsa e retoca a maquiagem. “Vai lá, Bebel! Força!”. Na mesma hora, no Palácio dos Bandeirantes, José Serra, que se despedia do governo de SP, se referia indiretamente ao movimento como “falanges do ódio”. Já Bebel dizia que o tucano é “igual ao Maluf”.

“Comecei bem de baixinho mesmo”, diz ela ao relatar seus passos na carreira sindical. “Fui representante de escola, da região,secretária de organização do interior, vice e presidenta [da Apeoesp].”

Já na política eleitoral, não fez tanto sucesso. Filiada ao PT em 1991, concorreu a vereadora em Águas de São Pedro um ano depois. Recebeu cem votos.

3 comentários:

Anônimo disse...

Os sindicatos viraram braços políticos do poder petista e só isso.

Ex-petista disse...

Dona Juju não frequenta sala de aula há mais de quinze anos. Ou seja, não trabalha em sua área há mais de uma década. Está seguindo o mestre Lula, que também deixou de trabalhar cedo. Então, como não pega no pesado, existe até o risco de ser recompensada, afinal o mestre Lula foi muito bem recompensado.

Curioso disse...

O sindicalismo foi usado para fazer a campanha de Lula nas duas vezes em que ele foi eleito e agora vão usar para fazer jogo sujo com Serra ou qualquer outro adversário de Dilma. Enquanto isso as profissões vão se desqualificando no país.