terça-feira, 20 de abril de 2010

Questão de estilo

Sobre essa polêmica criada artificialmente em torno da propaganda de aniversário da Rede Globo — que artimanha mais pérfida, arquitetaram a fundação em 1965 só para completar 45 anos em 2010 e com isso favorecer os tucanos! —, penso que o recuo é a melhor decisão para apagar logo essa discussão besta mas muito apropriada para os interesses da candidata do Lula.

A Globo acertou. É melhor matar logo essa discussão antes que este falso debate vire uma questão política favorável à candidata do Lula. A patrulha veio da própria campanha petista. E chegou impulsionada pelo que eles tentam fazer há muito tempo fazer com a discussão sobre o papel da mídia: uma alavanca para atender seus interesses.

Este é um dos maiores problemas do governo Lula e de seu entorno. E um problema que deve prosseguir depois como uma herança maldita: marcar negativamente certas discussões necessárias na atualidade. Esse pessoal ainda vai acabar favorecendo até os que defendem o golpe de 64.

De qualquer forma, a campanha da Globo era mesmo muito ruim com aquele jogralzinho de estrelas pedindo mais. Isso: façam mais e, talvez, melhor do que o que foi para o ar. Ou pelo menos com mais de responsabilidade.

Mais responsabilidade, mais critério, mais maturidade. A verdade é que mesmo tendo sido criado há meses, o que é de uma evidência técnica que só golpistas podem deixar para lá, o comercial devia ter sido descartado por ser ambíguo em relação à eleição.

E como TV é um veículo que não permite imprecisão, muito menos em assuntos do interesse direto da empresa, a campanha veiculada ontem e tirada às pressas do ar revela que o que tem de mais dentro da Globo parece ser dirigentes idiotas.

Será que ninguém por lá tem a consciência de que este momento exige uma grande atenção? Mais atenção. Bem, já sabem. E aí, com certeza, o episódio veio na hora certa. Ainda dá tempo para afinar a máquina e procurar não dar pretexto para a máquina lulo-petista. Uma máquina profissional, não esqueçamos, e muito bem azeitada até com muita grana.

A Globo quer ajudar a oposição e revelar o que há por detrás da candidata do Lula? Muito bem, basta cumprir com suas obrigações na área do jornalismo. Aliás, se isso estivesse sendo feito há mais tempo o país estaria muito melhor. Se toda a mídia cumprisse da fato com suas obrigações, pelo menos o clima no Brasil seria melhor. O papo por aqui está venezuelano demais para o meu gosto.

A patrulha petista se espalhou com rapidez assim que foi para o ar a propaganda do aniversário. Isso mostra que o esquema tem agilidade e nenhum escrúpulo. É melhor então tomar mais cuidado. Caso isso acontecesse próximo da eleição, daria bem mais trabalho para desmascarar a patrulha.

E o efeito seria desastroso para a eleição. Ao PT não interessa o aprofundamento nas questões nacionais, daí essa busca ansiosa para estabelecer um clima de conspiração como o centro do debate político. Há bastante tempo que eles vem entoando a mesma ladainha marqueteira.

E esse pessoal está sempre em busca de um menchevique. O problema é que os mencheviques jé existiram e a história aí está para quem quiser aprender o que aconteceu com os que agiram com pouco rigor no embate que essa gente procura estabelecer.

O nível é baixo. Neste caso, eles sempre podem mais na descida para a sarjeta. Isso ficam bem claro numa descoberta feita pela coluna Painel, da Folha de S. Paulo, no que escreve Marcelo Branco, o responsável pela tropa-de-choque de Dilma na internet. Vejam o que saiu na Folha:

“Guru virtual da campanha de Dilma Rousseff, Marcelo Branco deixou a candidata de cabelos em pé, ontem, ao se referir repetidas vezes aos “perfius” dela no Twitter, Facebook, Orkut e Cia”.

Tirando o exagero da Folha em achar que a candidata de Lula ficaria de “cabelos em pé” ao ver seu assessor enrolado com um plural tão simples (para isso ela teria de reconhecer o erro, não?), nota-se que estão construindo um país com o perfil, ou perfiu, do chefão, o Supremo Apedeuta.

Outro ensinamento do episódio é que um país como este, metido numa dicotomia estúpida, é o país dos sonhos dessa gente. É onde de fato eles não teriam medo algum de ser feliz. Com o debate em um nível tão baixo e sem a possibilidade do aprofundamento de qualquer assunto, eles estariam como pinto no lixo. Lixo, aliás, que eles mesmo produzem para a própria felicidade.
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POR José Pires

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