quinta-feira, 10 de junho de 2010

Cuidar do local para ser global

O Brasil já teve um Crioulo Doido. Isso foi no tempo do Stanislaw Ponte Preta. Hoje o Brasil todo vai ficando doido. Nós temos em todo o país “prefeituras municipais”, esta abominável redundância desta pleonástica República, que é ainda mais engraçada porque de assuntos municipais é que os prefeitos não tratam mesmo.

Se elegem prometendo ações até para acabar com o aquecimento global e seguem nesta linha na prefeitura municipal. Vão cuidar da segurança, resolver o problema do desemprego, da industrialização, mas os assuntos municipais mesmo, coisas como buraco de rua, mato alto, lixo, posto de saúde, plano diretor, transporte público, manutenção dos bens públicos, essas coisas municipais recebem pouca ou nenhuma atenção.

E é óbvio que não cuidam também do aquecimento global. Vejam como está o planeta, apesar de tanto esforço dos "prefeitos municipais".

Uma frase muito falada e identificada em muitos autores — o mais citado é o grande Alexei Tolstoi — é aquela que diz "cante sua aldeia para ser global". É, pois então cuide dela também.

Mas o fato é que os problemas locais não têm encaminhamento conseqüente. E quando ocorrem desastres graves advindos da incompetência e descaso, como deslizamentos com mortos e feridos, enchentes que matam e desabrigam, e outros dramas urbanos que já são parte do cotidiano do brasileiro, então surgem as lorotas que mantêm o assunto fora da questão central: a necessidade de cuidar do básico.

A chocante tragédia de Niterói, ocorrida há menos de dois meses, com mais de cem mortos e sete mil desabrigados, aconteceu porque as vítimas viviam sobre um antigo lixão. É simples assim. E o prefeito da cidade, Jorge Roberto Silveira (PDT), nem sabia que aquela localidade havia sido construída sobre um aterro. Pelo menos foi o que ele disse. E temos que ficar com sua palavra, mesmo sabendo que numa situação dessas alegar incompetência é muitas vezes a única saída.

O prefeito culpou as chuvas, falou do tsunami na Ásia (sic), do terremoto chileno (sic, de novo), mas na minha visão a causa tanto de um problema deste tipo como de questões cotidianas que infernizam a vida nas cidades brasileiras é que o prefeito municipal... não é municipal.

Basta dar uma passeada na rua para notar que ninguém está cuidando das questões básicas. Mas como fazer isso em um país em que o nosso presidente da República cuida dos problemas nucleares do Irã, resolve o problema da fome na África e dá uns pitos em Israel?

O desemprego é a grande moeda eleitoral dos nossos dias. Ora, todo mundo sabe que esta é uma questão estadual e, em um plano mais efetivo, um assunto que só anda bem com as ferramentas do Governo Federal.

Mas os nossos prefeitos estão à toda na luta contra o desemprego. Primeiro o da própria família e apaniguados, é claro. Mas se metem também a resolver em suas cidades este grande problema da atualidade.

E o que fazem é enfiar os municípios em guerras fiscais desenfreadas, fatiando e entregando terrenos públicos e abrindo mãos de impostos, isso quando a própria prefeitura não entra com capital público para atrair empresas. Entregam tudo, inclusive sem contrapartidas ambientais ou de infraestrutura pública.

O resultado é que mesmo quando aparecem os empregos, no cálculo final é o próprio município que paga a conta. Quando não é o estado e o país que acabam arcando com custos que, muitas vezes afetam não só os cofres públicos como também agridem a saúde humana e arrasam o meio ambiente, problemas crônicos que o dinheiro pode apenas amenizar.

Mas de qualquer forma a conta sempre é bem alta também para as prefeituras. E municípios, todos sabemos bem, ainda não contam com máquinas próprias para a impressão de dinheiro.
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POR José Pires

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