segunda-feira, 14 de junho de 2010

A vuvuzela no contexto global

O assunto é vuvuzela. Vejo nos sites e nos jornais que só se fala nisso. Devem estar fazendo mesas redondas para o debate do assunto. Já deve até existir especialistas em vuvuzela, talvez até diplomados, já que o nosso sistema universitário é rápido nessas coisas. Será que já perguntaram para o Caetano Veloso o que ele acha do assunto?

Felizmente estou fora disso. Nem a insônia faria eu me interessar por futebol. Por isso tive até que ir atrás de um vídeo na internet para ouvir este novo instrumento musical. Afinal, quando um assunto tão importante quica entre os sites e blogs, não há como resistir a um chutão para gol. E tem também a minha conhecida dedicação aos meus leitores, coisa que faço de coração, sem sequer pensar em boquinha na TV Brasil ou empréstimo facilitado no BNDES

Nos anos 80, já muito chateado com o relativismo cultural dos politicamente-corretos, o escritor Saul Bellow saiu com a melhor tirada, uma frase implacável para matar o assunto. “Me mostrem o Tolstoi dos zulus”, ele disse.

Não tem, é claro. Não sei se Bellow tem os olhos azuis, mas isso me parece preconceito e até sacanagem com a Nadine Gordimer. E também pode não ser por aí o caminho da redenção do políticamente correto. Schönberg inventou o sistema de doze sons, quem sabe um sul-africano não teria concentrado esta revolução em um ou dois sons e feito uma subtração genial para os nossos ouvidos?

Ouvi finalmente a vuvuzela e já posso até participar da discussão. É provável que, logo mais, tenhamos seminários sobre o assunto. Talvez até com patrocínio da Petrobrás. Quem sabe não me chamam para dar a minha contribuição ao momentoso tema? Nâo seria bacana eu, o Diogo Mainardi e o ex-ministro Armínio Fraga discutindo a vuvuzela?

Nessas coisas a gente sempre sente falta do ex-ministro Gilberto Gil e sua vasta cultura, para situar intelectualmente a vuvuzela na relação intrínseca e indistinguível, senão num plano astral e prático dentro desta relação vis-à-vis das culturas, nos variados traços semânticos que a cultura permite, entende?, e que criam os laços intermitentes das camadas que ligam, como a magia do genoma que integrou todos os DNAs, entende?, estas variedades do ser e estar no âmbito global, entende?, as várias faces que acabam refratando o organismo polimorfo que compõe a cultura do humano, entende?, nesta contínua e matizada busca das várias interfaces dos sons, numa visão quântica do espaço sonoro que interliga os povos, entendeu agora?

É preciso aprofundar o assunto para chegar numa resposta concisa: esta porcaria não é aquela mesmo corneta de plástico usada durante pelos torcedores para encher a paciência do próximo? É o que me parece. Ou uma variação daquele tormento idiota.

Pensaram até em proibir a vuvuzela, que estaria interferindo na transmissão dos jogos da Copa. E aí espero que o governo Lula tome logo uma posição e até resolva este assunto, já que a expressão internacional que o nosso país alcançou com a nova diplomacia lulo-petista permite solucionar questões desta amplitude. Um olho no olho pode salvar a vuvuzela.

A proibição seria uma intromissão indevida em assuntos internos de um povo, coisa que o Brasil não pode permitir. Proibir a vuvuzela seria algo como condenar Ahmadinejad por espancar oposicionistas e adúlteros em praça pública ou pendurar homossexuais pelo pescoço em altos guindastes e forçar as mulheres a ficarem caladinhas. Isso é parecido também com a proibição dos hondurenhos ao democrático desejo da reeleição de Manuel Zelaya.

Acho até que esta proibição atende somente ao interesse de torcedores de olhos azuis do primeiro mundo. Eles estão morrendo de inveja da vuvuzela, só porque os sul-africanos conseguiram criar a torcida mais chata da história do futebol mundial.
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POR José Pires

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