terça-feira, 8 de abril de 2008

Sobre ratinhos e ratões

Quando se fala em baixaria na TV os críticos lembram logo do Ratinho e suas barbaridades televisas. E eu sempre achei estranho que ninguém se lembre dos telejornais de várias televisõesou ou do Jornal Nacional, da Rede Globo.

Deixemos de lado as sutis e ideológicas baixarias relacionadas à economia ou a política, um tipo de manipulação em que historicamente a televisão brasileira, especialmente a Globo, já provou ser craque. Focalizemos a cobertura jornalística que a Globo faz da vida das pessoas comuns. Se há diferença com o que o Ratinho pratica em seus programas, é uma alteração que piora a situação de televisões como a Globo. O que o Jornal Nacional faz é ainda mais prejudicial que programas como o do Ratinho, pois o peso econômico da emissora e a carga de respeitabilidade de seu jornalismo tem o poder de causar muito mais danos na consciência da pessoas.

O Ratinho faz sujeira na TV e ganha muito com isso, sem dúvida, mas suas baixarias são, de certo modo, tão claras para a população que só podem pegar o indivíduo da mais baixa cultura, o eterno desavisado que, aliás, é o foco do Ratinho. Já o Jornal Nacional pega o Brasil todo, com um poder de convencimento que não tem distinção de faixa econômica ou cultural. É um jornalismo que acaba dando validade a comportamentos absurdos e fazendo o brasileiro respeitar e acreditar em absurdos que deixam qualquer Ratinho no chinelo.

E é nos casos mais escabrosos que a televisão revela com mais nitidez seu caráter danoso a qualquer valor moral, rebaixando a honestidade, diminuindo a solidariedade e afetando de forma negativa o equilíbrio necessário para entender problemas que envolvem violência.

Foi assim no episódio da morte de João Hélio, o menino morto pendurado em um carro, e está sendo do mesmo modo agora na cobertura da morte da menina Isabella, com repórteres atropelando a pobre da mãe em luto e policiais falastrões e vizinhos mexeriqueiros pautando seus jornalistas. É de dar vergonha. É tão feio que, para ficar ainda mais autêntico, deveriam tirar trocar o William Bonner pelo Ratinho. Afinal, padrão é padrão.
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POR José Pires

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