quarta-feira, 16 de abril de 2008

Lula é o que é há muito tempo

O jornal O Globo publicou ontem um texto do sociólogoFrancisco Weffort que passou despercebido, o que é uma infelicidade, pois nele está um dos depoimentos mais esclarecedores sobre o caráter irresponsável do presidente Lula, especialmente na sua falta de controle sobre gastos de dinheiro que não é seu, mesmo que sejam gastos indevidos, o que ficou ainda mais claro neste caso dos gastos com cartões corporativos..

No texto, Weffort, que é um acadêmico que se dedicou à política, tendo convivido de perto, bem de perto, tanto com petistas quanto com tucanos, conta um episódio que revela o quanto é antigo em Lula a dissimulação e o engodo em situações em que está em xeque sua responsabilidade pelo que o cerca. O já conhecido “eu não sabia de nada” é coisa velha, dos tempos em que ele era metalúrgico.

Desencavar fatos desabonadores no passado do líder máximo do PT, além de não ser algo muito dificultoso nada tem de inédito. São muitas as histórias que comprovam seu desapego ao estudo e ao trabalho, ou mesmo a facilidade que ele tem de se cercar de amigos que lhe dão casa e outras coisas de graça e pagam suas contas. Lula é o militante de esquerda que ia à Cuba com o pretexto de participar de seminários de estudo e lá não saía da praia.

O caráter do presidente da República é tão discutível que nem a máquina do PT e a mistificação muito bem trabalhada em torno de sua figura política conseguiram apagar as feias nódoas de seu passado.

Mas a participação de Weffort na história do PT e na vida de Lula é muito marcante e isso dá uma qualidade especial ao texto. Ele é um dos mais antigos companheiros de Lula, foi um dos fundadores do PT junto com os companheiros históricos do presidente da República, gente que hoje está nas barras do STF, mas que na época encarnavam a esperança de que ao menos a ética seria um elemento básico na pauta de um provável governo de esquerda. Weffort saiu do partido antes de escândalos recentes de corrupção como os do mensalão ou mesmo corrupções mais antigas, como o Caso Lubeca, de 1989, na prefeitura petista de São Paulo.

Em 1995 havia mudado de barco, tendo pulado para o governo de Fernando Henrique Cardoso, onde foi ministro da Cultura nos dois mandatos, de 1995 a 2002. Antes de se bandear para o lado dos tucanos, porém, Weffort foi personalidade importante no PT, fazendo parte do círculo íntimo de Lula. Daí a importância do que ele relata em seu texto publicado em O Globo.

Weffort parte de uma pertinente questão − “Que coisas tão graves em seus gastos na Presidência estará Lula procurando esconder da opinião pública?” − para então buscar na memória uma história que viveu com Lula quando ele ainda estava na presidência do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, no ano de 1980.

Lula estava para ser julgado pela Lei de Segurança Nacional, do governo Figueiredo, e em função disso fizeram uma viagem à Europa e aos Estados Unidos em busca de apoio político. Partiram Lula, Weffort e mais um pequeno grupo de amigos.

Em dois lugares, Alemanha e Estados Unidos, foram recebidos com severas cobranças das lideranças sindicais locais. Nada a ver com questões políticas, explica o cientista político, mas em função de algo de caráter bem mais prático: havia uma indignação com a falta de prestação de contas do sindicato de São Bernardo sobre quantias em dinheiro repassadas por estes sindicatos estrangeiros. Os sindicalistas queriam de Lula uma prestação de contas. Cobrança pesada. Na Alemanha foram bem agressivos e nos Estados Unidos, em encontro com representantes da AFL-CIO, mesmo que sem o peso dos alemães, repetiu-se o constrangimento da cobrança.

Nas duas situações, conta Weffort, o então sindicalista Lula fez-se de desentendido, dizendo que não sabia de nada. Lula, escreve o sociólogo, "não sabia responder à indagação referente às contas. Ou não queria responder. Não era com ele".

É uma reação típica dele, que conhecemos bem. Há quase trinta anos Lula fazia o mesmo que vimos nas crises de seu governo: mensalão, aloprados, dossiês, gastos com cartões e o que mais aparecer, seja de que magnitude for, de nada ele sabe, nada ele viu. O testemunho de seu ex-amigo Francisco Weffort comprova que tem sido assim desde que ele era sindicalista. E um caráter assim, desta qualidade e com este longo tempo de uso, não há de mudar depois de velho.

Para ler o texto de Weffort na íntegra, clique aqui.
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POR José Pires

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