segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Engajamento acabou em aversão ao marxismo
A escritora foi muito engajada na esquerda, ao menos até o Vigésimo Congresso do Partido Comunista da União Soviética, em 1956, quando foram revelados os crimes de Stálin. Era também engajada na luta anticolonialista da África. Suas ligações com a África trouxe para perto de si, quando foi morar em Londres, vários exilados, idealistas e sem nenhum tostão que penavam na fria Londres.

O apoio de Lessing consistia inclusive em acolher e alimentar na sua casa os pobres e famintos militantes. Alguns deles se tornaram depois autoridades políticas importantes em seus países de origem e passaram a perseguir os próprios companheiros de exílio, na esteira das divisões políticas entre os anticolonialistas alçados ao poder.

Nos conflitos surgidos nos países libertos do colonialismo as prisões eram duras, com torturas e assassinatos. Com a saída do colonizador, os africanos passaram a lutar entre si. Quem acredita nos problemas da África como de exclusiva responsabilidade do colonizador tem muito a aprender com esse livro. A crueldade dos novos governantes, saídos da militância negra, revelou-se com toda a ferocidade. Um antigo militante negro, que depois chegou a ser ministro na Tanzânia e finalmente caiu na desgraça e sofreu nas mãos de seus antigos companheiros de luta, disse para a escritora que “ficar preso sob os britânicos foi como estar num acampamento de férias, em comparação com as prisões africanas”.

O engajamento político da escritora também sofreu um abalo com a revelação dos crimes de Stálin, em 1956. Ela diz que foi como se os Partidos Comunistas do mundo todo tivessem sido explodidos por uma bomba. Ela era parte dessa multidão que sofria o desencanto e teme, até hoje, que ressurja o clima que possibilitou a criação de tal máquina criminosa, uma “psicopatologia social em massa”, da qual ela tem vergonha de ter feito parte.
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POR José Pires

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