quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Obra coletiva

O tucano é um animal político indeciso. Isso todo mundo sabe. O bicho fica no muro até que não haja nenhum risco em decidir. Mas um deslize do deputado Paulo Renato Souza revela que, além disso, o tucano é um animal muito, mas muito distraído.

O deputado enviou um texto para a Folha de S. Paulo para publicação. No artigo ele critica a intenção do governo federal de passar o Besc (Banco do Estado de Santa Catarina) para o controle do Banco do Brasil.

Acontece que antes de mandar para o jornal o deputado tucano submeteu o texto à presidência do banco Bradesco. A Folha de hoje conta que o e-mail de Souza enviado ao jornal trouxe por engano no corpo da mensagem a correspondência anterior enviada ao presidente do Bradesco, Márcio Cypriano.

O deputado tucano escrevera ao presidente do Bradesco o seguinte: “Em anexo, vai o artigo revisto. Procurei colocá-lo dentro dos limites do espaço da Folha. Por favor, veja se está correto e se você concorda, ou tem alguma observação. Muito obrigado, Paulo Renato Souza".

A Folha de S. Paulo ainda teve a decência de fazer uma matéria com o ocorrido. Noutros jornais, vários deles, talvez todos, o erro do deputado tucano seria mantido entre a direção do jornal e o deputado, sob risos e piadinhas cúmplices.

Um deputado escrevendo a quatro mãos um artigo, qualquer artigo, com um banqueiro é algo que, num país decente, daria um escândalo danado. Num caso como este, em que além do mais o tema é da área de interesse do banco, o deputado teria muito mais que explicar. Mas aqui vai ficar por isso mesmo.

Esta história é uma boa referência para entender como o Congresso Nacional chegou ao atual estado de deterioração. O eleitor tem todo o direito de suspeitar que um político que oferece artigos para a presidência de um grande banco pode fazer muitas outras coisas que ferem a ética.

E ainda tem o agravante do deputado tucano ser uma das figuras de maior projeção da oposição. Paulo Renato Souza foi ministro da Educação nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso. Era poderoso politicamente e íntimo do presidente, que comandou um governo bastante privatista.

Bem, o governo Lula a gente sabe como é. E esta é a oposição. Os dois lados só fazem coisas a quatro mãos se as outras duas forem endinheiradas.
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POR José Pires

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