segunda-feira, 15 de outubro de 2007


A incendiária Doris Lessing
Doris Lessing ganhou o prêmio Nobel de literatura e desta vez os jurados suecos acertaram. Mesmo com um nome como Philiph Roth no páreo, um escritor muito mais interessante para o meu gosto, foi uma boa escolha.

Mas quem for procurar nas livrarias a obra mais conhecida da escritora, O Caderno Dourado, vai se decepcionar. Não tem. O livro foi editado no Brasil há alguns anos, está esgotado e não foi reeditado. São coisas do Brasil. Tem muito livro importante por aqui do qual se edita 2 ou 3 mil exemplares e depois nunca mais.

Da escritora, em nossa língua, o leitor vai encontrar alguns livros de ficção científica, tema explorado por ela nos anos 70 e 80 e que segundo alguns críticos até diminuiu sua cotação literária. Ficção científica é um gênero considerado menor.

Doris Lessing está com 87 anos e cara de velhinha pacata. Mas que ninguém se engane. É uma pessoa que viveu de modo corajoso, se envolveu em lutas políticas até na África colonizada e racista e tem também uma obra sólida, sem espaço para o sentimentalismo. Sua audácia também se revelou na quebra de regras sociais na metade do século passado e na colocação da sua obra em um patamar bem alto em um terreno difícil como o da literatura. Escreveu mais de cinquenta títulos e é autora de um livro polêmico, incendiário até, um marco da literatura e do comportamento.

Para vocês terem uma idéia da audácia dela, notem na foto acima, uma imagem da juventude da escritora, que ela está fumando. É uma foto da década de 50.

Em O Caderno Dourado ela antecipou muitas coisas que ainda estão em processo de discussão até hoje, quase cinqüenta anos após seu lançamento. É seu trabalho mais lembrado e tido como o mais importante. Trata da psicanálise, a experiência sexual, a neurose, os conflitos entre homem e mulher, a liberação da mulher, tudo isso junto com uma discussão profunda sobre o stalinismo, a situação colonial e o racismo.

O interesse de Lessing nas últimas duas questões pode ser creditado em boa parte à sua origem. Nascida na Pérsia, atual, ela cresceu na Rodésia, antiga colônia britânica que conquistou a independência em 1980 e mudou de nome para Zimbábue. Sempre foi anti-racista e ligada aos movimentos negros pela independência.
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POR José Pires

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