segunda-feira, 15 de outubro de 2007

O mais importante caderno de Doris Lessing
Para a escritora é um mito que o movimento das mulheres tenha começado nos anos 60. Ela diz que tudo começou bem antes, nos anos 40 e 50, quando dentro e nas vizinhanças dos movimentos progressistas as mulheres começaram a ter voz. O Caderno Dourado é também sobre essa complexa mudança, a mulher ocupando espaço na sociedade e os conflitos inerentes à esta nova situação.

Lançado em 1962 na Inglaterra, o livro foi recebido com espanto. Demorou dez anos para ser editado na Alemanha e na França. Era considerado incendiário demais. E quando enfim foi editado nesses dois países, seu sucesso foi imediato.

A polêmica também se colou à obra. A escritora recorda que os críticos escreviam não sobre o livro e sim sobre si mesmo. Ou como os temas apresentados tocavam em seus temores pessoais. Um nervo havia sido tocado. O clima era tão conservador que até a menção da menstruação feminina desconcertou as pessoas. Ela julga que foi a primeira vez que a menstruação tenha figurado em romances. E os críticos também deram uma atenção danada para isso.

Mesmo tratando com profundidade do universo feminino (ou talvez por isso mesmo) O Caderno Dourado, de início, não teve a aceitação positiva das mulheres. Foram os homens que o aprovaram primeiro. Mas depois as feministas descobriram o livro e ele virou a “Bíblia dos Movimentos das Mulheres”. Até hoje a escritora não gosta nada disso.

O escritor peruano Mario Vargas Llosa escreveu sobre O Caderno Dourado em seu belo livro de ensaios A Verdade das Mentiras. Ele também não entende por que as feministas fizeram desse livro uma “bíblia”.

Para ele, “o livro não tem heróis ou heroínas”. E na obra de Lessing os propósitos de transformar o mundo ou suas próprias vidas também não dá muito certos para os personagens.
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POR José Pires

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