segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Hay que ser cobarde...

Mas Reinaldo Azevedo quer outra coisa com esta história. A polêmica o atrai na mesma medida em que aumenta seu prestígio ou, se não isso, ao menos a popularidade. A polêmica pode ser um ganha-pão. Hoje em dia é um meio de vida para muita gente.

O jornalista já foi trotskista, militante da extrema-esquerda. E o trotskismo sofre com dois problemas atávicos em sua formação: o pecado original do leninismo e o sentimento de culpa de terem ajudado a criar seu próprio algoz: Stálin. Depois disso, é difícil manter a sanidade ou a honestidade intelectual. Dois exemplos de ex-trotskistas? O próprio Azevedo e o ex-ministro Palocci.

Extremista arrependido, o ex-trotskista leva para o lado que o acolheu todas as armas de confronto que usava quando estava na outra extremidade política. E faz exatamente como na extrema-esquerda: busca adequar a realidade ao seu pensamento sobre o mundo. A realidade que se dane para se encaixar no que ele pensa. Estou falando do ex-trotskista, mas o trotskista não é melhor.

Azevedo é um homem estranho. Se anima de forma até desmedida com ações de uma pessoa como João Dória Júnior e ao mesmo tempo busca desumanizar uma figura fascinante como a de Guevara. Será Dória Júnior o "homem novo" de Azevedo? Nada contra a crítica ao autoritarismo de Guevara, mas qual será o efeito de combatê-lo simplesmente – e do modo mais grosseiro – sem colocar sua devida dimensão humana, trágica e também sua bravura?

Uma coisa é certa: o mundo assim será bem mais chato. Mas, quanto à necessidade de transformar o bravo guerrilheiro em um covarde que pede pela vida, talvez Freud explique. Ou a temporada de chinelão e bermuda tenha o poder de fazer o jornalista perder a capacidade de perceber a dimensão dos feitos humanos.

Che Guevara estava entre os 82 homens que desembarcou em Cuba em 1956 para começar a revolução. Desses 82, surpreendidos pelo exército do ditador Fulgêncio Batista, sobraram apenas 15. Foi o núcleo inicial da guerrilha que lutou por cerca de dois anos em Sierra Maestra, muitas vezes sem alimento, sem armas e sem munição.

Pode-se discordar e muito de um homem desses. Acho até necessário essa discordância. Mas honestamente é impossível admirar sua coragem e bravura.
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POR José Pires

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