sexta-feira, 5 de outubro de 2007


Quadro de Leonardo da Vinci é achado quatro anos depois
A tela acima, “A Virgem do Fuso”, havia sido roubada há mais de quatro anos de um castelo escocês. Pintada por Leonardo da Vinci (1452-1519) em 1501, mostra a Virgem Maria com o menino Jesus, que segura um fuso de tear. Durante quase 200 anos foi propriedade da família do Duque de Buccleuch, deputado conservador que morreu aos 83 anos, em setembro.

A pintura ficava no Castelo de Drumlanrig, na Escócia. Avaliada em 43 milhões de euros, foi roubada em agosto de 2003 do próprio castelo, que era visitado todos os anos por milhares de turistas para admirar a obra. Estava em uma lista elaborada pelo FBI dos dez objetos de arte mais procurados no mundo e foi recuperada pela polícia britânica esta semana.

O furto, de certo modo, aumenta o mito em torno da personalidade extraordinária de Leonardo da Vinci. Ele foi pintor, escultor, físico, matemático, arquiteto, mecânico, urbanista, engenheiro, botânico, geólogo e outras coisas mais. Foi precursor da aviação, da balística e da hidráulica. Ah, sim, e inventou o isqueiro. Era um modelo do “homem universal” gerado pelo Renascimento. O conceito básico é de que o homem deve desenvolver todas as áreas do saber. O Renascimento se desenvolveu entre os séculos XIV e XVI em cidades que viriam a formar futuramente a Itália.

O artista dedicou-se a pesquisas e observações científicas que são respeitadas pelos especialistas. Lançou-se em vários campos, sempre com genialidade: geologia, paleontologia, ciências naturais, anatomia, biologia, ótica, astronomia, física. Foi arquiteto, mecânico, urbanista, engenheiro, botânico, geólogo, além de pintor e escultor.

Era um talento múltiplo e de extrema capacidade inventiva. Antecipou em muitos séculos a possibilidade da viabilização de anseios humanos colocados em prática apenas no início do século passado. A necessidade de voar, por exemplo. A partir do vôo dos pássaros fez estudos para a criação de um aparelho voador mais pesado que o ar. Fez desenhos de uma máquina muito semelhante ao helicóptero e também traçou esquemas parecidos com o pára-quedas. Outra invenção sua é de um submarino.

Já naquela época praticava a dissecação de cadáveres e com isso tornou-se um profundo conhecedor da anatomia humana. Produziu muitos desenhos anatômicos detalhados. Para compreendermos o quanto o artista era avançado ao fazer isso, não devemos esquecer que a Igreja Católica dominava a Europa política e culturalmente, com suas tradições conservadoras determinando praticamente tudo sobre a vida das pessoas.

Neste ambiente sob a autoridade do rigor religioso, não era raro a busca do conhecimento ser acusada de heresia. Por isso, não podemos ignorar que ao estudar a anatomia humana e avançar tanto nas pesquisas em outras áreas, o artista mostrou muita ousadia, além da genialidade. Como um exemplo da sua audácia, lembro que em pleno período da Peste Negra, que dizimou metade da população da Europa e que já havia matado a quarta parte da Cúria, foi necessário a permissão da Igreja para que os corpos das vítimas pudessem ser dissecados na vã tentativa de encontrar uma explicação médica para a epidemia. Isso ocorreu no papado de Clemente VI, em 1348, apenas um século antes do nascimento do artista renascentista.

De Leonardo da Vinci conhecem-se hoje apenas 10 ou 12 quadros cuja autoria está seguramente estabelecida. Muitas obras suas se perderam, outras foram destruídas. Uma das mais conhecidas, a ‘Santa Ceia”, é conservada a muito custo e mesmo assim bastante danificada. Sua pintura mais conhecida é a “Mona Lisa”. A pequena quantidade de obras, no entanto, são suficientes como documento do avanço impressionante que o artista imprimiu à história da arte.
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POR José Pires

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