sexta-feira, 28 de maio de 2010

Fonte transbordante

A imprensa brasileira tem um modo curioso de cobrir os assuntos. Por que o deputado cassado José Dirceu tem que ser ouvido sobre as críticas do pré-candidato José Serra à leniência — ou cumplicidade mesmo, como eu posso dizer, já que não sou candidato — do governo da Bolívia com o tráfico de drogas?

Ele não é o coordenador da campanha da Santinha, não é líder de bancada, não é presidente do PT. Então qual é a justificativa que os jornalistas podem dar para ouvir tanto o José Dirceu?

No vocabulário político temos diversos tipos de fonte. Tem a "fonte que não quer se identificar",a "fonte ligada a este ou aquele poderoso", a "fonte oficial", é um aguaceiro danado, muitas "fontes". E quase todas não tem outro significado que facilitar o enchimento das colunas do jornais e agora dos sites.

Na minha visão, isso tem feito os leitores se encherem de ler notícia que não dá em nada. É um tal de deputado fulano falou isso, senador sicrano pensa aquilo, que nada acrescenta à informação. Isso não é jornalismo. É só embrulho de peixe.

É muita armação. Nalgumas vezes os jornais chegam ao ponto de pautar um assunto com uma pergunta capciosa feita a algum político — algo assim como "fulano, o que você acha daquilo que o sicrano fez?" — e depois vão ao sicrano perguntar se ele não vai responder ao outro. Só não avisam que foram eles que inventaram o assunto.

Para que tem servido isso, além de aumentar a pilha de papel velho no quartinho dos fundos? Para nada. É o caso de pitacos do José Dirceu. Ora, todo mundo sabe que sua atuação é de lobbysta (falando nisso, o bom lobbysta é igual agente secreto: sua capacidade se mede também pela discrição, não?). Então, quando um jornalista vai buscar sua opinião forçadamente sobre tantos assuntos, não dá pra gente deixar de suspeitar que o jornalista traz algo mais que a opinião. Mas isso ele não mostra pra ninguém.

José Dirceu é uma fonte transbordante. Não sei como é que sua opinião não invadiu ainda os cadernos de cultura (o que será que Dirceu acha do último disco do Caetano?) Ora, isso é embrulho de peixe podre.

Jornal vive de credibilidade. Blog idem, está bem? Então quando uma fonte é quase permanente num desses veículos, a gente logo fica pensando sobre as motivações do jornalista. Será que o uísque da casa do José Dirceu é tão bom que, além, de sair trocando as pernas o jornalista vai pra casa com uma opinião novinha de Dirceu sobre qualquer assunto? Eu disse uísque? Bem, deixa pra lá.

O ex-titular do governo petista e capitão valoroso que Lula teve que chutar do time teria que ser ouvido quando o assunto é mandracaria, corrupção ativa, formação de quadrilha, suas atividades mais marcantes na política, segundo a Procuradoria-Geral da República, e pelas quais ele ainda tem que responder ao STF.

Aliás, logo adentramos o mês de junho, quando pululam as quadrilhas pelo país afora. Neste caso não seria forçação de barra ouvir José Dirceu, afinal o procurador-geral da República o identificou como um dos maiores chefes de quadrilha do país.
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POR José Pires

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