sábado, 8 de maio de 2010

Fronteiras quentes

Há tempos que vem sendo denunciada que as FARC já teriam transposto a fronteira que divide Colômbia e Brasil e avançado com grupos armados no território brasileiro. A luz vermelha já deveria estar acesa. O alerta não é novo. A prisão do número dois das FARC e um bando atuando numa capital amazônica e com toda uma estrutura montada para o tráfico de drogas mostra que a atuação do grupo terrorista ligado ao narcotráfico pode não estar mais restrita à floresta próxima às fronteiras.

A questão é saber se o governo Lula desta vez vai se mexer ou ficar à espera de "um fato novo". Sou pela segunda opção.

O governo Lula trata com uma estranha conivência, para dizer o menos, o caldo de cultura terrorista que está sendo criado na América do Sul.

No final do mês passado o governo paraguaio prendeu vários brasileiros acusados de envolvimento no atentado ao senador paraguaio Robert Acevedo, em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia que faz fronteira com o Brasil. Os brasileiros seriam do PCC, o Primeiro Comando da Capital. O envolvimento do PCC em um atentado além das nossas fronteiras mostra que cresceu bastante o perigo que já existia.

Também no Paraguai atua um grupo de extrema-esquerda com atuação muito parecida com a das FARC e que, segundo denúncias, tem o apoio do grupo colombiano.

O estranho movimento armado de esquerda, auto-denominado Exército do Povo Paraguaio (EPP), seqüestra, pratica a extorsão e mata no Paraguai. O grupo seqüestrou e matou a filha do ex-presidente paraguaio Raúl Cubas.

Desde 2004 o governo Paraguaio tenta repatriar três líderes do tal EPP, para julgá-los por seqüestro. No Brasil os três também adquiriram o status de refugiados políticos. As relações do EPP com as FARC foram reveladas por e-mails encontrados no notebook de Raúl Reyes, líder das FARC morto há dois anos pelo Exército colombiano em território do Equador.

Além desses problemas, que envolvem o crime organizado e movimento armados de esquerda, temos também na área da tríplice fronteira a presença de militantes islâmicos ligados ao terrorismo internacional, algo que já vem sendo denunciada há bastante tempo. A Argentina já sofreu um grande atentado em julho de 1994 na associação judaica AMIA. Na explosão criminosa, cuja autoria ainda não foi esclarecida, morreram 85 pessoas. Mas de 300 ficaram feridas.

Mas o que o governo brasileiro pensa de tudo isso? Parte substancial de apoio ao terrorismo islâmico todo mundo sabe de onde vem e qualquer pessoa sensata sabe também que este tipo de problema não se resolve no olho no olho. É preciso atuação firme no plnao internacional. E o que vem acontecendo mostra que esta atitude é exigida também no plano interno. É óbvio que está por pouco a explosão desse problema no Brasil.

Mas quem vai convencer disso um governo que acredita que até questões atômicas podem ser resolvidas com uma conversa franca, no ridículo "olho no olho" de Lula?

E sobre as FARC a política do governo Lula é muito clara. Fingindo-se de mediador, o governo brasileiro na verdade atua ativamente na defesa do grupo terrorista.

Neste assunto a decisão é do assessor especial de Lula, Marco Aurélio Garcia, que age na área internacional com uma desenvoltura que chega a ser vexatória para o chanceler Celso Amorim. García não assessora nada, ele atua como se fosse o chefe do Itamaraty.

Em várias entrevistas, Garcia já deixou claro que o governo Lula vê as FARC como um movimento político. Em política externa, esta posição torna o Brasil um dos poucos parceiros do venezuelano Hugo Chávez, ao lado do boliviano Evo Morales e do equatoriano Rafael Correa.
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POR José Pires

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