domingo, 9 de maio de 2010

Caindo em armações

O PT costuma dizer que a imprensa é contra o partido. Não é bem assim, mas a criação de fantasmas é assunto prioritário num partido como o PT. Sem esses papos de combater a “imprensa burguesa”, a “direita”, etc., pode acontecer da militância começar a prestar atenção nas maracutaias de suas lideranças.

Mas é fato que a imprensa muitas vezes até favorece o partido. Hoje, por exemplo, a Folha de S. Paulo traz uma matéria que é um mimo para os interesses eleitorais do PT em São Paulo.

O título da matéria chama a atenção: “Com rejeição a Serra, sindicatos criam chapa híbrida Dilma-Alckmin”. Uma chamada dessas aguça a curiosidade da gente. Quem sabe a Folha não descobriu um fenômeno marcante entre o eleitorado paulista, não é mesmo?

Mas não é não é nada disso. No olho da matéria o jornalista já revela que a informação vem da Força Sindical, central de sindicatos que apóia ostensivamente a candidata do Lula. No primeiro de maio fizeram na capital uma de suas manifestações com sorteio de carros e casas, desta vez em forma de comício pró-Dilma. O difícil foi puxar aplausos para Dilma. O líder da central, Paulo Pereira da Silva, o notório Paulinho da Força, até que tentou, mas não teve jeito.

A matéria da Folha baseia-se em três entrevistas com sindicalistas, um deles identificado como filiado ao PDT, partido da base do governo Lula e que já fechou apoio à Dilma. Os outros dois devem ser também do PDT. E se não forem, são da Força Sindical, fechadíssima com Lula. O pedetista é Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo.

Torres gosta de Alckmin, mas não gosta do Serra, que ele diz não ser um governador de “diálogo” como foi Alckmin. Outro sindicalista ouvido pela Folha fala mais difícil. Diz ele que tem “um problema sistêmico com o Serra”. Nem vamos esquentar a cabeça para tentar entender o que isso quer dizer, mas, cá pra nós, esse tipo de descontentamento vindo desse setor pode fazer até quem não simpatiza com Serra para presidente começar a achar que pelo menos no governo estadual ele acertou.

A falta de atenção do Serra até deprime um dos sindicalistas, o Torres, da Força Sindical. Falando ao repórter, ele disse que tem o número do celular do Alckmin. Ué, com o Serra ele pode se comunicar pelo Twitter. O tucano está tão animado com este novo meio, que lá “fala” com todo mundo.

É evidente que o pessoal da Força Sindical tenta plantar notícia, o que é muito natural em época de eleição. O que é estranho é a Folha servir de terreno para uma abobrinha dessa. A idéia óbvia é taxar Serra como um político pouco acessível. E a matéria segue toda nesta linha e não se sustenta.

Só um leitor muito desavisado daria credibilidade a um papo desses vindo de sindicalistas partidários da candidata petista. Mais ainda: se esses partidários da Dilma pensam em fazer em São Paulo uma dobradinha com o tucano Alckmin e não com o petista Mercadante que má conseqüência isso traria para a candidatura Serra?

Nenhuma, pois de qualquer forma eles já estão com Dilma. O problema evidentemente é da candidata do Lula. A pauta está errada. Dilma é que está com dificuldade em criar uma unidade em São Paulo em torno de seu nome. O PMDB de lá já está com Serra. E pelo visto o PDT também não acredita na força da sua candidatura como puxadora de votos no estado.

E por uma razão simples: não é de hoje que o PDT vai mal em São Paulo. Com Lula para presidente em 2006 e ainda com Marta Suplicy disputando o governo estadual, os companheiros de Paulinho da Força fizeram no estado apenas três deputados federais. O PSDB fez 17, na cola da candidatura do “pouco acessível” Serra, que ganhou no primeiro turno.

Então não há nenhuma intenção de uma “chapa híbrida Dilma-Alckmin”. O que ocorre é que, pelo temor de diminuir ainda mais em São Paulo, o PDT pretende grudar em Alckmin e manter pelo menos os três deputados que já tem.

E é bom lembrar que na eleição de 2006 Paulinho não estava com a imagem enlameada como agora e com isso acabou servindo como puxador de votos o PDT emplacar três deputados. Só existe então um motivo para este plano de seu partido abandonar a candidatura oficial de Mercadante, grudando na de Alckmin de forma oficiosa. E não é só o descrédito de Mercadante. Eles também não vêem Dilma como um bom suporte eleitoral no estado.

A tal “rejeição a Serra” nada tem a ver com o assunto. A própria matéria mostra que o problema é com a Dilma e Mercadante. Ou será que alguém na Folha acredita que se o PDT fizer mesmo uma “chapa híbrida Dilma-Alckmin” haveria algum favorecimento para a candidatura Dilma? Só se for algum maluco.

Mas acabaram fazendo a maluquice de tentar jogar no colo do Serra um problema eleitoral que é da Dilma. E a gente ainda tem que agüentar essa conversa de que a imprensa é contra o PT.
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POR José Pires

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