quarta-feira, 26 de setembro de 2007

A banalidade do mal também está por aqui

Jornais e blogs brasileiros publicaram algumas fotos. Apareceu nos textos a velha expressão sobre a “a banalidade do mal”. Sempre há uma encenação aqui no Brasil em relação a atrocidades históricas ou mesmo contemporâneas ocorridas em outros países. Uma bomba no Iraque se destaca mais por aqui do que qualquer chacina em nossa periferia. O apresentador de TV com a cara compungida parece sofrer muito mais com as dores internacionais.

Na mesma semana em que era revelado o álbum dos oficiais de Auschwitz, oito pessoas foram mortas em uma chacina em Ribeirão Pires, na Grande São Paulo. Três homens entraram atirando em um bar. Depois de realizar os disparos, eles ainda atiraram na cabeça das vítimas. Desde janeiro foram mortas 88 pessoas em chacinas em São Paulo. Na capital foram dez casos, com 41 mortos e oito feridos. Em 2006, foram 39 chacinas com 136 mortos no estado.

Falar em “banalidade do mal” é coisa para país civilizado. Não é o nosso caso. Os oficiais nazistas refestelados na varanda estão na mesma posição de boa parte da nossa elite: o que se passa às minhas costas não é comigo. Enquanto o horror domina as periferias, a festa corre nos terraços sem nenhuma preocupação com a desgraça que toma conta do País – Lula, além disso, tem a Granja do Torto, onde faz suas churrascadas; e não pensem que estou particularizando responsabilidades em um partido: os tucanos também ficaram um bom tempo nessa boa vida.

Também é óbvio que não estou nivelando as responsabilidades daqui com as de Auschwitz. O campo de concentração vivia uma desgraça deliberada, resultado direto de um projeto de Estado. Nossa tragédia social tem fatores determinadores mais variados. Auschwitz não é aqui. Mas é semelhante o descaso das elites brasileiras com o sofrimento humano vivido por uma grande parcela da população.

Aqui no Brasil temos até as imagens bizarras de edifícios caríssimos com seus imensos terraços com piscina debruçados sobre favelas paupérrimas.

E também quanto a genocídios, que ocorrem ainda hoje, a posição do Brasil é muito mal. No final de 2006 o governo Lula ajudou a rejeitar na ONU uma resolução exigindo que governo do Sudão investigue pessoas denunciadas por abusos e mortes em Darfur. O Brasil se absteve, voto que valeu pela rejeição. O conflito étnico em Darfur já deixou 200 mil mortos e mais de dois milhões de refugiados. O governo do Sudão pratica matanças generalizadas entre a população civil.
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POR José Pires

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