quarta-feira, 26 de setembro de 2007

A morte comandou até o final

Em maio de 1944, Rudolf Hoess reassumiu o comando do campo, mas no cargo de supervisor geral. O comando direto passou a ser de Richard Baer, superior de Karl Hoecker, que elaborou o álbum de fotos. A partir daí os nazistas intensificaram seu plano de aniquilação dos judeus. Com o avanço dos aliados, temiam ser impedidos de terminá-lo.

Outro serviço também urgente era a destruição das provas do crime. Com a guerra já perdida, os líderes queriam apagar os indícios de suas responsabilidades para não terem que enfrentar seu próprio carrasco.

Queimaram listas de prisioneiros. Tudo que fosse incriminador devia ser eliminado. Equipes de prisioneiros trabalharam durante todo o mês de dezembro para desmontar os fornos crematórios. As covas foram abertas, os ossos e cinzas retirados para serem atirados no rio Vístula.

Quando o Exército Vermelho já estava para chegar a Auschwitz, os nazistas evacuaram os campos levando cerca de 60.000 prisioneiros marchando na neve. Cada um tinha a ração de apenas um dia. A maioria não tinha casacos nem cobertores. O prêmio Nobel Elie Wiesel estava nessa leva de desgraçados.

Os primeiros soldados das tropas libertadoras russas chegaram a Auschwitz em 27 de janeiro de 1945. No campo encontraram uns 7.500 prisioneiros semimortos que a SS havia considerado fracos demais para a marcha. Na verdade, não se sabe exatamente quantos sobreviveram em Auschwitz. As estimativas giram em torno de 30.000. O número de mortos também é impreciso: fica em torno de 1 milhão de pessoas. O que se tem como certeza é que em Auschwitz menos de 1% dos prisioneiros sobreviveu.

As fotografias dos nazistas em alegres folguedos no campo de concentração são desse tempo terrível. Já vi muitas outras fotografias dessa época. Quem não viu? São cenas chocantes de prisioneiros maltratados, homens e mulheres ultrajados, famintos, adoecidos pelos maus-tratos. São bem conhecidas também as fotos dos assassinados, dos cadáveres empilhados.

Porém, essas fotos dos oficiais e suas ajudantes femininas em alegres festas ou descansando e tomando sol nos terraços enquanto o horror ocorre no mesmo espaço em que confraternizam alegres e zombeteiros, essas fotos chocam tanto quanto aquelas. Ou talvez devêssemos nos horrorizar mais. Afinal, se assemelham ao retrato contemporâneo da nossa elite, uma elite folgazona que se diverte nos terraços do Brasil.
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POR José Pires

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