quarta-feira, 26 de setembro de 2007

A responsabilidade de cada um

Um problema histórico do nazismo é relativo à responsabilidade do povo alemão na política de extermínio. Em seu polêmico livro Os carrascos voluntários de Hitler, Daniel Jonah Goldhagen defende que o cidadão comum alemão transformou-se voluntariamente em carrasco.

A questão é sobre o peso das responsabilidades pessoais, além das coletivas, na ascensão dos nazistas na Alemanha e na colocação em prática de seu programa criminoso. Ou seja, independente do sistema injusto e cruel estabelecido pelos nazistas, qual é o peso de cada pessoa no crime coletivo? Segundo Ella Lingens, uma médica vienense mandada para Auschwitz em 1943 por ajudar judeus a fugirem da Áustria, “todos podiam decidir por si mesmos se seriam bons ou maus em Auschwitz”.

Um juiz de Nuremberg, que ouvira muitos oficiais nazistas justificarem seus crimes como vindo de “ordens de cima” ainda pediu a Dra. Lingens que confirmasse se ela afirmava isso mesmo. E ela confirmou. Um problema grave na humanidade é o número muito pequeno de homens com a coragem de dizer não. Outro problema, não menos grave, é a imensa quantidade de pessoas que se aproveitam da ocasião para extravasar ódios pessoais, preconceitos, ressentimentos ou mesmo para extravasar sua má índole.

Auschwitz viveu um curto período que parece dar razão à Dra. Lingen. Muitos depoimentos confirmam que a situação do campo de concentração melhorou um pouco durante o ano de 1943 e o início de 1944. Em seu livro, Otto Friedrich diz que uma das razões da mudança talvez tenha sido o fato de que Rudolf Hoess foi chamado de volta a Berlim para se tornar o inspetor dos campos de concentração. Em seu lugar, como comandante de Auschwitz, ficou o tenente-coronel da SS Arthur Liebehenschel, que assim que assumiu ordenou que 56 presos fossem soltos das solitárias, aboliu as celas de castigo onde o preso apenas podia ficar de pé, acabou com a pena de morte por qualquer tentativa de fuga e reduziu o poder de criminosos profissionais que funcionavam como “kapos”, ou chefes internos do lugar.
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POR José Pires

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