quinta-feira, 17 de julho de 2008

Do Planalto para o partido e vice-versa

O trânsito fácil do ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, que é empregado de Daniel Dantas e membro do Diretório Nacional do PT, nos altos escalões do governo petista é uma séria complicação para Lula e sua gente. Mesmo que não dê nada na Justiça, fato comum, pois por aqui coisas como essa nunca dão em nada mesmo, o desgaste político é terrível, mesmo que seja mais um escândalo, entre muitos que sujam a imagem de Lula e seu partido.

Há uma parte no diálogo entre Greenhalgh e o chefe-de-gabinete Gilberto Carvalho, no célebre telefonema grampeado pela PF, que é muito revelador do papel do partido na ingerência nos negócios de Estado. Greenhalgh diz a Carvalho que estará no dia seguinte na reunião “do diretório”, que só pode ser o Diretório Nacional do PT, do qual o primeiro faz parte. Carvalho diz que também estará lá, o que soa estranho, pois além de não fazer parte do Diretório Nacional do partido, não seria aconselhável misturar sua condição de assessor direto do presidente da República com os interesses do partido. Como virou moda falar, mas que é o certo mesmo, isso não seria nada republicano.

Nesta caso cai por terra até o distanciamento que Lula pretende mostrar entre governo e partido, uma distância que ele busca destacar especialmente para jogar na responsablidade do partido todo escândalo político. O engodo, que já era claro, tem até uma comprovação como essa, do chefe-de-gabinete do presidente Lula participando em reuniões do Diretório Nacional. Ou Carvalho foi até lá apenas para tomar um cafezinho na ante-sala?

O que uma conversa dessas comprova é que a força política de Greenhalgh para usar a máquina do governo federal em favor de seu chefe, Daniel Dantas, tem como base essencial os laços partidários entre ele e o chefe-de-gabinete da presidência da República e outros integrantes do alto escalão do governo petista, inclusive com o próprio Lula. Portanto, na conversa grampeada pela PF é em um detalhe com peso político aparente menor que está a chave para entender a instrumentalização do Estado feita pelo PT.

Carvalho se defende dizendo que atendeu Greenhalgh como atenderia a qualquer outro, mas sabemos que sem o uso da máquina partidária nenhum dos dois, ele e Greenhalgh, sequer estariam nos cargos que ocupam e muito menos haveria a impressionante interação entre ambos em um negócio que só agora veio à público e à força de uma investigação policial. Este conúbio partidário pode ser, inclusive uma boa explicação para a naturalidade da conversação entre os dois, objetiva e desembaraçada, como se já houvesse um anterior entendimento sobre esta e outras questões ainda não conhecidas.

Daniel Dantas, no caso, é o maior beneficiado, claro. Tem a seu favor a influência de líderes partidários nos negócios de Estado e nem precisa participar das chatas reuniões do PT. Não deixa de ser mais uma grande vantagem.
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POR José Pires

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