quarta-feira, 23 de julho de 2008

Justa homenagem

Em Carazinho, no Rio Grande do Sul, a Câmara de Vereadores local aprovou uma homenagem a um prostíbulo. Bem, até aí tudo bem, sendo coerência um valor raro em políticos, uma homenagem da Casa legislativa a uma, digamos assim, Casa “recreativa” da cidade deveria causar espanto é pela expressão de caráter tão incomum na classe. A dos políticos, digo. Mas não, tem gente que não gostou.

E a homenagem envolve uma Casa com certa tradição na cidade, a de prostituição, claro. Como o prostíbulo já tem nove anos, algum significado cultural, e até moral, por quê não?, ele deve ter na cidade. Além disso sabemos que os nove anos da casa certamente contam com um lastro histórico no qual não conta apenas esse ou aquele estabelecimento. Não, o que vale é o todo da atividade, o peso peso cultural qua a Casa apenas simboliza. E a Casa estou falando do prostíbulo parece até bacana, em estilo mais à antiga. Fica fora da cidade, a cerca de cinco quilômetros do centro, e é toda pintada de vermelho.

E a homenagem pelo jeito foi destinada a uma velha representante da classe (atenção, é a dona do prostíbulo), Maria Gorete Souza, da Danceteria Garotas da Gogo. “Gogo” deve ser ela, claro, apelido carinhoso que alguns cidadãos de Carazinho devem murmurar até com um certo carinho.

Eu disse “recreativa”? Ponha recreativa nisso. Pois leiam um trecho do texto aprovado na sessão de 15 de julho que chegou a nós: “Externamos nossas congratulações a esta empresa e toda sua equipe de funcionárias que proporcionam momentos de descontração aos clientes”. Então por aí vocês vêem que lá em Carazinho chamam isso de “descontração”, o que não deixa de ser uma boa desculpa para chegar em casa de madrugada: “O que é isso, mulher? Eu estava apenas me descontraindo com os amigos”.

O vereador autor da proposta é um tucano, um tucano saidinho, o que é raro. E o estranho, como eu dizia, é a polêmica que que a homenagem causa em Carazinho que, pelo que se lê no diário gaúcho Zero Hora, parece ter uma comunidade que zela pela moral. Há cerca de um mês um vereador chegou a discursar contra a abertura de supermercados no domingo porque “provocaria a desestruturação da família”.

E aí até concordo. Muito mercado desestrutura de fato a economia da família, o que hoje em dia não é pouca coisa. Mas é de estranhar que haja gente descontente com a homenagem ao negócio de Maria Gorete Souza, a Gogo, e suas meninas. Sabemos que não é possível contentar a todos em assunto algum, mas os cidadãos de Carazinho deviam aplaudir seus representantes. Não é sempre que essa gente se aplica nessas questões de coerência.
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POR José Pires

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